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Publicação mensal da S.A. Media Holding . Fevereiro de 2011 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR DESENVOLVIMENTO Indústria agroalimentar espreita oportunidades TURISMO Qualificador tem como alvo Recursos Humanos FISCALIDADE Arrecadação fiscal cresce, mas persiste dependência externa Nº 38 . Ano 04 GESTÃO E CONTABILIDADE Um olhar sobre a responsabilidade da liderança na gestão do pessoal ResenHA juRídicA Responsabilidade das transportadoras aéreas face a atrasos e perdas de bagagem DOSSIER Agricultura comprometida pelas cheias TURISMO Metade dos empresários “driblam” impostos OPINIÃO As erradas ambições monetárias de África ARmAndo inRogA, em entRevistA MOÇAMBIQUE TEM DE PRODUZIR MAIS ARmAndo inRogA, em entRevistA MOÇAMBIQUE TEM DE PRODUZIR MAIS MOZAMBIQUE HAS TO PRODUCE MORE

Revista Capital 38

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Publicação mensal da S.A. Media Holding . Fevereiro de 2011 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR

DESENVOLVIMENTOIndústria agroalimentarespreita oportunidades

TurISMOQualificador tem como alvo Recursos Humanos

FISCALIDADEArrecadação fiscal cresce,mas persiste dependência externa

38 .

Ano

04

gESTãO E CONTAbILIDADEum olhar sobre a responsabilidadeda liderança na gestão do pessoal

ResenHA juRídicAresponsabilidade das transportadoras aéreas face a atrasos e perdas de bagagem

DOSSIErAgricultura

comprometidapelas cheias

TurISMOMetade dos

empresários “driblam” impostos

OPINIãOAs erradas ambições

monetárias de África

ARmAndo inRogA, em entRevistA

MOçAMbIquE TEMDE PrODuzIr MAIS

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DOSSIERA solução está nas infraestruturasde gestão de água18

EMPRESAS

26 Higest regista uma evolução significativa

SUMÁRIO

dossier TURISMO EMPRESAS

18 24 26

DESENVOLVIMENTO

16

Persiste o risco de perda de colheitas devido às cheias e secas que ciclicamente com-prometem as campanhas agrícolas em Moçambique. Cardoso Muendane, especialis-ta da área, diz que a partir de já tem de haver o investimento em infraestruturas de água. Analisou também os programas de financiamento para a agricultura.

Arsénia Sithoye nem precisou de ‘tapar o nariz’ para espreitar o “Galinheiro,” e des-cobrir o segredo por detrás da actual velocidade na criação do frango em Moçam-bique. O director da Higest, Manuel Rocha, abriu a receita de criação das aves e a mesma está exposta nas páginas desta edição.

ÍNDICE DE EMPRESAS E ORGANIZAÇÕES

PORTUGAL TELECOM (PT), p 09PORTO DE NACALA, BANCO CENTRAL, p 10THE HERITAGE FOUNDATION, WALL STREET JOURNAL, FMI, BANCO MUNDIAL, SFI, p 12CONSULTORA DALBERT, p 16ADDAX BIOENERGY, AGROILS, JATROPHA AFRICA, SCAN FUEL, ENI, SUN BIOFUELS, ACAZIS, D1 OILS, AFROILS COR-PORATION, CAM, VERUS MOÇAMBIQUE, p 17USAID, BANCO MUNDIAL p 20ZZ2, p 21

CDTUR p 22. 24CDTUR, PEMBA BEACH HOTEL, p 25HIGEST, CEPAGRI, BCI p 26MERCOSUR, ASEAN, BOLSA DE VALORES DE JOANESBURGO, p 29INSTITUTO NACIONAL DE COMUNICAÇÕES DE MOÇAMBIQUE, p 41YOUNG NETWORK, p 42TAP., LAM, MOZA BANCO, EDM, p 45ATM, p 46TOYOTA, INTERCAMPUS, p 55NDJIRA, LEYA, BCI, p 60

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Há que despertar para a produção

ÍNDICE DE ANUNCIANTES

TDM, p 02AP CAPITAL, p 03MOZABANCO, p 04HOTEL AFRIN, p 05TRASSUS, p 08GESSER, p 11

DCC-TIGA, p13PHC, p 15 BCI, p 23RADISON, p 31TV RECORD, p 40PUBLIREPORTAGEM BCI, p 47

ERNEST & YOUNG, p 54PWC, P 57REAL SEGUROS, p 59EDITORA CAPITAL p 61TIM p 63TDM p 64

7

ENTREVISTA

EMPRESASArrecadação fiscal cresce,mas persiste dependência externa

32

46

SUMÁRIO

EMPRESAS RECORTE tecnologias EMPRESAS

26 29 41 55O ministro da Indústria e Comércio, Armando Inroga, abriu as portas do seu Minis-tério deixando que a Capital fosse o primeiro órgão de informação a entrevistá-lo. O mesmo escavou bem fundo na sua análise sobre os sectores que dirige. Focalizou as estratégias de industrialização, os mecanismos de financiamento e ainda falou das oportunidades que o País tem no mercado internacional no presente ano.

A alta de arrecadação fiscal traz ambições cada vez maiores. A ATM pretende co-lectar 73.274 milhões de meticais em 2011, depois da colecta recorde de 2010, que se cifrou em 63.419 milhões de meticais. Mas ainda não se pode abrir a garrafa de “champanhe” porque os valores não permitem que Moçambique dispense a ajuda externa para o Orçamento Geral do Estado.

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Moçambique na ‘berlinda’

1.Os laivos da crise económica levam a que os investidores europeus, e sobretu-do os de origem portuguesa, estejam interessados nos mercados emergentes e no continente africano, de uma forma particular. A Europa assume-se, cada vez mais, como um foco económico saturado e as parangonas dos media não o des-

mentem. Como tal, as investidas dos empresários do velho continente são inúmeras e frequentes nos mercados ainda abertos, sendo que Moçambique também não foge à regra nem às frequentes ‘investidas’ das empresas lusas.Senão vejamos… a PT ainda se mantém atenta à privatização da Mcel. Diz-se, a propósito, que perdeu uma batalha, mas que não perdeu a guerra. Mesmo após ter sido vencida no concurso para a terceira licença móvel pelo consórcio Movitel, formado pela vietnamita Viettel e pela moçambicana SPI, a operadora portuguesa continua a querer entrar na Mcel, cuja abertura de capital está prevista para breve e que irá abranger uma aliciante fatia de 4 milhões de clientes. A perda da batalha para a Viettel é vista como um ‘mal menor’ e Zeinal Bava, o timoneiro da PT, nunca escondeu as suas ambições de entrar no mercado moçambicano (ou não fosse ele também um filho desta terra). Na mesma senda de investimento, a PT entra na gigante brasileira OI e aposta forte em África, e como não podia deixar de ser, no nosso País.

2. A mira dos negócios hoje é tão certeira que traz ao território missões diplomá-ticas, parcerias empresariais e constantes visitas de ex-ministros, ex-secretários de Estado - além dos grandes e pequenos empresários portugueses - que apro-veitam os ‘vapores dos lobbies’ encetados aquando das suas actividades políti-

cas para investir em negócios rentáveis. Ele é vê-los a circular nos corredores dos hotéis de prestígio e nos sussurros dos observadores mais atentos que lá vão nomeando os seus empreendimentos. Surgem relatos de apostas no sector turístico, da energia e da agri-cultura e agro-indústria, sendo que Portugal se mantém na posição cimeira no que diz respeito à origem do IDE (Investimento Directo Estrangeiro).

3. Em termos de IDE, a indústria surge em terceiro lugar após os serviços (2.º) e ao sector da agricultura e agro-indústrias (1.º). O sector industrial ainda carece de investimentos no que concerne à transformação e à exportação de produtos e o País ainda exporta produtos por processar, garantindo pouco retorno de

capital, ao mesmo tempo que importa os mesmos produtos (depois de transformados) a preços elevados. O desafio interno mantém-se na produção massiva, na melhoria da cadeia de valor, na aposta às PME e na formação profissional.Perante a eminência do aumento sucessivo de preços dos bens alimentares no merca-do global bem como da dificuldade da sua distribuição, nos próximos tempos, este ano deveria constituir uma grande oportunidade para Moçambique na diversificação da sua exportação face à conjuntura internacional. Mas, de acordo com o titular da Indústria e Comércio (em entrevista nesta edição), tal ainda não acontece porque o PAPA (Plano de Acção para a Produção de Alimentos) ainda não está na sua ‘velocidade cruzeiro’ e nem a produzir os resultados para os quais foi criado. Ou seja, muito há ainda por melhorar.c

9EDITORIAL

fevereiro 2011 revista capital

Propriedade e edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Av. Mao Tse Tung, 1245 – Telefone/Fax (+258) 21 303188 – [email protected] – director geral: Ilidio Bila – [email protected] – directora editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sithoye - [email protected]; Sérgio Mabombo – [email protected] – secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected]; cooperação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM, INATUR, INTERCAMPUS – colunistas: António Batel Anjo, E. Vasques; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rita Neves, Rolando Wane; Rui Batista; Sara L. Grosso, Va-nessa Lourenço – Foto capa: Luis Muianga; Fotografia: Luís Muianga, gettyimages.pt, google.com; – ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Paginação: Benjamim Mapande – design e grafismo: SA Media Holding – tradução: Alexandra Cardiga – departamento comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – impressão: Brinrodd Press – distribuição: Nito Machaiana – [email protected]; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: N.º 046/GABINFO-DEC/2007 - tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

FICHA TÉCNICA

Helga [email protected]

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revista capital fevereiro 2011

EM ALTA

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EM bAIXA

BOLSA DE VALORES CAPITOON

COISAS QUE SE DIZEM…

Afinal…ainda há bocas sem filtro«Os Portugueses são o povo mais atrasado da Europa porque há séculos que se misturam com negros.»,

national vanguard tabloid (jornal inglês), citado pelo escritor mia couto

Puro egoísmo«Os Fundos de Iniciativa Local (vulgo sete milhões) são para barrigudos»,

denúncia popular, feita na província de Zambézia no âmbito de uma reunião pública orien-tada pelo governador local, itae meque. A denúncia defende que o beneficiário dos sete milhões é a burguesia local que tem familiares ou amizades junto ao conselho consultivo distrital de mopeia, responsável pela concessão dos fundos

esgotou a paciência… veio o ultimatum«O Governo de Moçambique irá cancelar o contrato de concessão com os Caminhos de Ferro da Beira (CCFB) se as obras da linha de Sena não ficarem concluídas até 24 de Março.»,

Rosário mualeia, em reacção ao incumprimento dos prazos pela ccFB (cujo accionista maio-ritário é a indiana Riccon), que desde 2004 trabalha na reabilitação da linha férrea de sena

imposição ocidental?«As nossas crianças das cidades conhecem mais facilmente as histórias da Branca de Neve e os sete anões do que as nossas mitologias.»,

Lourenço do Rosário, reitor da universidade A Politécnica, em análise ao cenário de forma-ção da sociedade cultural moçambicana

solução de emergência ou emergente?«Município autoriza circulação de “Chapas” sem licença em Maputo»,

jornal “o País,” analisando a decisão da Policia municipal de liberar a circulação dos trans-portes semi-colectivos de passageiros como forma de mitigar a carência que se verifica no sector

POrTO DE NACALA

O Porto de Nacala na província de Nampula atin-giu em 2010 o seu recorde na movimentação de carga contentorizada, ao manusear um total de 71.112 TEUs, superando em 34 por cento a quanti-dade movimentada em 2009. O aumento da carga reforça o estatuto do porto como uma das plata-formas giratórias de contentores na zona austral de África. A funcionalidade do Porto já despertou atenção suficiente à navegação internacional, que já encara seriamente a possibilidade de investir na parte infraestrutural do porto de modo a que este constitua uma alternativa sólida ao de Durban.

bANCO DE MOçAMbIquEO Banco Central defende haver um ambiente eco-nómico propício para que o País renegoceie os contratos com o megaprojectos. Deste modo, o Banco de Moçambique traz uma nova abordagem, que vai ao encontro da visão de muitos analistas economistas. Moçambique corre o risco de “ten-sões sociais” caso não haja a revisão dos benefícios dos grandes investimentos. A solução passa por renegociar os contratos que foram assinados com as multinacionais. Na óptica do Banco, Moçambi-que deve investir no Know-how técnico que lhe permita renegociar com profundidade, sem que o facto signifique instabilidade ou alguma imprevi-sibilidade legislativa.

SECTOr DOS TrANSPOrTESO sector dos transportes rodoviários na cidade de Maputo e Matola verificou um retrocesso corres-pondente a duas décadas. O projecto de barcos para a baia de Maputo não resultou, facto aliado a um estudo de viabilidade pouco profundo, na óp-tica de analistas do sector. O impacto positivo ini-cialmente esperado da iniciativa das automotoras ainda não se faz sentir. O Ministério que regula o sector não consegue solucionar o problema, mes-mo no âmbito de parcerias com o sector privado que, por sua vez, reclama pouco lucro no sector e demais incentivos. Enquanto o regulador avança com ensaios, experiências, estudos de viabilida-de… as paragens de autocarros ficam cada vez mais abarrotadas de citadinos carentes de solu-ções sólidas em matéria de transportes.

INVESTIMENTO ESTrANgEIrO

Cidadãos estrangeiros investem menos em Mo-çambique. Somente 30 por cento das empresas é que beneficiam do Investimento Directo Estran-geiro (IDE). A restante percentagem corresponde aos investidores que não satisfazem as exigências feitas às empresas de capitais estrangeiros. O sec-tor industrial tem beneficiado de poucos projectos resultantes do IDE, facto que agrava o problema da transferência de tecnologias para o referido sector. As políticas são pouco exigentes no que concerne ao reinvestimento de capitais em Moçambique, segundo advogam os analistas económicos.

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MUNDO NOTÍCIAS12

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guINÉ FMI e Banco Mundial apoiam perdãoda dívida

Os conselhos de administração do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Asso-ciação Internacional de Desenvolvimento (AID) do Banco Mundial (BM) decidiram apoiar um alívio da dívida externa da Gui-né-Bissau no valor de 1,2 mil milhões (1,2 biliões TAP., LAM, MOZA BANCO, EDM, p 45) de dólares.Segundo um comunicado de imprensa do Ministério das Finanças publicado no fi-nal de uma missão do FMI a Bissau, “esse alívio reduz significativamente o volume da dívida da Guiné-Bissau e surge na se-quência dos progressos conseguidos nos últimos anos no sentido de reforçar a ges-tão macroeconómica”.A nota refere que o Conselho Executivo do FMI levou a cabo a primeira avaliação do acordo ECF (instrumento concessional destinado aos países com poucos recursos) para a Guiné-Bissau e concluiu que o de-sempenho económico no âmbito do pro-grama apoiado pelo ECF tem sido satisfa-tório e as autoridades têm prosseguido as reformas estruturais.A missão do FMI, que deverá regressar a Bissau em Março com o objectivo de ava-liar o desempenho da economia no âmbito do ECF, disse estar satisfeita com o empe-nho das autoridades na implementação do seu programa de reformas que visam pro-mover o crescimento económico e reduzir a pobreza.

NIgÉrIA Pais quer figurarentre os 20 paísesmais industrializadosdo mundo

A Nigéria deverá investir seis biliões de dó-lares americanos no sector da electricidade como forma de alcançar o objectivo de se tornar num dos 20 países mais industriali-zados do mundo até 2020, segundo anun-ciou o vice-ministro da Energia, Nuhu Somo Wya, durante uma visita ao comple-xo hidroelétrico de Jebba, no norte do país.«Não devemos deixar aos nossos filhos como herança o pântano económico e so-cial no qual se encontra o sector da ener-gia nem a situação caótica em que vive-mos atualmente. Que se limitem a tomar conhecimento desta situação nos livros de história», declarou o governante nigeria-no, citado pela Panapress.O mesmo indicou que o Governo não po-derá assumir sozinho esta situação e que será necessária a intervenção de algumas megainstituições financeiras como a Socie-dade Financeira Internacional (SFI).A Nigéria regista dificuldades de abasteci-mento eléctrico recorrentes devido a uma produção insuficiente de quatro mil mega-watts para uma população de 150 milhões de habitantes.

CAbO VErDE Subida em flechano Índicede Liberdadeda Economia

Cabo Verde está à frente de alguns países europeus como a Eslovénia, a Polónia, Por-tugal, a Itália e a Grécia e é também o mais bem classificado da Comunidade dos Paí-ses da Língua Portuguesa (CPLP) e da Co-munidade Económica dos Estados da Áfri-ca Ocidental (CEDEAO). Subiu 2,8 pontos no ano passado no Índice da Liberdade da Economia, colocando o arquipélago em terceiro lugar no continente africano após as ilhas Maurícias e o Botswana.O Índice de Liberdade da Economia, pro-duzido e publicado anualmente pela “The Heritage Foundation” e pelo “Wall Street Journal”, visa medir os progressos dos pa-íses quanto às reformas e às liberdades na economia, incluindo a liberdade fiscal, os gastos (investimentos) do Governo, a liber-dade (segurança) monetária e a liberdade de investimentos.Segundo a porta-voz do Governo e minis-tra da Juventude e da Presidência do Con-selho de Ministros, Janira Hopffer Alma-da, a posição de Cabo Verde no Índice da Liberdade da Economia prende-se com as reformas institucionais e legais implemen-tadas nos últimos 10 anos no arquipélago.O Governo de Cabo Verde considera que essa melhoria do país é o resultado das medidas implementadas para a melhoria do ambiente de negócios, com realce para a criação da Casa do Cidadão e a sua mul-tiplicação por vários pontos do país e na diáspora cabo-verdiana.No seu relatório «Doing Business 2011», o Banco Mundial classificou Cabo Verde entre os 10 países do mundo que mais re-formas introduziu entre Junho de 2009 a Setembro de 2010, visando a melhoria do ambiente de negócios.

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MOÇAMBIQUE NOTÍCIAS

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bANCA Medidas do BancoCentral para o controlo da inflação

Em Janeiro, a CTA tomou conhecimento da decisão do Comité de Política Monetá-ria do Banco de Moçambique (CPMO) em reforçar as medidas anticíclicas de refrea-mento da propagação do choque inflacio-nário em 2011, tendo com efeito alterado as taxas de referência, nomeadamente a de facilidades Permanentes de Cedência e de Depósito em 100 pb, para 16,5% e 5%, respectivamente e o coeficiente de Reserva Obrigatória em 25 pb para 9,0%, a partir de período de constituição, que inicia no dia 7 de Fevereiro de 2011. Após consultas feitas aos seus membros, a nível nacional, a CTA enviou ao Banco de Moçambique, uma carta contendo as prin-cipais preocupações e receios do sector pri-vado nacional quanto às medidas aprova-das pelo CPMO. O sector privado entende que as medidas em causa poderão afectar sobremaneira o desempenho do sector privado, em particular o sector produtivo, pois poderão ter impacto nas taxas de juros praticadas pelos bancos comerciais e, con-sequentemente, poderá reduzir ou quebrar também as decisões de investimento pri-vado na economia devido ao aumento do custo de financiamento. Tal situação poderá provocar, por sua vez, uma redução da competitividade das in-dústrias nacionais e o consequente aumen-to de importações (bem como a procura de moeda convertível), causando uma nova pressão cambial sobre o metical que pode-rá degenerar num novo ciclo inflacionário.

SEgurANçA ALIMENTAr Nova lei americana sobre segurançaalimentar

O presidente dos EUA, Barack Obama, assinou a nova versão da Lei sobre a Se-gurança Alimentar. A Lei irá obrigar os importadores americanos de produtos ali-mentares estrangeiros a certificar que os produtos em causa satisfazem os requisi-tos de segurança alimentar da «Food and Drug Administration». A FDA será tam-bém autorizada a inspeccionar instalações de processamento de alimentos em países estrangeiros e proibir as importações de empresas estrangeiras que não preenchem os requisitos ou se recusam a realizar as inspecções. Estas novas disposições não terão um impacto significativo sobre as im-portações de açúcar bruto, mas podem-se tornar relevantes para o açúcar refinado e derivados do açúcar.

TrANSPOrTES Aeródromode Vilankulos inicia operações em Abril

A empresa Aeroportos de Moçambique prevê que o novo aeródromo de Vilankulos, uma construção de raiz orçada em cerca de 10 milhões de dólares norte-americanos, deverá ficar pronto entre finais de Feverei-ro e princípios de Março, e iniciar as opera-ções formalmente em Abril.A implantação desta infraestrutura é a resposta do Governo à exigência imposta pelo substancial crescimento turístico, so-bretudo, internacional, que se regista nos últimos anos na província de Inhambane.O aeródromo de Vilankulos vai ser o maior e o mais moderno do país nesta categoria. Os operadores turísticos já o consideram uma plataforma giratória importante para lançar e desenvolver mais os seus negócios.Paulo Zucula, ministro dos Transportes e Comunicações, em visita de trabalho, clas-sifica-o de aeroporto turístico. As maiores fontes de rendimento estão nas estâncias turistas de alta renda, situadas nas praias paradisíacas do Arquipélago de Bazaruto, onde se “refugiam” para lazer, longe da imprensa, personalidades internacionais, nomeadamente príncipes, magnatas, mo-delos, jogadores de futebol de alta compe-tição, especialmente da Europa e América, mas também de África, que chegam a pagar qualquer coisa como 7.500 dólares norte-americanos por uma diária base.

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DESENVOLVIMENTO ÁFRICA16

revista capital fevereiro 2011

Indústria agroalimentarespreita oportunidades

«Na vizinha Suazilândia, a britânica D1 Oils suspendeu

a expansão da produção de jatropha, devido aos

protestos promovidos pelo músico activista Bob

Geldof e em Moçambique, investidores procuram 4,8

milhões ha para produzir biocombustíveis. A extensão

chega aos 183 mil ha e os interesses vêm dos mais

variados países: Portugal, Reino Unido, Alemanha,

Canadá, Ucrânia e Itália.»

Todos querem um pedaço daquele que é o grande espaço do mundo, com potencia-lidades agrícolas, baixa exploração e pre-ços aliciantes.

Os grandes investidores internacionais, as principais corporações de indústria agroalimentar, os fundos de investimento associados a multimilionários e numero-sas empresas produtoras de energia estão com os olhos postos nas terras africanas.

O continente tem 12% da terra arável de todo o mundo, mas apenas 20% desta está cultivada e só 7% é irrigada. Com o cresci-mento da população mundial e a mudança de hábitos alimentares de alguns dos pa-íses emergentes, a procura de alimentos poderá ser o grande negócio deste século. Existe aqui uma enorme oportunidade de desenvolver e comercializar a produção destas terras, abrindo vastas possibilida-des de ganhar dinheiro. Uma gestora de um dos fundos que já está a operar neste mercado admitiu que «as apostas agríco-las em África estão a dar 25% de margem de lucro». Segundo a consultora Dalberg, especializada nos mercados africanos, no

final do terceiro trimestre deste ano, exis-tiam cerca de 50 fundos de investimento interessados em aplicar verbas superiores a 1,5 milhões de euros em terrenos agrí-colas no continente africano, ao longo dos próximos três anos. A procura está a avan-çar em quase toda a África subsariana, mas as preferências dos investidores en-contram-se actualmente focadas na África do Sul, Zâmbia, Quénia, Nigéria, Senegal e Moçambique.

Desde 2007, foram aprovados 815 pro-jectos agrícolas em países da África Sub-sariana. E muitos dos respectivos promo-tores arrendaram as terras por… um dólar por hectare ao ano. Mas não são apenas razões económicas que estão por detrás destes investimentos. A Arábia Saudita, por exemplo, um dos maiores produtores de trigo do Médio Oriente, reduziu a sua produção em 12% por ano, transferindo as colheitas para África, de forma a pou-par um dos bens mais escassos do país: a água. E não é só a produção de alimentos que está a provocar esta nova corrida à conquista de terras em África. O aumen-to do preço e da procura dos combustíveis fósseis também tem a sua quota-parte de responsabilidade neste processo. Uma das maiores procuras de terras em África tem como objectivo a produção de biocombus-tíveis. Em 2009, estavam plantados, em todo o continente, 14,7 milhões de hecta-res de palmeiras para produção de óleo de palma, o que corresponde a um aumento de mais de 400% em apenas 20 anos.

A nova colonização no continente

Numa visão algo breve ao que se passa em termos económicos no continente afri-cano, no que diz respeito à indústria agro-alimentar, e com maior incidência para os estados do centro e do sul, o panorama é florescente. Na Serra Leoa, a empresa suíça Addax Bioenergy está a produzir cana-de-açúcar numa área de 26 mil hec-tares (ha). No Gana, a empresa italiana Agroils comprou 105 mil ha de terra. A Jatropha Africa, com sede em Inglaterra, controla 120 mil ha. Os israelitas da Gal-ten adquiriram 100 mil ha. Os noruegue-ses da ScanFuel já têm 10 mil ha e estão a negociar a compra de mais 400 mil. Uma

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17DESENVOLVIMENTO ÁFRICA

Indústria agroalimentarespreita oportunidades

Quem alimentao mundoAgricultores tradicionais – 50%Indústria alimentar – 30%Caçadores/recolectores – 13%Agricultura urbana – 8%

vez no Benim, denota-se que o país quer converter 300 mil hectares em 400 mil ha de zonas húmidas em enormes plantações de palmeiras para produzir óleo de palma. Mesmo ao lado, na Nigéria, o estado com capitais estrangeiros já comprou mais de 100 mil ha de terra para produzir biocom-bustíveis. Abaixo da Nigéria, mais con-cretamente nos Camarões, um consórcio franco-camaronês concessionou 58 mil ha de terra, durante 60 anos, para produzir óleo de palma.

Em Angola, 500 mil ha existem actual-mente para a produção de agrofuels, com interesses de empresas brasileiras, espa-nholas, angolanas e sul-africanas e, no Congo, uma empresa chinesa está a tentar comprar 1 milhão de ha, ao passo que os italianos da ENI querem produzir óleo de palma em 70 mil ha. Na Etiópia encontra-se prevista a produção de cana-de-açúcar em 700 mil hectares. A Jatropha é pro-duzida em 23 mil ha. A Sun Biofuels, do Reino Unido, cultiva 5 mil ha, e os alemães da Acazis arrendaram 56 mil ha com au-torização para concessionar mais 200 mil ha. Um pouco mais abaixo, no Quénia, japoneses, belgas e canadianos possuem projectos para cultivar 500 mil hectares de terra. Na Tanzânia, cerca de um milhar de agricultores de arroz foram obrigados a deixar as suas terras para dar lugar à ex-pansão da cultura da cana-de-açúcar. Na vizinha Suazilândia, a britânica D1 Oils suspendeu a expansão da produção de jatropha, devido aos protestos promovi-dos pelo músico activista Bob Geldof e em Moçambique, investidores procuram 4,8 milhões ha para produzir biocombustí-veis. A extensão chega aos 183 mil ha e os interesses vêm dos mais variados países: Portugal, Reino Unido, Alemanha, Cana-dá, Ucrânia e Itália.c

moçambique debaixo d’olhoem termos de investimento

No sector de Agricultura e Agro-indús-trias, Moçambique também se destaca pela implementação de alguns projectos de remonta, de acordo com dados avan-çados pelo Centro de Promoção e Investi-mentos (CPI).

A empresa Afroils Corporation possui um projecto no valor de 96.000.000 de dólares, cujo objecto é o cultivo de palma para extracção de óleo vegetal destinado à exportação, no distrito de Nangade (na província de Cabo Delgado), prevendo empregar 1.417 cidadãos moçambicanos. Já a CAM – Companhia Agro-empresarial de Moçambique, tem um projecto orçado

em 60.000.000 dólares, tendo como mis-são o cultivo da cana-de-açúcar e outras culturas alimentares para comercializa-ção, a implementar no distrito de Guijá (Gaza), com perspectivas de criação de 766 postos de trabalho; e a Verus Moçam-bique prevê um empreendimento estima-do em 50.203.750 dólares, que se dedi-cará à produção de jatropha curcas para a produção de óleo vegetal e à instalação de uma refinaria de óleo para a produção de bio-combustível, no distrito da Matola, na província de Maputo, onde criará 1.819 postos de emprego.

Aliás, a Agricultura e Agro-indústrias fa-zem parte dos três principais sectores que acolheram maior volume de investimento directo estrangeiro em Moçambique.c

fevereiro 2011 revista capital

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revista capital fevereiro 2011

“A solução está nas infraestruturas de gestão de água”Professor Doutor Cardoso Muendane, especialista em matérias ligadas à agricultura, defende o investimento na edificação de infra-estruturas de gestão das águas, como forma de potenciar a agricultura em Moçambique, para além de conter os efeitos de fenómenos como as cheias e secas.

«É que a chuva e a seca são, de facto, as duas principais

calamidades deste país e ocorrem ciclicamente. Os

principais instrumentos de gestão de água são as barragens e os regadios. Para uma determinada

terra, o factor principal que influencia o rendimento da

maior parte das culturas é a água na dosagem e na hora

certa, o que significa rega controlada. Mas no nosso

País, os agricultores, em geral, não utilizam qualquer

tipo de rega (96.4%). Mais de 90% da agricultura de Moçambique é realizada pelo sector familiar sem capacidade para investir

em regadios e, por isso, o seu desenvolvimento passa necessariamente pelo apoio

directo do Estado.»

Para o académico Cardoso Muendane, situação semelhante a das actuais cheias tem-se repetido diversas vezes no nosso país com as consequências já conhecidas: perdas de culturas,isto é, prenúncio de fome; subida dos preços, em geral, e dos produtos alimentares, em particular. O risco de perda de colheitas na agricultura de sequeiro excede os 50% na região sul do Rio Save, atingindo mais de 75% na província de Gaza. Nas regiões Centro e Norte o risco de perda de colheita, em ge-ral, diminui para níveis de 5% a 30%”. O impacto directo das cheias de 2000 sobre a produção agrícola pode ser avaliado pela redução da produção de milho, o cereal mais produzido em Moçambique. A pro-dução de milho em 2000 reduziu em 18% devido às cheias. A recuperação da produ-ção nacional foi lenta e só foi conseguida à partir de 2003.

“Nos casos graves, como o do ano 2000, que talvez se repita no presente ano, as cheias tiveram efeito na redução do PIB, por afectarem a produção e o consumo de produtos agrícolas, aumentarem as im-portações e reduzirem as exportações. Os investimentos tanto do Governo como do sector privado também foram afectados. E a solução para este grave problema tam-

18 DOSSIER

bém é conhecida: gestão das águas. Atra-vês da retenção de água nas épocas chu-vosas e sua utilização nas épocas secas. É que a chuva e a seca são, de facto, as duas principais calamidades deste país e ocor-rem ciclicamente. Os principais instru-mentos de gestão de água são barragens, diques e regadios. Para uma determinada terra, o factor principal que influencia o rendimento da maior parte das culturas é água na dosagem e na hora certa, o que significa rega controlada. Mas, no nosso país, os agricultores, em geral, não utili-zam qualquer tipo de rega (96.4%). Mais de 90% da agricultura de Moçambique é realizada pelo sector familiar sem capaci-dade para investir em regadios e, por isso, o seu desenvolvimento passa necessaria-mente pelo apoio directo do Estado. Por isso, as infra-estruturas mais importantes para a agricultura são aquelas relaciona-das com a gestão da água. Estima-se em 120,000 hectares (ha), o que corresponde a 3.3 % da área potencial, a terra equipada para a irrigação e desta, somente 35,000 ha (cerca de 0.1% da área potencial) estão em operação. Dada a limitação das infra-estruturas de gestão de água a produção agrícola está dependente de condições cli-máticas, numa situação em que os ciclos

Zonas Agro ecológicas Precipitação mm/ano

NomeR1 Semi-arida Interior Sul 570

R2 Semi-arida Costeira Sul 500-600

R3 Arida Interior Sul 400-600

R4 Media-elevação Central 1000-1200

R5 Costeira Central 1000-1400

R6 Semi-arida seca: Zambézia e Tete 500-800

R7 Interior Central e Norte 1000-1400

R8 Costeira Norte 800-1200

R9 Interior Norte de Cabo Delgado 1000-1200

R10 Elevada altitude >1200

Fonte: Instituto de Investigação Agrária de Moçambique

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“A solução está nas infraestruturas de gestão de água”

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MAPUTO

GAZA

INHAMBANE

MANICA

SOFALA

TETE

ZAMBEZIA

NAMPULA

CABO DELGADO

NIASSA

periódicos de secas e cheias são caracte-rísticos dos principais rios do país. A es-cassez de infra-estruturas é agravada pelo facto de cerca de 60% da água superficial (principal fonte para a agricultura irri-gada) ser proveniente de rios internacio-nais”, defende o académico.

Para o Professor Muendane, a solução dos problemas da agricultura e a imple-mentação da revolução verde passa pela recuperação das infra-estruturas de ges-tão de água existentes e pela edificação de novas infra-estruturas nas regiões onde se mostrem necessárias.

“Dir-me-ão que as infra-estruturas de gestão de águas são caras! Mas os diver-sos programas de apoio à agricultura que não tocam o fundo da questão já gastaram rios de dinheiro, sem qualquer efeito vi-sível na produção agrícola (o rendimento por hectare das principais culturas nacio-nais mantém-se mais ou menos constante desde há meio século). E se não começar-mos agora a atacar o problema serão mais Moçambicanos afectados pela seca e pelas cheias previsíveis no futuro. É que ainda não há alternativa à agricultura para a produção de alimentos básicos… Se pelo menos deixássemos às futuras gerações si-nais claros de que percebemos o problema e iniciámos o caminho da sua resolução… E a tendência é de piorar a situação actual com as mudanças climáticas em curso no Mundo”, conclui o economista.c

CHEIAS

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revista capital fevereiro 2011

Actividade agrícolacomprometida pelas cheiasO Instituto Nacional de Meteorologia informou, entre finais de 2010 e princípios deste ano, que a época chuvosa, na qual nos encontramos, seria mais acentuada. Os atentos já faziam ideia do que isso significava, mas os desatentos foram surpreendidos pelo aumento do nível do caudal dos rios, pelas perdas de culturas diversas, pelos cortes de algumas vias de comu-nicação e por outros efeitos calamitosos, característicos deste fenómeno.

A época chuvosa marca o início de todos os anos em Moçambique. Não acontece de modo diferente porque o clima assim o determina, e, desta forma, 2011 não foi excepção à regra.

Tendo em conta a conjuntura na qual a agricultura é desenvolvida no País, este período é bem-vindo, aliás, a ocorrência de chuvas é um dos elementos fundamen-tais para o cultivo da terra. O plano de produção é elaborado tendo em conta a queda de chuvas em regime normal. Como tal, qualquer anormalidade reflecte-se em impactos significativos nos resultados es-perados, até porque a produção agrícola nacional depende, fundamentalmente, das condições climáticas.

A presente época chuvosa está a registar níveis de precipitação elevados, situação que se traduz em inundações nas regiões sul e centro do País. No caso da zona sul, onde parte significativa do potencial agrí-cola está concentrado na província Gaza, as esperanças de obter resultados satis-fatórios na presente campanha vão dimi-nuindo à medida que mais e mais hectares vão ficando submersos. Como resultado da nossa vulnerabilidade e dependência das condições climáticas, os dígitos dos números das toneladas previstas para as diversas culturas vão diminuindo. E tendo em conta que a época chuvosa só termina em Março, o valor dos prejuízos ainda é desconhecido e o nível de incumprimento da maioria das metas traçadas para a pre-sente campanha agrícola só será conheci-do depois do regresso à normalidade.

As cheias de 2000

Como consequência das cheias de 2000, os preços dos alimentos aumentaram substancialmente durante e depois do fe-nómeno. As províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala e Manica foram as mais afectadas pelas cheias.

De acordo com as primeiras avaliações

pós-cheias, citadas pelo relatório de “Ava-liação de Impacto: Actividade de Doação para o Reassentamento da População”, os prejuízos directos e indirectos para a eco-nomia de Moçambique atingiram os 600 milhões de dólares, incluindo: perdas de bens, 273 milhões de dólares; redução da produção, 247 milhões de dólares; redu-ção das exportações, 48 milhões de dóla-res; e aumento de importações para con-sumo, 31 milhões de dólares.

As cheias provocaram uma queda grave do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,5%, em 1999, para 1,6%, em 2000. A infla-ção atingiu os 12,7%, em 2000, contra os 2,9% de 1999, e a taxa de câmbio sofreu uma brusca depreciação a uma taxa anu-al de 28,2% ao ano em 2000, acima dos 7,7% registados em 1999, de acordo com dados plasmados no Orçamento de Estado de 2002.

O relatório refere que os danos provoca-dos pelas cheias afectaram grandes áre-as de produção agrícola no sul e centro de Moçambique, resultando na perda de culturas e criação animal e em danos em infraestruturas e equipamentos agrícolas. Pelas estimativas do Banco Mundial, os prejuízos atingiram quase 58 milhões de dólares no sector agrícola e 8 milhões de dólares no sector pecuário. Destes, 47% decorreram de prejuízos causados a pe-quenos proprietários, principalmente em culturas anuais e criação animal.

Tendo em conta os efeitos nefastos das cheias de 2000, é possível traçar o cenário que Moçambique viveria, se assistissimos a uma réplica do fenómeno este ano.

(in)segurança alimentar

De acordo com a “Perspectiva da Segu-rança Alimentar em Moçambique – Outu-bro de 2010 a Março de 2011”, um docu-mento elaborado pela USAID, a situação de segurança alimentar durante a campa-nha agrícola 2009/10 foi afectada por con-

dições agroclimatéricas adversas (início tardio das chuvas, longos períodos de es-tiagem e condições de seca) nas zonas cen-tro e sul do País, afectando negativamente a produção agrícola a nível familiar. As-sim, na avaliação da vulnerabilidade a ní-vel nacional, realizada em Agosto de 2010, o SETSAN/GAV estimou que cerca de 350 mil pessoas vão precisar de assistência ali-mentar, entre finais do ano passado e as colheitas em Março de 2011.

As zonas de maior preocupação locali-zam-se ao longo da Bacia do Zambeze e no interior das províncias de Gaza e Inham-bane. Ocorre que parte significativa destes pontos está a ser afectada pelas cheias, comprometendo mais ainda a segurança alimentar da população local.c

«A presente época chuvosa está a registar níveis de precipitação elevados, situação que se traduz em inundações nas regiões sul e centro do País. No caso da zona sul, onde parte significativa do potencial agrícola está concentrado na província Gaza, as esperanças de obter resultados satisfatórios na presente campanha vão diminuindo à medida que mais e mais hectares vão ficando submersos»

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Moçambicanoslegalizados nas ‘farmas’ da RAS

21MERCADO TRABALHO

Um total de 1.291 moçambicanos que trabalhavam ilegalmente em farmas sul-africanas conseguiram resolver a sua situ-ação durante o ano de 2010, após o Gover-no moçambicano, através do Ministério do Trabalho, em coordenação com a Embai-xada moçambicana na República da África do Sul (RAS), ter feito um trabalho nesse sentido junto das autoridades migratórias e das entidades patronais locais.

Este número representa uma subida de 14,72%, relativamente ao ano de 2009. A Delegação do Ministério do Trabalho mo-çambicano na República da África do Sul (RAS) tem, actualmente, nos seus registos oficiais um total de 6.688 moçambicanos a trabalharem legalmente no sector agrí-cola, maioritariamente nas farmas loca-lizadas nas províncias de Mpumalanga e Limpopo.

Trata-se de um processo que o Governo moçambicano tem vindo a levar nos últi-mos anos, visando minorar o sofrimento dos concidadãos, bem como combater o emprego precário, porque os mesmos têm sido muitas vezes expostos a injusti-ças e ao oportunismo após atravessarem a fronteira nacional para aquele país, ilegal-mente, à busca de emprego, alguns deles acabando por parar nas mãos das autori-dades migratórias e, consequentemente, repatriados sem os seus ganhos.

Contudo, acredita-se que este universo não espelha toda a mão-de-obra moçam-bicana no sector agrícola sul-africano, uma vez que muitos moçambicanos dia-riamente atravessam, e de forma ilegal, a fronteira nacional para aquele país vizi-nho.

Dos 6.688 moçambicanos empregues no sector agrícola na RAS, um total de 5.397 conseguiram renovar os seus contratos de trabalho no ano passado, enquanto os 1.291 fizeram-no pela primeira vez. Muitos outros, já identificados, ainda não conse-guiram regularizar a sua situação por di-versas razões, como a falta de documen-tação pessoal, a partir do país de origem, dificultando assim a triagem, bem como o receio de que as brigadas que realizam esse trabalho os possam denunciar como ilegais junto das autoridades sul-africanas.

trabalhadores agrícolas não têm as mesmas condições que os mineiros

Importa salientar que enquanto a ida de trabalhadores moçambicanos para o sector mineiro sul-africano é totalmente

legal, facilitado pelo Acordo bilateral de 1964, o mesmo não acontece em relação ao sector agrícola, na sua maioria, mas mes-mo assim, Moçambique tem conseguido alguns memorandos e acordos pontuais no âmbito da cooperação existente entre os dois países para a formalização de em-pregos dos seus cidadãos naquele país.

Durante a visita efectuada pela minis-tra do Trabalho, Maria Helena Taipo, às empresas agrícolas sul-africanas que em-pregam moçambicanos, em Abril do ano passado, de forma unânime as entidades patronais mostraram-se dispostas, e sem pré-condições, a colaborar com o Gover-no moçambicano na legalização dos seus trabalhadores, reconhecendo que na falta desse procedimento legal também se viam prejudicados, em termos de cumprimento de planos produtivos, sobretudo em caso de acções das autoridades competentes vi-sando impor o cumprimento das medidas migratórias locais. A entidade patronal do maior empreendimento agrícola sul-afri-cano e actual líder mundial na produção de tomate, a ZZ2, em Limpopo, por exem-plo, disse à ministra do Trabalho que, face à excelente qualidade da mão-de-obra mo-çambicana, colaboraria na legalização de mais trabalhadores, incluindo no aumento da actual fasquia na empresa, situada em mais de mil moçambicanos. Nas minas sul-africanas, Moçambique conta actual-mente com cerca de 42 mil trabalhadores, legalizados.c

«A entidade patronal do maior empreendimento agrícola sul-africano e actual líder mundial na produção de tomate, a ZZ2, em Limpopo, por exemplo, disse à Ministra do Trabalho que, face à excelente qualidade da mão-de-obra moçambicana, colaboraria na legalização de mais trabalhadores deste país, incluindo no aumento da actual fasquia na empresa, situada em mais de mil moçambicanos. Nas minas sul-africanas, Moçambique conta actualmente com cerca de 42 mil trabalhadores, legalizados.»

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TURISMO RECURSOS HUMANOS22

Qualificador do turismo tem como alvo os recursos humanos

Sérgio Mabombo [texto]

O qualificador de ocupações de hotelaria e turismo, recentemente homologado pelo Ministério do Trabalho, irá colmatar a la-cuna na qualidade dos recursos humanos que laboram na área do turismo nacional, segundo o líder do sector, Fernando Sum-bana.

Enquanto o mercado turístico no pano-rama internacional se revela cada vez mais agressivo, no que concerne às relações pú-blicas e demais conhecimentos relativos ao sector, a nível interno verifica-se uma incipiente formação técnico-profissional, facto que deixa o País numa desvantagem competitiva mesmo a nível da Região da SADC. Entretanto, com o qualificador, os cerca de 33.350 profissionais enquadrados nos 5.330 estabelecimentos de hotelaria e turismo em Moçambique passam a benefi-ciar de uma progressão na carreira, feita de forma transparente e de acordo com as suas competências.

O qualificador tem como base os valores e padrões internacionais de turismo que se orientam para a satisfação dos trabalhado-res do sector. Os referidos padrões compre-endem igualmente o processo de selecção e recrutamento do staff, sendo que a poste-rior progressão na carreira toma em consi-deração o perfil do funcionário, a formação profissional, o desempenho e a qualidade de vida.

O actual qualificador de ocupações de

hotelaria e turismo, ao valorizar os fun-cionários do sector difere do primeiro (o aprovado em 1988) que não tomava em consideração a especialização do funcioná-rio. A chefe do departamento de Recursos Humanos do Ministério do Turismo, Paula Chauque, que falava durante a cerimónia de apresentação do instrumento realizada em Maputo, defende que só com a valori-zação da mão-de-obra é que o País se pode tornar no destino turístico largamente am-bicionado.

No novo contexto que se abre, os profis-sionais da área do turismo passam a iniciar o estágio mais cedo, por forma a ganharem a experiência que lhes é exigida no sector. Para o efeito, o sector poderá empregar (a título de aprendiz) jovens entre os 15 e 18 anos, que tenham perdido a frequência escolar do curso diurno. «A aposta em jo-vens na referida faixa etária no sector do turismo poderá favorecer a aquisição de experiência por parte dos funcionários», segundo Paula Cahuque.

A pouca formação que se verifica nos re-cursos humanos do sector do turismo na-cional é apontada como a principal limita-ção para que os empreendedores nacionais apresentem uma qualidade total na sua oferta de serviços. A CDTUR, (Associação de Hotelaria e Turismo de Cabo Delgado), através do seu presidente, Chabane Combo, afirma que caso o sector tivesse profissio-

nais à altura da concorrência a nível Austral de África, o turismo iria trazer outro impac-to na economia nacional. Entretanto, os as-sociados não deixam de questionar o facto de existir o fundo de iniciativas locais (vul-go sete milhões), sem, no entanto, notarem o seu contributo na área de formação.

O qualificador de turismo resulta de um trabalho conjunto entre o Ministério do Trabalho (MITRAB), o Ministério do Tu-rismo, o Sindicato do ramo (Sindicato Na-cional dos Trabalhadores da Indústria Ho-teleira, Turismo e Similar - SINTIHOTS) e o sector privado representado pela Associa-ção das Confederações Económicas de Mo-çambique (CTA). c

«Com o qualificador, os cerca de 33.350 profissionais enquadrados nos 5.330 estabelecimentos de hotelaria e turismo em Moçambique passam a beneficiar de uma progressão na carreira, feita de forma transparente e de acordo com as suas competências.»

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24 TURISMO CABO DELGADO

Cabo Delgado terá150 mil turistas por ano

A província de Cabo Delgado terá 150 mil turistas anuais a partir de 2013, segundo as projecções da Associação de Hotelaria e Turismo (CDTUR), na voz do seu presi-dente, Chabane Combo.

A principal ameaça para o alcance da meta passa pelas actuais estratégias do Executivo que, segundo a CDTUR, se en-contram orientadas para o turismo de alto rendimento, facto que contrasta com a re-alidade local.

A Associação entende que a província ainda não está preparada para o turismo de alto rendimento porque o seu mercado é limitado. «Tem que se investir em ins-tâncias turísticas de baixa renda, mas com qualidade», segundo o presidente da CDTUR que é de opinião de que as Zonas de Interesse Turístico (ZIT) foram conce-bidas somente para hotéis de luxo, acessí-veis ao segmento de turistas de alta ren-da. As ZITs poderiam oferecer um maior impacto económico ao País se tivessem em consideração os alvos de média renda, constituídos por turistas maioritariamen-te nacionais que se encontram disponíveis ao longo de todo ano. «Nem todo o turis-ta quer hotel de cinco estrelas», observou Chabane Combo. Mediante o facto, os empreendedores defendem que precisam de incentivos para explorarem o turismo doméstico, que consideram ser o que mais alimenta o sector.

Por sua vez, o turismo de alto rendimen-to em Cabo Delgado ainda não reúne o número desejável de turistas porque as políticas ainda não identificaram que tipo de motivação se deve oferecer para que haja maior afluência a este destino. O al-cance dos 150 mil turistas por ano poderá conhecer a sua efectivação, se de facto até 2013 a província diversificar o seu pacote turístico e aproveitar em pleno as suas po-tencialidades.

Uma aposta no ecoturismo afigura-se uma alternativa que pode ser bastante rentável para o sector. No entanto, este sub-sector beneficia de uma menor aten-ção no seio dos programas locais. A obser-vação vem a propósito das ZITs estarem muito viradas para o investimento no tu-rismo de praia. Os operadores turísticos defendem que o turista estrangeiro escala-ria Moçambique motivado em ter um alo-jamento próximo das quedas do rio Lúrio, do Parque das Quirimbas, entre outros ex-libris, que são locais onde se pode estar em contacto com espécies animais típicas da região.

Alias, é um dado adquirido que Moçam-bique como destino Safari já marca em termos mundiais. A existência dos big-five em Moçambique, de uma forma geral, constitui o factor motivador mais do que a “existência de praias lindas”, um mote repetidamente cantado nos programas na-

cionais de turismo. Nesta óptica, investir em alojamento e outro tipo de infraestru-turas próximas dos espaços destinados a safaris beneficiaria bastante as populações locais, uma experiência que vem demons-trando um impacto único no Parque Na-cional de Gorongosa.

Os operadores turísticos questionam o facto da província de Cabo Delgado, mes-mo possuindo praias virgens, com parques atractivos como o das Quirimbas e do Ne-gumane, e com vastas potencialidades de turismo cultural possua apenas 1.300 ca-mas.

Por outro lado, muitos turistas são unâ-nimes e partilham da ideia de que Pemba é um destino excessivamente caro. A “ele-vada factura” é o principal factor que des-capitaliza os operadores turísticos de Cabo Delgado, segundo os mesmos. Actualmen-te, são muitos os turistas que pretendem visitar Pemba, mas não o fazem devido a questões que se prendem com os valores das tarifas aéreas, cujo montante se asse-melha ao valor de uma viagem de ida e vol-ta à Europa. Para a solução do problema, a CDTUR sugere a liberalização das com-panhias aéreas, a ampliação do aeroporto local e fazer um uso sustentável do Porto de Pemba, cuja vantagem principal é a capacidade de receber navios de qualquer porte devido à natureza da sua profundi-dade.c

Sérgio Mabombo [texto]

CaboDelgado

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25TURISMO RECEITAS

Metade dos empreendedores “driblam” impostos do turismo

Cinquenta por cento dos 146 estabeleci-mentos turísticos que operam na área tu-rística na província de Cabo Delgado são ilegais, facto que representa uma perda na colecta de impostos que o Executivo devia cobrar, mas que não o faz.

A fuga ao fisco, segundo alguns operado-res turísticos explica-se pelo facto do sec-tor beneficiar de poucos incentivos, sobre-tudo para o caso do investidor nacional. A fase de implantação do negócio envolve muito investimento, o que aliado ao paga-mento de avultados impostos não possibi-lita que os empreendimentos vinguem no mercado. Por outro lado, o crédito para o sector do turismo é escasso. O fundo de iniciativas locais, vulgo “sete milhões” não contempla de uma forma clara o turismo, segundo desabafa Chabane Combo, presi-dente da Associação de Hotelaria e Turis-mo de Cabo Delgado (CDTUR).

Os Associados do sector do turismo em Cabo Delgado verificam com uma certa re-volta que Moçambique é o país cujas polí-ticas oferecem poucos incentivos ao inves-tidor nacional. O facto tem como impacto a colecta de menos lucro, contrariando a expectativa colocada no sector. Como con-sequência, os funcionários do sector do tu-rismo recebem magros salários, que con-trastam com os praticados na maioria dos países da região SADC, que na sua maioria oferecem valores três vezes superiores.

Actualmente, Cabo Delgado tem experi-mentado um crescimento acelerado nos investimentos turísticos. O referido inves-timento cifra-se, actualmente, em mais de 30 milhões de dólares no universo dos ca-pitais aprovados e executados em Pemba, Macomia, Montepuez, Wimbe e Pangane. Os investimentos são de origem diver-sa, com destaque para a Arábia Saudita, França, Inglaterra, Espanha, Portugal, Jugoslávia, África do Sul, entre outros. O maior investimento até então aprovado e executado é de origem saudita e está orça-do em 11 milhões de dólares. O mesmo foi aplicado na construção do Pemba Beach Hotel, na cidade de Pemba.

O Executivo ainda está no processo de análise de cerca de 13 projectos que pode-rão conhecer o seu aval ainda no presente ano.

Em termos de capacidade de alojamento, Cabo Delgado possui uma média de 1409 quartos e 1.300 camas - distribuídas pelos 146 estabelecimentos turísticos espalha-dos pela província. A maior capacidade

pertence ao complexo Turístico Nautilus, situado na praia do Wimbe, com 129 ca-mas correspondentes a 76 quartos, segui-do pelo Pemba Beach Hotel com 126 quar-tos correspondentes a 62 quartos de luxo.

A componente organizacional é um as-pecto difícil de ignorar no sector do turis-

mo em Cabo Delgado. A província empre-ga actualmente mais de duas mil pessoas, mas desconhece-se a contribuição destas na balança de pagamento.c

Sérgio Mabombo

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EMPRESAS MATOLA26

Higest regista uma evolução significativaA agro-indústria tem ganho espaço no mercado nacional e o negócio do frango (carne mais consumida na praça) tem sustentado várias famílias moçambicanas. A Higest impulsionou esta área com a sua entrada no país há 15 anos e hoje existem muitos pequenos criadores, pequenas empresas de agro-indústria e, consequentemente, ovos e frango nacionais em gran-des quantidades nos mercados e supermercados.

A Higest formalizou o seu investimento em Moçambique em 1991, com cerca de cinco milhões de dólares provenientes de Portugal. A fase de investimento finalizou em 1995 com o término da construção da fábrica e o início da produção de ração.

A grande demanda de pintos para criar por parte dos produtores e as condições não favoráveis em que o frango importa-do chega ao País fizeram com que a Higest construísse, em 1998, o primeiro centro de incubação, apostando assim na produção de pintos.

Com a expansão do centro de incubação,

entre 2000 e 2001, a Higest respondeu às exigências do mercado. Mais tarde, pas-sou a operar não só na área de produção de rações e pintos, mas também na área de venda de vitaminas e vacinas para ani-mais, tendo criado os seus próprios pon-tos de venda onde colocavam todos os seus produtos.

Segundo o director da Higest, Manuel Rocha de Almeida, no 1.º Fórum Nacional de Avicultura organizado pela sua empre-sa em 2007, o segundo em 2008 e o tercei-ro em 2009, criou-se uma certa interacção com o público avicultor e notou-se a neces-

revista capital fevereiro 2011

sidade da existência de um matadouro que fosse capaz de dar estabilidade ao merca-do. Decidiram então arrancar com esse de-safio e criaram uma marca, tendo lançado um leque de produtos relacionados com a carne de frango (mix de porções), o que constituiu novidade no mercado nacional, e ao mesmo tempo lhes valeu o prémio de empresa com maior inovação.

O Mix de Porções trata-se de um produ-to que veio facilitar a vida do consumidor que não queria comprar uma galinha in-teira, mas sim descongelar apenas a par-te do frango que pretendia preparar. «As pessoas gostaram e acabaram por valori-zar bastante este produto. Por outro lado, é um produto muito competitivo porque o preço é muito mais barato do que o im-portado. Fica mais barato comprar um quilo de mix de porções do que comprar um quilo de frango importado», afirmou Manuel Rocha de Almeida.

O matadouro permitiu à Higest suprimir as necessidades encontradas no mercado, pois antes da construção do mesmo os consumidores queixavam-se da fraca ima-gem do frango produzido em Moçambique no que concerne à embalagem que era ex-posta nos supermercados. Este facto veio a mudar com a nova linha de produção da Higest, em que o frango apesar de ser congelado tem pouco tempo de fabrico em relação ao importado oferecendo maior segurança ao consumidor. «Hoje você vai aos supermercados e tem orgulho em ver um produto feito em Moçambique com aquele aspecto agradável. Portanto, as pessoas identificaram-se muito e nós con-seguimos juntos satisfazer e ao fim ao cabo superar este desafio».

Por outro lado, a existência do matadou-ro tem proporcionado aos criadores uma estabilidade nos seus preços, evitando a oscilação do preço do produto no merca-do, o que deixou de acontecer desde 2009. «A grande vantagem do nosso matadou-ro para os avicultores é que nós equili-bramos muito o mercado, porque antiga-mente muitos criavam frangos mas não tinham matadouro e tinham que man-dá-los para o mercado do vivo, fazendo concorrência uns com os outros. Hoje as

Arsénia Sithoye [texto] Luis Muianga [fotos]

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fevereiro 2011 revista capital

27EMPRESAS MATOLA

Higest regista uma evolução significativapessoas ficam tranquilas, nós levantamos o frango dos aviários, pagamos o preço acordado e tratamos de tudo até ao su-permercado».

De referir que o respectivo matadouro foi parcialmente destruído aquando das manifestações de 1 e 2 de Setembro, onde ocorreu a destruição de equipamentos bem como saques. Como consequência, houve uma quebra na oferta, devido à paralisação temporária dos trabalhos. A empresa ainda não se recompôs dos danos que foram orçados em cerca de 600 mil dólares.

em 15 anos, a evolução foi notável

A empresa foi acumulando uma série de produtos durante os 15 anos em que opera em Moçambique, nomeadamente rações para várias espécies animais, sejam suí-nos, bovinos, aves, cães, coelhos, pintos, além das vacinas, medicamentos, caixas para transporte de frangos, caixas para transporte de pintos. Por outro lado, foi implementada a produção de uma variada gama de carne de frango, desde o mix de porções aos peitos com ossos, filet, fran-go inteiro, meio frango, patas e miudezas, que segundo Manuel Rocha de Almeida constituiu um boom no mercado e marcou grande diferença, sendo que representa uma mais-valia para a empresa. «Estamos também a ensaiar outro produto que é a

galinha temperada», acrescentou.Aquele dirigente classifica de importante

a evolução que a Higest teve desde 2005: «Há uma grande evolução nestes anos todos, porque partimos de uma posição inicial em que só fazíamos ração e hoje já fazemos o pinto, a ração, os frangos que são criados em Moçambique são abati-dos, embalados e colocados em super-mercados moçambicanos para que todos possamos comprar e comer. Portanto, é uma evolução interessante».

Actualmente, está a ser feito um trabalho mediado pelas autoridades, onde a Higest, os importadores e outras pequenas em-presas de agro-indústria se unem no sen-tido de encontrar um ponto de equilíbrio entre aquilo que é a procura e a oferta de carne de frango.

«Por exemplo, temos ideia de qual é que é habitualmente o consumo em Janeiro. Em Setembro ou Outubro, juntamo-nos e fazemos a previsão da procura para o mês de Janeiro. Se a procura for de 1.000 toneladas, e vamos todos juntos produzir para Janeiro 700 toneladas, então é pre-ciso que os importadores importem 300 toneladas para juntar às nossas para podermos satisfazer todos», explicou o director da Higest. O mesmo responsável acrescentou ainda que o processo está a funcionar de forma agradável, que as par-tes têm honrado com os compromissos e que os avicultores se encontram satisfeitos

com os resultados atingidos. Questionado se Moçambique poderia

ser mais competitivo no mercado de avi-cultura chegando ao nível de poder im-portar, aquele dirigente respondeu que a grande prioridade é abastecer o mercado nacional e prosseguiu: «Nós temos a con-vicção que Moçambique rapidamente vai ser bastante autónomo, agora, não existe nenhum sistema em que não haja impor-tação. Atingir um nível em que já é capaz de produzir 70% ou 80%, isso somos ca-pazes.»

Linha de crédito e programade integração com a griffe da Higest

Existe uma linha de crédito do Fundo de Desenvolvimento Agrário do CEPAGRI em parceria com a Higest, especificamente para o apoio aos avicultores no acesso ao crédito, que é gerida pelo Banco Comercial e de Investimentos (BCI). O fundo é adqui-rido através de um processo candidatura que tem de ser aprovado pelo banco e pela Higest, sendo supervisionado pelo CEPA-GRI, e, posteriormente, é disponibilizada a verba que é justificada pela quantidade de ração e pintos por adquirir.

A empresa tem prestado um acompanha-mento técnico gratuito tanto aos aviculto-res que beneficiaram do crédito, como aos que produzem por conta própria. O mes-mo acontece com os técnicos do banco e

«Existe uma linha de crédito do CEPAGRI em parceria com a Higest, especificamente para o apoio aos avicultores no acesso ao crédito, que é gerida pelo Banco Comercial e de Investimentos (BCI). O fundo é adquirido através de um processo candidatura que tem de ser aprovado pelo banco e pela Higest, sendo supervisionado pelo CEPAGRI, e, posteriormente, é disponibilizada a verba que é justificada pela quantidade de ração e pintos por adquirir.»

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«Por outro lado, a Higest possui um programa de integração onde é

fornecido ração e pintos ao criador para produzir, e, mais tarde, reembolsar o valor. Para a selecção dos

integrados pesam critérios de credibilidade como o

histórico da pessoa em relação ao comportamento

com as empresas, a ausência de dívidas com fábricas

e outras instituições, ter capacidade de trabalhar com

a avicultura, ter condições como infraestruturas, entre

outras informações.»

EMPRESAS MATOLA28

do CEPAGRI que efectuam visitas apenas aos avicultores que se candidatam ao cré-dito a fim de verificar as condições reais em que os avicultores trabalham.

Acompanhamento integrado

Por outro lado, a Higest possui um pro-grama de integração onde é fornecido ração e pintos ao criador para produzir, e, mais tarde, reembolsar o valor. Para a selecção dos integrados pesam critérios de credibilidade como o histórico da pes-soa em relação ao comportamento com as empresas, a ausência de dívidas com fábri-cas e outras instituições, ter capacidade de trabalhar com a avicultura, ter condições como infraestruturas, entre outras infor-mações.

O acompanhamento ao integrado é rigo-roso, havendo visitas constantes onde são verificados os resultados e as medidas de produção dos integrados. Essas informa-ções são introduzidas num sistema desen-volvido internamente para a avaliação que lança alarmes, caso algo não esteja a correr bem com um determinado integrado.

«É um projecto bom, temos casos bons de pessoas que honram com os compro-missos e é nisto que nos devemos concen-trar e, evidentemente, não nos podemos deixar desmoralizar por alguns casos de insucesso», sublinha.

Questionado se a Higest já se ressen-te com a subida da cotação dos cereais e,

Ano Volume de Vendas Percentagem

2008 305,263,757.35

2009 447,371,102.71 47%

2010 715,703,275.65 60%

consequentemente, do preço de rações a nível mundial, Manuel Rocha de Almeida referiu que apesar do preço das matérias-primas ter uma oscilação diária, a empre-sa não passa essa oscilação para o cliente, o que significaria uma alteração diária de preços. «Quando o preço sobe, somos obrigados a sacrificar a margem até de-terminados limites mas é evidente que, de

vez em quando, temos que fazer ajustes.»Outro problema apontado por aquele di-

rigente relativo aos preços tem a ver com o mercado cambial, pois com a desvaloriza-ção do metical (que no ano passado atingiu o pico de 20%), o valor da compra e im-portação da matéria-prima não compensa o que pode levar à mexida dos preços.c

Evolução do volume de vendas

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«De facto, o actual entusiasmo relativamente à união monetária demonstra um fraco registo das anteriores tentativas ocorridas no continente para o conseguir de uma forma pacífica. Uma moeda comum implica um acordo unificado e centralizado de políticas fiscais e monetárias. Mas isto implica integração política, que, tal como demonstraram as dificuldades sentidas este ano com o euro, é algo difícil de alcançar entre os Estados-membros.»

fevereiro 2011 revista capital

29RECORTE UNIÃO MONETÁRIA

As erradas ambiçõesmonetárias de ÁfricaSanou Mbaye*

A África Subsariana está a dar seguimento à mania da união monetária. Grupos re-gionais de países no leste, sul e ocidente de África consideram prioritária a ideia de criar uma união monetária. Mas não ouvi-mos já antes falar disto em África?De facto, o actual entusiasmo relativamen-te à união monetária demonstra um fraco registo das anteriores tentativas ocorridas no continente para o conseguir de uma forma pacífica. Uma moeda comum impli-ca um acordo unificado e centralizado de políticas fiscais e monetárias. Mas isto im-plica integração política, que, tal como de-monstraram as dificuldades sentidas este ano com o euro, é algo difícil de alcançar entre os Estados-membros.Antes de o euro ter aparecido no panora-ma financeiro internacional em 1999, os únicos exemplos de países com moedas únicas eram neocoloniais francófonos de África, e exemplos do século XIX, tal como as uniões monetárias da América Latina e da Escandinávia.A criação do franco CFA, que dá à França o controlo de 65% das reservas cambiais dos países CFA, combinava a convertibilidade monetária com uma paridade altamente sobrevalorizada – primeiro com a moeda indexada ao franco francês e agora o euro – bem como barreiras comerciais. Isto apenas conduziu a défices estruturais, ele-vadas fugas de capitais e, em 1994, a uma desvalorização de 100%.Todavia, apesar das dificuldades que afec-taram o CFA (e depois o euro) – de facto, apesar da ausência de uniões aduaneiras regionais viáveis (excepto na Comunidade da África Oriental), já para não falar de mercado único – os africanos continuam a manter uma forte fidelidade à ideia de uma moeda única.É uma ideia deslocada. Nesta fase do seu desenvolvimento económico, com as aten-ções centradas na exportação de ‘com-modities’, a prioridade dos países africa-nos deveria ser a integração económica a longo prazo, e não a moeda única. Aqui, o euro não é o modelo a seguir, mas sim o Mercado Comum do Sul da América Lati-na (Mercosur) e a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Ambos os grupos regionais conseguiram, com a re-dução das barreiras comerciais, alcançar um verdadeiro catalisador do crescimento

económico.Os países membros do Mercosur adop-taram uma estratégia que dá prioridade à criação de uma área de comércio livre. Foram totalmente claros ao estabelecerem uma forte burocracia orçamental, deixan-do aos ministérios correspondentes a res-ponsabilidade de gerirem o acordo.Em 2008, as exportações intra-regionais do Mercosur, ascenderam aos 41,6 biliões de dólares, mais 28,4% que em 2007. O comércio externo para o Paraguai, Argen-tina e Brasil dentro da área correspondeu, respectivamente, a 65%, 33% e 15% das exportações totais.A outra grande vantagem deste tipo de agrupamento regional tem sido a capa-cidade de atrair investimento directo es-trangeiro (IDE). Desde inícios da década de 1990, o Mercosur conseguiu mobilizar 5,9% das receitas mundiais de IDE.Em 2008, atraiu um valor recorde de 56 biliões de dólares de IDE, um aumento de 31,5% face ao valor de 2007. Além do mais, o investimento cruzado entre os paí-ses membros do Mercosur conduziu a uma elevada integração económica.A Argentina é, actualmente, o segundo principal parceiro comercial do Brasil, apenas a seguir aos EUA, enquanto o Bra-sil é o principal parceiro comercial da Ar-gentina, à frente dos EUA. Os sete países que integram a ASEAN de-cidiram implementar ‘mapas’ económicos que definem as prioridades da integração, um testemunho da sua determinação de alcançarem uma comunidade económica única. No entanto, a moeda única continua a não estar nas suas agendas. Em 2009, o comércio regional da ASEAN represen-tou 24,6% das exportações totais dos seus membros e 24,3% das importações totais.Em contrapartida, as trocas comerciais entre países africanos representam apenas 10 a 12% do total das exportações e impor-tações do continente. Mas em parte por-que vários países africanos conseguiram escapar à crise do crédito global, cada vez mais investidores centram as suas aten-ções nas oportunidades de negócio nesta região. Em 2050, o PIB combinado das 11 maiores economias africanas deverá atin-gir mais de 13 triliões de dólares, ultrapas-sando o Brasil e a Rússia (mas não a Índia e a China).

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RECORTE UNIÃO MONETÁRIA30

Para alguns analistas, a emergência de países como o Brasil enquanto potências económicas resulta, em parte, de uma efi-caz desmutualização das suas bolsas de valores. Actualmente, existem 23 bolsas de valores em África, e a sua capitalização de mercado combinada disparou dos 245 biliões de dólares do ano 2002 para 1 tri-lião de dólares (2% do total mundial) em finais de 2009. Com um volume de 800 biliões de dólares, só a Bolsa de Valores de Joanesburgo responde por 80% do total e posiciona-se, a nível mundial, no 19.º lu-gar. A Nigéria pretende desmutualizar a sua bolsa de valores de modo a conseguir posicionar-se como um dos principais des-tinos dos investidores fronteiriços.A África está preparada para beneficiar de uma recuperação económica maciça, desde que se crie um ambiente propício ao crescimento sustentável e a um aumento

de produtividade. Isto implica políticas macroeconómicas consistentes, centradas na integração económica, na autosuficiên-cia alimentar, na baixa inflação e na redu-ção da dívida. Implica também estabilida-de política, erradicação da corrupção, um maior estado de direito, um aumento dos níveis básicos de educação e uma utiliza-ção mais eficiente dos telefones e da Inter-net.O que não implica é uma moeda única. No que se refere a taxas de câmbio, os mem-bros dos grupos enconómicos de África fariam melhor em associarem as suas mo-edas a sistemas monetários regionais de forma a prevenirem maiores flutuações entre elas.c

*Ex-membro do BAD e autor do livro «Afrique au secours de l’Afrique,

in Vida Económica, nº 1377

«A África está preparada para beneficiar de uma recuperação económica maciça, desde que se crie um ambiente propício ao crescimento sustentável e a um aumento de produtividade. Isto implica políticas macroeconómicas consistentes, centradas na integração económica, na autosuficiência aliementar, na baixa inflação e na redução da dívida. Implica também estabilidade política, erradicação da corrupção, um maior estado de direito, um aumento dos níveis básicos de educação e uma utilização mais eficiente dos telefones e da Internet.»

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32 ENTREVISTA

Há que despertar para a produçãoO ministro Armando Inroga assumiu a pasta da Indústria e Comércio an-tes do final de 2010, e, até à data, ainda não havia concedido qualquer en-trevista à comunicação social. A revista Capital entrevistou-o em primeira mão e publica neste espaço a sua ampla visão sobre o que acontece no País, sobretudo no sector da Indústria, guardando informações pertinentes so-bre o estado do Comércio para a próxima edição.

Helga Nunes [texto] Luís Muianga [fotos]

A indústria nacional contribui apenas com 12 por cento para o Produto inter-no Bruto (PiB), quando era expectável a mesma estar na casa dos 16-17. o que aconteceu para que a meta não fosse atingida?

2010 foi um ano atípico graças a duas cir-cunstâncias. A primeira foi que a aprova-ção do Orçamento de Estado (OE), ou a disponibilização de fundos do OE, foi feita não no 1.º trimestre do ano mas muito de-pois do ano económico ter arrancado. Em consequência, criou-se uma situação de contracção da economia com efeitos claros na depreciação da moeda. Normalmente, a depreciação da moeda impulsiona as exportações do País. Mas impulsiona as exportações quando a estrutura da econo-mia se encontra preparada para – através da depreciação da moeda – alavancar a economia. Contudo, a nossa economia é demasiado dependente das importa-ções de uma grande parte dos factores de produção, o que faz com que, numa situa-ção de inexistência de dotação orçamental para alavancar a economia, a mesma se contraia e a depreciação da moeda en-careça ainda mais a estrutura económica, levando a um certo desfasamento entre a disponibilidade do Estado em prover serviços à sociedade e a capacidade que a própria sociedade tem em se sustentar, facto que conduziu à Crise do dia 1 e 2 de Setembro.

Essa crise faz parte das formas atípicas resultantes de 2010. Falo de formas de expressão económica atípicas como: uma grande subida do preço dos combustíveis; a depreciação do metical de forma acen-tuada; a gestão do OE de forma meticu-losa, com a contracção de despesas e um efeito claro nas pequenas e médias empre-sas (PME) e na indústria transformadora. A indústria transformadora nacional que, normalmente, é catalizadora da economia moçambicana, em especial, a indústria ali-mentar e de bebidas que também registou

um efeito de contracção em consequência dos factores apontados, muito embora essa indústria de transformação alimen-tar e de bebidas tenha feito com que a taxa de crescimento do sector industrial fosse aproximadamente de 2.5% em relação a 2009.

o sector industrial carece de investi-mentos no que diz respeito à transfor-mação e exportação de produtos. Ao mesmo tempo, o país exporta produtos por processar - garantindo pouco retorno de capital, e importa os mesmos produ-tos depois de transformados a preços el-evados. o que o país tem feito para con-trariar este estado de coisas?

Duas coisas em especial. A primeira, é que o Governo definiu uma estratégia de industrialização. Definiu os sectores que se espera virem a poder gerar uma situa-ção de relações intersectoriais na econo-mia. Relações intersectoriais essas que, por sua vez, venham a possibilitar que a economia responda às suas necessidades internas, a nível da demanda.

A indústria transformadora teve um período de expansão logo após a Inde-pendência e depois registou um momento de contracção em resultado de diversas manifestações, entre as quais a Guerra. Posteriormente, num momento em que era esperado que houvesse um relança-mento da economia com as privatizações, houve incapacidade do sector financeiro em sustentar o financiamento para a re-vitalização dessa indústria (que já existia) para que pudesse ter a capacidade de re-sponder à procura de mercado.

A indústria que existia, embora satisfiz-esse o mercado nacional, era uma indús-tria obsoleta. E com o passar do tempo, com a competitividade do mercado region-al, e também com a nova configuração da região austral, resultante da independên-cia da África do Sul, a abertura de merca-dos tornou a indústria nacional obsoleta

incapaz de responder não só à sua própria procura mas também à competitividade regional. Decorrente disso, ficamos numa situação em que se apostou numa indús-tria extractiva. A produção de produtos básicos para exportação, especialmente matérias-primas, passa por uma indústria de transformação regional e internacio-nal. Temos nessa situação a nossa indús-tria extractiva do sector mineiro, do sector florestal e a indústria pesqueira e agrária.

O sector agrário é um sector de produção primária e a pós-produção e a própria ca-deia de transformação é demasiadamente ineficaz para aquilo que precisamos e pre-tendemos.

A estratégia de industrialização vem as-sim responder à identificação desses con-strangimentos e problemas. Como tal, foram identificados sectores, cuja revital-ização se espera vir a garantir vantagens competitivas nacionais.

Que sectores são esses?O sector têxtil, tendo em conta o nosso

potencial de produção agrícola do algodão e o sector de produção alimentar, nome-adamente o de frutas e cereais.

Temos um sistema de comercializa-ção demasiadamente débil que não per-mite que se aperceba que Moçambique é um dos maiores produtores de milho, mas na realidade somos um dos maiores produtores de milho da região. De igual modo, possuímos um enorme potencial de produção de arroz. Somos mesmo um país autosustentável a nível de zonas agro-ecológicas para a produção de arroz, sendo que a distribuição de zonas agroecológicas para a produção de milho e arroz, a nível nacional, configuram-se nas zonas norte, centro e sul.

Temos - quer a nível de potencialidade de produção agricola e de desenvolvimento de potencialidade da indústria pesqueira, quer a nível de exploração mineral - todo um conjunto de requisitos naturais que

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Há que despertar para a produção

nos possibilitam que seja possível con-seguir ter vantagens competitivas region-ais, e produção não só para o mercado doméstico mas também para satisfazer a demanda da África Austral, em primeira instância, e do mundo também.

mas o que falta neste momento? temos um País que se encontra aberto ao inves-timento estrangeiro, ao financiamento, aos fundos e ao apoio dos doadores. o

que falta para dar o salto?O custo de financiamento é caro. Não há

nenhuma instituição de capital de risco que tenha uma estrutura de fundo de ga-rantias. A nossa abordagem agora, a nível da indústria e do comércio, é assegurar que haja possibilidade de haver uma in-stituição que desenvolva um fundo de garantia para a promoção da indústria e que essa instituição possa trabalhar com o Instituto para a Promoção das Pequenas

e Médias Empresas (IPEME), uma orga-nização criada pelo Governo para incen-tivar o crescimento estruturado das PME e para que essas PME sejam desenvolvi-das dentro de uma abordagem na qual se criem clusters à volta, ou a juzante, dos megaprojectos. Clusters que, no fundo, ajudem a reduzir os custos de importação que esses megaprojectos têm. Acreditamos que com a redução dos custos de impor-tação, especialmente nas grandes indús-trias, e sobretudo nas do ramo alimentar, teremos contribuído de forma significa-tiva para a apreciação do metical e que, em consequência disso, poderemos estar numa situação de melhoria do estágio de funcionamento da economia.

Que instituição poderá ser essa?Há duas formas de o fazer. Uma, através

da utilização a nível interno das institu-ições já existentes. Temos o FARE (Fundo de Apoio à Reabilitação da Economia); o Fundo de Fomento à Pequena Indústria; o IPEME, e para além desses três fundos, te-mos alguns mecanismos de financiamento que estão a ser estruturados e discutidos de modo a cumprir os objectivos traçados.

Numa discussão que tivemos com um parceiro de cooperação, falamos sobre o desembolso de um fundo (entre 25 e 50 milhões de dólares) que se destinava a re-solver a questão das cheias em 2000 mas que não chegou sequer a ser utilizado. Uma das propostas que apresentamos foi a de podermos vir a usar os fundos não uti-lizados, de 2000 a esta parte, como fundos de garantia para a promoção das PME. E a grande questão que se colocou foi deci-dir que pequenas e médias empresas é que haveríamos de promover e em que medida o sector financeiro haveria de ser sufici-entemente apetecível para o desenvolvi-mento e promoção do sector empresarial nacional, médio e pequeno.

O sector financeiro é um dos sectores mais estáveis e é bom que assim seja em Moçambique, mas também é um dos sec-tores com o maior nível de rentabilidade de capitais próprios. Duas questões se co-locam. Sendo o sector com o maior nível de rentabilidade de capitais próprios, será que o custo do empréstimo associado às taxas de juro aplicadas corresponde de forma efectiva ao risco de empréstimo? Ou há, de forma inconsciente, alguma es-peculação por parte do sector financeiro? Quando o sector financeiro funciona, por que é que as taxas de juro se mantêm tão altas?

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34 ENTREVISTATrês factores normalmente são apresen-

tados. O primeiro é que o sistema judicial não é suficientemente célere nem assegura de forma rápida o cumprimento de con-tratos, de modo a que o sector financeiro diante do evental incumprimento por parte dos mutuários teme a dificuldade de reaver o dinheiro emprestado. Por outro lado, diz-se que o custo da transacção in-terna associado aos serviços por detrás das operações financeiras fazem com que não seja possível ter taxas de juros mais baix-as. Em terceiro lugar, diz-se que as políti-cas monetárias do Banco Central são de-masiadamente restritivas, dada a taxa alta da reserva obrigatória e às taxas altas das facilidades de cedência, que fazem com que não seja possível o sector financeiro emprestar dinheiro mais barato.

Porém, as pesquisas sobre o sector bancário demonstram que o retorno de capital emprestado é alto. Isto quer dizer que ainda que as taxas de juro sejam altas, o crédito concedido ao mercado é resti-tuído. Ora, se o crédito é restituído a essas taxas tão altas, então não existe um prob-lema do sistema judicial.

no que diz respeito às exportações, os produtos que lideram são o alumínio, a electricidade e o algodão, deixando para trás outros que poderiam ser igualmente rentáveis para o país. o que se pode faz-er para contrariar essa tendência?

De forma clara, a hegemonia do alumínio como principal produto de exportação, bem como da electricidade, demonstram a debilidade da nossa indústria. A mesma está concentrada em dois ou três produ-tos, embora haja um enorme potencial de outros sectores em termos de exporta-ção, demonstrando a debilidade da nossa indústria e o risco a ela associado. Isto é, numa situação em que o mercado interna-cional se contraia face ao nosso produto principal de exportação, de forma ime-diata decorre um desiquilíbrio na balança de pagamentos e um crescimento do défice comercial e de transacções, criando sérios problemas para a nossa economia.

A estratégia de industrialização está as-sente em pequenas e médias empresas porque acreditamos que se conseguirmos ter uma indústria de agroprocessamento que gere cadeia de valor da produção ali-mentar, do cultivo até à comercialização do produto já transformado industrial-mente, passando por uma indústria de conservação, acreditamos que será possív-el ter, não nos proximos um ou dois anos mas a médio prazo, uma maior diversifica-ção na cadeia de exportação de produtos em Moçambique e, simultaneamente, uma redução do nível de importação, especial-mente no que concerne àqueles produtos que constituem o cabaz básico que deter-mina a inflação, e que na realidade con-

stituem uma grande porção de produtos alimentares.

será que o fornecimento ou a distri-buição dos produtos alimentares poderá constituir uma séria dificuldade, nos próximos anos?

Este ano deveria constituir uma grande oportunidade para Moçambique na diver-sificação da sua exportação face à conjun-tura internacional. Mas ainda não é porque o PAPA (Plano de Acção para a Produção de Alimentos) ainda não está na sua veloc-idade cruzeiro e nem está a produzir os re-sultados para os quais foi criado. Se o nível de realização do PAPA estivesse acima dos 75%, 2011 seria seguramente um bom ano para Moçambique. E por quê? Porque há uma contracção na oferta de cereais como resultado dos incêndios na Rússia e das cheias na Austrália e, igualmente, existe algum constrangimento da produção na Argentina. A contracção – principalmente do arroz, do milho e do trigo – deveria constituir uma clara oportunidade para que Moçambique exportasse para merca-dos onde o preço desses mesmos produtos se apresentam altos. Porém, não sendo capaz disso, este ano vai ser complexo. Vamos ter de criar capacidade para suprir

o custo altíssimo desses produtos no mer-cado internacional, e numa situação acres-cida da subida do preço dos combustíveis. Portanto, vamos ter em 2011 dois factores complexos para a economia: a produção alimentar associada aos preços altos dos produtos alimentares no mercado inter-nacional e o preço dos combustíveis, que estando elevados afectarão, de forma di-recta, a economia doméstica de Moçam-bique como país não produtor de petróleo.

tendo em conta a mais-valia da indús-tria de têxteis e confecções em termos socioeconómicos, na medida em que pode empregar mão-de-obra maciça, e que as produções do chá e do tabaco foram em tempos grandes impulsion-adoras da economia nacional. em que estágio se encontram e que estratégias podem ser seguidas no sentido de as re-vitalizar?

A indústria do tabaco continua a ser uma grande empregadora. Só em Tete existem 150 mil famílias à volta do sec-tor do tabaco, um sector que está em per-mantente crescimento. Houve, em 2010, alguns constrangimentos associados à tentativa de banir o tipo de tabaco que é produzido em Moçambique. Foi possível

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impedir que isso acontecesse e esperamos que não ocorra nos próximos 5 a 10 anos qualquer constrangimento dessa natureza e que seja possível continuar, pois é uma indústria com um peso significativo nas exportações.

Quanto à indústria têxtil, ela apresenta um desenvolvimento atípico pois tivemos a possibilidade de ter um grande empur-rão em virtude dos acordos com os EUA, no âmbito do AGOA, e no qual alguma in-dústria havia sido relançada, mais concre-tamente na região de Sofala. Contudo, o cumprimento das obrigações fiscais espe-radas após os anos de isenção fez com que a indústria fechasse. Ou seja, os investi-dores estrangeiros só se predispunham a manter a indústria numa situação em que nada contribuíssem para a economia na-cional. Teríamos bonitos indicadores de exportação, mas o reflexo dessa exporta-ção não haveria de se fazer sentir na eco-nomia nacional, o que obviamente não era aceitável. De qualquer forma, temos vindo a negociar com grandes industriais do sec-tor têxtil da região que querem investir em Moçambique, nomeadamente com in-vestidores tanzanianos que estão interes-sados no sector de fiação e dos uniformes escolares. Porém, há uma percepção dos

investidores internacionais quando vêm para Moçambique de que todas as nego-ciações associadas à entrada para o mer-cado nacional têm de ser asseguradas pela exclusividade e nós temos uma situação de economia de mercado aberta, na qual não se dá exclusividade a ninguém.

e no tocante à indústria do chá?O chá é mais complexo porque toda

a indústria alimentar é mais complexa e porque a afirmação da marca de um produto alimentar só é conseguida ao longo tempo. A partir da altura em que se regista uma quebra de oferta dessa marca, depois a reconquista do mercado é doloro-sa e prolongada. Nesse sentido, as marcas tradicionalmente moçambicanas teriam de reconquistar o mercado, cumprindo o exercício através do qual deverá existir uma combinação entre a estratégia de re-vitalização do sector e a estratégia de mar-keting das próprias empresas e também a identificação actual de novos mercados para a inserção do chá moçambicano, diferentes dos mercados tradicionais nos quais o produto era, anteriormente, con-sumido.

desde setembro de 2009 a março deste ano, o gazeda já aprovou cerca de 19 pro-jectos de investimento orçados em mais de 262 milhões de dólares na Zee de na-cala, e espera-se que em breve moçam-bique haja outro Zee na Região centro ou sul do país. Acredita que as Zee poderão revitalizar mais zonas no país?

A ZEE de Nacala é ainda uma zona de descoberta para Moçambique e para o mundo e o GAZEDA tem feito um trab-

alho invejável de divulgação da ZEE. Mas, como Erasmo dizia: «Talentos escondidos não constroem reputação», e passa-se o mesmo com zonas de potencial económico que ninguém conhece. Enquanto Nacala continuar a ser um enigma e um local completamente desconhecido a nível do potencial de desenvolvimento, não há-de responder ao desiderato pelo qual foi proclamada de ZEE. Nacala vai e de forma rápida ser o pólo de desenvolvimento da região norte de Moçambique quando tiver o aeroporto a funcionar e duas das três grandes indústrias que são esperadas que lá surjam. Mais concretamente, a indús-tria de cimento e a fábrica de ferro e de aço, que se espera virem a registar efeitos positivos no sector metalúrgico e de con-strução da região.

O volume de investimento aumentou e há uma grande aposta de investidores chineses, brasileiros, portugueses e in-dianos no mercado moçambicano, em parte devido à existência de leis de in-vestimento algo flexíveis e em virtude do código de benefícios fiscais ser mais atractivo. contudo, subsiste um prob-lema: a falta de formação profissional dos recursos humanos. Que comentário lhe sugere este facto?

O Governo lançou o Programa Integra-do de Reforma de Educação Profissional (PIREP). O PIREP tem como finalidade a transformação da abordagem da formação da procura por uma abordagem de oferta. Isto é, os cursos que passam a ser leccio-nados nos centros, institutos ou escolas de formação profissional serão aqueles cujo mercado identifica e necessita. Por outro lado, está em constituição uma autoridade de educação profissional que vai proced-er à aprovação dos curricula e definir os modelos de certificação académica.

Nesse sentido, um profissional moçam-bicano que não possua a alfabetização, mas que saiba fazer ou desempenhar uma profissão, por saber fazer, vai poder ter um diploma que o qualifica como um especial-ista na sua área profissional e essa qualifi-cação permitir-lhe-á ter uma remuneração estabelecida e ser considerado, à partida, como um indivíduo que obtém determina-dos módulos de conhecimento. Tal vai faz-er com que se mude duas coisas. Primeiro, vai mudar o preconceito em relação aos tí-tulos académicos e profissionais (há muita gente que assume que ter um título é sufi-ciente para receber uma boa remuneração, e isso vai mudar) e, em segundo, é que se vai dar valor a quem sabe, e dando valor a quem sabe vai-se criar uma ‘cultura de fazer’. E essa ‘cultura de fazer’ vai mostrar que o sector de formação profissional é na realidade o sector de orientação do Gov-erno para a Educação em Moçambique, e não o ensino geral.c

«Este ano deveria constituir uma grande oportunidade para Moçambique na diversificação da sua exportação face à conjuntura internacional. Mas ainda não é porque o PAPA (Plano de Acção para a Produção de Alimentos) ainda não está na sua velocidade cruzeiro e nem está a produzir os resultados para os quais foi criado. Se o nível de realização do PAPA estivesse acima dos 75%, 2011 seria seguramente um bom ano para Moçambique.»

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36 INTERVIEW

The desire to produce must be awakenMinister Armando Inroga took on the Industry and Commerce portfolio before the end of 2010, and, until the present date, he had not yet granted any interview. Capital magazine interviewed him at first hand and is pu-blishing in this space his wide vision on what is happening in the Country, mainly in the Industry sector, saving the relevant information on the con-dition of businesses for the next edition.

Helga Nunes [text] Luís Muianga [photos]

the national industry contributes only with 12 percent towards the gross do-mestic Product (gdP), when it was ex-pected it to be around 16-17 percent. Why was this goal not reached?

2010 was an anomalous year due to two facts. The first being that the approval of the Government Budget, or its funds avail-ability, was made not in the first quarter of the year but long after the financial year was set it motion. Consequently, there was a shrinking in the economy with clear effects in the depreciation of the currency.

Normally, the depreciation of the cur-rency stimulates the country’s exports It stimulates exports when the economy’s structure is ready to leverage the economy - through the depreciation of the curren-cy. However, our economy is far too de-pendent on imports of a large part of the production factors, and in a situation of lack of provision of the budget to leverage the economy, the same shrinks and the de-preciation of the currency raises even fur-ther the economic structure, allowing for a certain disparity between the availability

of the State in providing services to society and the capacity of that society to support itself. This fact led to the crisis on 1 and 2 of September.

That crisis is part of the anomalous forms resulting from 2010. I am talking about economic expression forms such as: a great raise in the price of fuels; the strong depreciation of the metical; the me-ticulous manner in the GE management, with a reduction in expenditures and a clear effect on the small and medium sized enterprises (SME) and in the transform-

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37ARMANDO INROGA, MINISTER OF INDUSTRY AND COMMERCE

ing industry. The national transforming industry which normally is the driving force of the Mozambican economy, mainly the food and beverage industries which has also registered a reduction as a result of the mentioned factors, although this food and beverage transforming industry was the reason for the increase rate of the industrial sector to be of 2,5% in relation to 2009.

the industrial sector lacks investments in what concerns transformation and ex-

port of products. At the same time, the country exports non-processed products which guarantee very small capital rev-enue, and it imports the same products, after transformation, at very high costs. What has the country done to counteract this state of affairs?

Two things in special. The first, is that the Government defined a industrializa-tion strategy. It defined the sectors which hopefully may administer a situation of in-ter-sector-based relations in the economy. These inter-sector-based relations may in turn enable the economy to respond to its internal needs according to the demand.

The transforming industry had an expan-sion period right after Independence, fol-lowed by a period of shrinkage, as a result of several manifestations, amongst which a War. Subsequently, at a time when a reposition of the economy with the priva-tizations was expected, the financial sec-tor was not capable to sustain the financ-ing for the revitalization of that industry (which already existed) to enable it to fulfil the market’s demand.

Although the existing industry fulfilled the national market, it was an obsolete industry. And in course of time, with the competitiveness of the regional market, and also with the new configuration of the southern region resulting from the inde-pendence of South Africa, the opening of the markets made the national industry obsolete and incapable of fulfilling not only its own demand but also the regional competitiveness. This put us in a situation where we bet in an extracting industry. The manufacture of basic products for ex-port, mainly raw materials, goes through a regional and international transforma-tion industry. In this situation are our extracting industry for the mining sector, the forestry sector and the fishing and ag-ricultural industries.

The agricultural sector is a sector of pri-marily manufacture and the post-manu-facture and the transformation chain are excessively ineffective for our needs and demands.

The industrialization strategy comes to answer to the identification of these con-straints and problems. We identified sec-tors which revitalization we expect will guarantee national competitive advan-tages.

Which sectors are these?

The textile sector, taking into account our potential in the agricultural produc-tion of cotton, and the food processing sec-tor, namely that of fruits and cereals.

We have a trading system extremely weak which does not allow to show that Mozambique is one of the greatest maize manufacturers, but in reality we are one of the largest maize manufacturers in the region. We also have an enormous poten-tial to manufacture rice. We are a self-sus-tainable country in agro-ecological areas for the manufacture of rice, being the dis-tribution of agro-ecological zones for the manufacture of maize and rice, at national level, represented in the north, centre and south zones.

We have, be it at the level of potentiality of agricultural manufacture and of devel-opment of potentiality of the fishing indus-try, or at the level of mineral exploration, a whole ensemble of natural requirements which enable us to have competitive re-gional advantages, and manufacture, not only for the domestic market but also to fulfil firstly the Southern Africa demands, and those of the whole world.

But what is lacking at this point in time? We are a country open to foreign invest-ment, to financing, to funds and donors support. What does it take to take the leap?

The cost of financing is high. There is not one institution of venture capital that has a guarantee funds structure. Our approach now, at industry and commerce level, is to ensure the possibilities of an Institu-tion which will develop a guarantee fund for the promotion of the industry, and that Institution may work together with the Institute for the Promotion of Small and Medium Enterprises (IPSME). This orga-nization was founded by the government to encourage the structural growth of the SME and in order for those SME to devel-op within an approach around which clus-ters are created, or the downstream of the mega-projects. Clusters which, at the end of the day, will assist to reduce the import costs of those mega-projects. We believe that, with the reduction in import costs, mainly in the big industries, and mainly in the food division, we would have contrib-uted significantly to the appreciation of the metical and, as a consequence, we may find ourselves facing good progress in this phase of operation of the economy.

«The cost of financing is high. There is not one institution of venture

capital that has a guarantee funds structure. Our

approach now, at industry and commerce level, is to ensure the possibilities of an Institution which will

develop a guarantee fund for the promotion of the

industry, and that Institution may work together with the Institute for the Promotion

of Small and Medium Enterprises (IPSME). This

organization was founded by the government to encourage

the structural growth of the SME and in order for those

SME to develop within an approach around which

clusters are created, or the downstream of the mega-

projects.»

fevereiro 2011 revista capital

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revista capital fevereiro 2011

38 INTERVIEWWhich institution could that be?There are two ways of doing this. One,

via the use of the already existing inter-nal institutions. We have the SFER (Sup-port Fund for Economic Rehabilitation); the FPSI (Fund for the Promotion of the Small Industries); the IPSME . Further to these three funds, there are some fi-nancing mechanisms being discussed and structured in order to execute the planned objectives. In a discussion held with a co-operation associate, we spoke about the disbursement of a fund (between 25 and 50 million dollars) destined to solve the problems related to the 2000 floods, but which were never used. One of the pro-posals presented was to use these funds as guarantee funds for the promotion of the PME. The big question was which small and medium enterprises should be promoted and in which manner would the financial sector be sufficiently entic-ing for the development and promotion of the medium and small national business-related sectors.

The financial sector is one of the most stable sectors and it’s good that it is so in Mozambique, but it is also one of the sec-tors with the highest level of profitability from own capital. There are two matters in question Being the sector with the high-est profitability from own capital, would the cost of the loan associated to the rate of interest applied correspond effectively to the risk of the loan? Or could there be, subconsciously, some speculation by the financial sector? When the financial sec-tor operates why are the interest rates so high? Three factors are normally pre-sented. The first one, the judicial system, is never quick enough nor does it ensure the quick fulfilment of contracts, and thus the financial sector, due to the possible non-fulfilment by the borrowers fears the difficulty to recover the borrowed money. On the other hand, it is said that the cost of the internal transaction relative to ser-vices behind the financial operation, make it impossible to have lower interest rates. Thirdly, it is said that the Central Bank monetary policies are excessively restric-tive, given the high tax of the compulsory reserve and the yielding facilities high tax-es, making it impossible for the financial sector to lend money at a lower rates.

However, researches on the banking sec-tor show that the return on borrowed capi-tal is high. This means that, even though the interest rate is high, the credit granted to the market is being returned. Therefore, if the credit is returned at those high rates, then there is no problem in the judicial system.

in what concerns exports the leading products are aluminium, electricity and cotton, leaving behind others which

could be equally profitable to the coun-try. What can be done to counteract this trend?

Clearly the leadership of aluminium as the main export product, as well as elec-tricity, show our industry weakness. It focuses on two or three products despite the enormous potential of other sectors in terms of export. This shows the weakness of our industry and the risk associated to that. This is, in a situation where the in-ternational market shrinks in face of our main export product, there is a sudden imbalance in the balance of payments and an increase of the commercial deficit and transactions, thus creating serious prob-lems to our economy.

The industrialization strategy is steady in small and medium enterprises because we believe that if we are capable of having an agro-processing industry which admin-isters the value chain of food production, from their culture right through to the trading of the already industrially trans-formed product, passing through a preser-vation industry, we believe that we could have, maybe not in the next few years, but soon enough, a larger diversification in the export chain of products in Mozam-bique and, simultaneously, a reduction of the import level, mainly regarding those products which constitute the basic ele-ments which determine inflation, and that in reality constitute a large portion of food products.

Will the supply or the distribution of food products constitute a series of dif-ficulties in the next few years?

This year should constitute a great op-portunity for Mozambique in diversify-ing its exports in view of the international state of affairs. But this is not the case because the Action Plan for Food Produc-tion (APFP) is not at its highest peak nor is it bringing forth results for which it was established. If the APFP’s level of achieve-ment was above the 75%, 2011 would defi-nitely be a good year for Mozambique. The reason why? Because there is a reduction in the supply of cereals as a result of the fires in Russia, the floods in Australia as well as some constraints in the Argentin-ean production. The reduction – mainly of rice, maize and wheat – should consti-tute a clear opportunity for Mozambique to export to the markets where the price of these products are high. Because this is not possible, 2011 will be a difficult year.

We will have to build the capacity to make up for the extremely high prices of these products in the international mar-ket, in a situation where the prices of fuel are increasing.. Therefore, in 2011 we will have two complex factors for the econo-my: the food manufacture associated to the high prices of food products in the in-

ternational market, and the price of fuel, which being so high will directly affect the Mozambican economy as a non-oil pro-ducing country.

taking into account the surplus value of the textile and confection industries in socioeconomic terms, due to the fact that it can employ massive man-power, and that tea and tobacco production were some time back large driven forces of the national economy. in which phase and which are the strategies that may be followed in order to revitalise them?

The tobacco industry is still a great em-ployer. In Tete alone there are 150 thou-sand families in the tobacco industry, a sector which is in constant growth. In 2010 there were some constraints associ-ated to the attempt to banish the type of tobacco which is manufactured in Mozam-bique. It was possible to stop this from happening and we hope no constraints of this nature will happen again in the next 5 to 10 years. We hope it will be possible to continue, as this is an industry with a significant weight in exports..

As for the textile industry, it shows an anomalous development as we had the opportunity of a great «shove» by virtue of the agreements with the United States in the scope of AGOA (African Growth Opportunities Act), in which an industry had been recast, more concretely in the region of Sofala. Yet, the fulfilment of the fiscal duties expected after the exemption throughout all the years, was the cause for the shutting down of the industry. Foreign investors were only prepared to maintain the industry if they had to contribute with nothing towards the national economy. We would have attractive export indica-tors, but that export’s reflexion would not be felt in the national economy and that is obviously not acceptable. In any way, we have been negotiating with large manu-facturers of the textile sector in the region, who want to invest in Mozambique, name-ly Tanzanian investors who are interested in the spinning-mill and in school uni-forms sectors However, the perception of international investors coming to Mozam-bique is that all negotiations associated to the entering the national market must be guaranteed exclusivity. Being an open market economy, we do not grant exclu-sivity to anyone.

And what about the tea industry?Tea is more complex as all the food in-

dustry is more complex, because the brand awareness of a food product is only achieved after a long period of time. From the time there is a rupture in the supply of that brand, and to re-conquer the mar-ket is a long and painful road. In this way, the Mozambican traditional brands would

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fevereiro 2011 revista capital

39ARMANDO INROGA, MINISTER OF INDUSTRY AND TRADE

have to re-conquer the market, perform-ing the exercise through which there must be a combination between the sector’s revitalization strategy and the marketing strategy of the very companies as well as the actual identification of new markets to place the Mozambican tea, different from those traditional markets where the prod-uct was previously consumed.

From september 2009 to march 2011, gazeda has approved around19 invest-ment projects estimated in more than 262 million us dollarsin the seZ (special economic Zone) of nacala, and it is hoped that soon mozambique will have another SEz in the Central or South region of the country. do you believe that the seZ can revitalize further the country zones?

Nacala’s SEZ is still a discovery zone for

Mozambique and for the world and GAZE-DA has been doing an enviable divulging work. But, as Erasmo said: «Hidden tal-ents don’t build reputation». The same happens to unknown potentially economic zones. As long as Nacala continues to be an enigma and a totally unknown place for any development potential, it will not respond to the requirements for which it was proclaimed a SEZ. Nacala will rapidly become the development pole of Mozam-bique’s northern region, once the airport and two of the three large industries which are expected to emerge, start running.

The volume of investments has in-creased and there is a bet on chinese, Brazilian, Portuguese and indian inves-tors in the mozambican market, partly due to the flexible investment laws in

force and to the more attractive tax in-centive. However, there is still a prob-lem: the lack of human resources profes-sional training. What are your comments on this fact?

Government has launched the Integrat-ed Program of Professional Education Reform (IPPER). The IPPER’s goal is to transform the approach of the formation supply with that of a demand approach. This is, the training courses to be lectured in centres, institutes or professional train-ing schools will be those identified as the market’s needs. On the other hand, a Pro-fessional Education Authority is being formed which will proceed to the approval of the curricula and will define the mod-ules of academic certification.

In that sense, an illiterate Mozambican professional who is capable of perform-ing a specific job due to experience, will be able to obtain a diploma that will qualify him as an expert in his area of expertise. That qualification will allow him to obtain a remuneration to be considered as an in-dividual with determined knowledge mod-ules. This will change two matters. Firstly, the prejudice in relation to academic and professional titles (many people assume that it is sufficient to have a title to be en-titled to a good remuneration, and this will change). Secondly, we will value those who have knowledge, and thus will create a « will to do »culture. That «will to do» will show that the professional training sector is in reality the government’s sector for the Education in Mozambique, and not the general teaching (education).c

«This year should constitute a great opportunity for Mozambique in diversifying its exports in view of the international state of affairs. But this is not the case because the Action Plan for Food Production (APFP) is not at its highest peak nor is it bringing forth results for which it was established. If the APFP’s level of achievement was above the 75%, 2011 would definitely be a good year for Mozambique.»

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fevereiro 2011 revista capital

41FOCO TECNOLOGIAS

Moçambique adopta sistemaeuropeu de televisão digital DVB-T2

Arsénia Sithoye [texto]

Moçambique vai seguir a recomendação da Comunidade de Países da África Aus-tral (SADC) e adoptar o padrão europeu de televisão digital (Digital Vídeo Broadcast-ing - DVB-T2), de acordo com a decisão do Governo.

O director-geral do Instituto Nacio-nal das Comunicações de Moçambique (INCM), Américo Muchanga, espera que a instalação da infraestrutura comece ainda este ano.

Na conferência dos ministros das tele-comunicações da Comunidade de De-senvolvimento da África Austral (SADC), realizada em Lusaka, na Zâmbia em No-vembro de 2010, foi recomendado aos países integrantes, nomeadamente à África do Sul, Angola, Botsuana, Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Ilhas Maurí-cias, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe que adop-tassem o sistema europeu.

No entanto, a deliberação da conferên-cia de Lusaka não é obrigatória, daí países como o Brasil e o Japão terem submetido propostas para a realização de testes em países como Angola, Botsuana e Moçam-bique na esperança de conquistá-los com o seu sistema ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial).

Mesmo tratando-se de uma decisão do Governo, Américo Muchanga não des-encoraja os testes com o padrão nipo-brasileiro, porque uma comissão do

Ministério de Transportes e Comunica-ções ainda vai determinar como será a mi-gração para o sistema digital.

«As decisões de governo são dinâmicas e ainda não há nada instalado», diz aquele dirigente e acrescenta: «A comissão de migração ainda vai se debruçar sobre todo o processo».

Ainda se encontra em análise a estratégia da migração do actual sistema analógico para o digital, que deverá ser concluída em 2015. Por outro lado, deve ser criado pelo menos um órgão estatal para gerir o processo, devendo porém ser determinado se o País vai adoptar o operador único de rede. «É melhor termos um único opera-dor, para sinais públicos e privados, por questões económicas, mas isso ainda será objecto de análise».

A nível da África Austral, a Tanzânia e África do Sul encontram-se mais adian-tadas na digitalização da transmissão de rádio e televisão, e no continente como um todo, as Ilhas Maurícias já completaram 90% do processo.

Não foi revelado o valor necessário para este investimento em Moçambique, e, en-tretanto, o director-geral do INCM referiu que a decisão pelo sistema europeu «não está baseada em nenhuma promessa». Alguns países, que já haviam optado pelo padrão europeu, como a Colômbia, reabri-ram as negociações depois que a União Europeia não cumpriu as promessas feitas

de financiamento.O modelo DVB-T2 foi adoptado com-

ercialmente em 1998 pelo Reino Unido e possui padrões para transmissão de dados por via terrestre, cabo e satélite. É conhe-cido por ser versátil e por facilitar a trans-missão de múltiplos canais virtuais na mesma frequência.

Em Moçambique, as empresas de rádio e televisão vão responsabilizar-se pela aquisição de novos equipamentos de cap-tura, edição e processamento de dados, encargos que «não serão muito altos», se-gundo garante Américo Muchanga.

Por outro lado, a África do Sul também irá adoptar o sistema europeu DVB-T2 para televisão digital terrestre, sendo que o processo de migração do analógico para o digital deverá estar concluído em 2012, segundo anunciou ministro sul-africano das Telecomunicações, Roy Padayache.

Num outro desenvolvimento, Roy Pa-dayache referiu que após vários estudos e análises, no decorrer dos quais tam-bém foram analisados outros sistemas, designadamente o apoiado pelo Brasil e Japão, ISDB-T, o Governo escolheu o Digital Vídeo Broadcasting (DVB) na sua versão T2. Este padrão já foi eleito por 12 dos 14 países-membros da SADC, sendo o sistema de referência na Europa, Médio Oriente e em grande parte do continente africano.c

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A Intercampus do Grupo GfK encontra-se a realizar, diariamente, desde 31 de Maio de 2010 um estudo de audiência televisiva de canais abertos em todas as capitais provinciais de Moçambi-que.

Os programas informativos e de entretenimento têm maior audiência média televisiva

Fig. 1 – Audiência média top 10 (3 setembro a 30 de novembro de 2010)

Fig. 2 – Perfil de telespectadores:o melhor do Brasil (3 setembro a 30 de novembro de 2010)

revista capital fevereiro 2011

ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS42

Segundo o último relatório tri-mestral, que compreende o período de 3 de Setembro a 30 de Novembro, os programas te-levisivos nos canais abertos da

televisão em Moçambique com maior audi-ência são os programas de entretenimento e informativos.De acordo com os dados diários analisa-dos evolutivamente ao longo do trimestre, o canal Record Moçambique é o canal que apresenta os programas com maior audi-ência média na televisão moçambicana, destacando-se o “O Melhor do Brasil” e o “Programa do Gugu”, com 28% e 26% de audiência média, respectivamente. Por outro lado, o “Jornal da Noite” da STV é o programa informativo com maior audiên-cia televisiva, com 24% de audiência média.

Perfil dos telespectadoresdos programas com maior audiência

Quanto ao perfil dos telespectadores, a maior parte dos telespectadores do pro-grama “O Melhor do Brasil” são do sexo feminino (58%) e 28% do total dos teles-pectadores da zona centro assistem a este programa. Do total de telespectadores, 33% são da faixa etária mais jovem (entre os 15 a 24 anos) e há maior incidência na classe social média e baixa.O “Programa do Gugu” tem maior incidên-cia no sexo feminino (57%), a audiência é mais evidente na zona sul do país (30%), para um público mais jovem e para a classe social mais baixa.Por outro lado, a maioria dos telespectado-res do “Jornal da Noite” da STV, é do sexo masculino (54%), e do total de telespecta-dores da zona centro, 32% assistem a este programa informativo. Os telespectadores

Page 43: Revista Capital 38

Os programas informativos e de entretenimento têm maior audiência média televisiva

Fig. 3 – Perfil de telespectadores:Programa do gugu (3 setembro a 30 de novembro de 2010)

Fig. 4 – Perfil de telespectadores:jornal da noite (3 setembro a 30 de novembro de 2010)

fevereiro 2011 revista capital

43ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS

deste programa são na sua maioria da faixa etária mais idosa (mais de 44 anos) repre-sentando 33% de audiência para estas ida-des e da classe social média alta.O novo modelo metodológico tem como vantagem a possibilidade da elaboração de avaliações diárias, semanais e mensais que permitem compreender evoluções e varia-ções ao longo do tempo. Para mais informa-ções contactar [email protected].

Ficha técnica

O Universo é constituído por indivíduos de ambos os sexos, com 15 ou mais anos de idade, residentes nas capitais provin-ciais de Moçambique e que vêm televisão. A amostra foi constituída por 35.128 en-trevistas válidas (representando um grau de confiança de 95% e um erro máximo de +/- 0,5%). A informação é recolhida através de entrevista directa e pessoal (Maputo e Matola) e por telefone (restantes capitais provinciais), com base em questionário ela-borado pela Intercampus, sendo realizado diariamente no dia imediatamente a seguir à programação de canais abertos. Os dados acima correspondem ao período de progra-mação entre 3 de Setembro a 30 de Novem-bro de 2010.

A intercampus

A Intercampus – Estudos de Mercado, Lda. é uma empresa de direito moçambicana e iniciou formalmente a sua actividade em Moçambique em 2007 sendo parte inte-grante do Grupo Internacional GfK. A GfK é a quarta maior empresa de estu-dos de Mercado no mundo. A sua activida-de abrange cinco áreas: Custom Research, Retail & Technology, Consumer Tracking, Healthcare e Media. O Grupo é composto por 150 empresas em mais de 100 países e com mais de 10 000 colaboradores. Em 2009, as vendas do Grupo GfK ascenderam a 1,16 mil milhões de euros.c

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YoungNetwork estreiaescritório em Moçambique

Setembro de 2010 foi o mês da sua abertu-ra. Rege-se pela máxima da diferença alia-da à qualidade e não quer ter nada que ver com o banal. Os objectivos revelam a am-bição do Grupo de que faz parte (uma das maiores consultoras de comunicação em Portugal): ser uma referência na Comuni-cação de Marketing no país onde acaba de nascer e estar entre as maiores agências no prazo de um ano. Assim se pode apresentar a YoungNetwork Moçambique, uma agência de comunica-ção com conceito full-service, posicionada nas vertentes de consultoria estratégica de comunicação, publicidade, design, com-pra de meios, relações públicas, eventos e Web. Liderada por um conhecedor do mercado com mais de 22 anos de experiência nas áreas de Publicidade e Marketing Rela-cional, a agência conta já com clientes de renome, entre eles, a Fiat – que fará uma campanha envolvendo arte moçambicana, marketing social, Web e um evento mar-cante – e o ICAP (International Center for AIDS Care and Treatment Programs), que implica um rebranding completo para uma nova entidade, além de comunicação

EMPRESAS MAPUTO44

interna e institucional. Foi também reali-zado um primeiro trabalho para a Hidroe-léctrica de Cahora Bassa. Segundo o Director do projecto, Luís Ma-rinho Falcão, “em Moçambique, trabalha-se muito mais do que as pessoas de fora pensam. E existe muito talento escondido. Quem souber dar oportunidades aos jo-vens com talento, que este mercado “es-conde”, vai conseguir produzir trabalho excepcional. É importante ter presente que o negócio vem sempre ter com quem consegue trabalho excepcional”.Até ao final de 2011, a agência contará com uma equipa de oito a dez pessoas. “Uma equipa bem preparada, sem grande res-peito pelo “horário comercial”, até por-que estará a trabalhar sempre em três ou quatro fusos horários diferentes. Acima de tudo, a YoungNetwork Moçambique integrará pessoas capazes de “ver a flo-resta” sem perder de vista “cada árvore”. Só assim se consegue recomendar a me-lhor solução para cada problema de ma-rketing, independentemente da disciplina que essa solução implica”, conclui o res-ponsável.c

Luís Falcão, director YN Moçambique

«Até ao final de 2011, a agência contará com

uma equipa de oito a dez pessoas. “Uma equipa bem

preparada, sem grande respeito pelo “horário

comercial”, até porque estará a trabalhar sempre em três

ou quatro fusos horários diferentes. Acima de tudo, a

YoungNetwork Moçambique integrará pessoas capazes de

“ver a floresta” sem perder de vista “cada árvore”. Só assim

se consegue recomendar a melhor solução para cada

problema de marketing, independentemente

da disciplina que essa solução implica”, conclui o

responsável.»

revista capital fevereiro 2011

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fevereiro 2011 revista capital

TAP TAP terminaligação directa Lisboa/Joanesburgoem Junho

A TAP anunciou o fim, a partir de Junho, da ligação directa entre Lisboa e Joanes-burgo, que passa a ser feita via Maputo.A transportadora aérea portuguesa anun-cia em comunicado que, a partir de Junho, na sequência do acordo com as Linhas Aé-reas de Moçambique (LAM), as ligações entre Portugal e a África do Sul passam a ser efectuadas com escala em Maputo.Segundo a TAP, a LAM passa, a partir da mesma altura, a assegurar as ligações en-tre Maputo e Joanesburgo em equipamen-to próprio, em horário conjugado com as chegadas e partidas de Lisboa.A transportadora adianta que os actuais três voos semanais que a TAP efectua en-tre Lisboa e Joanesburgo, em operação combinada com Maputo, e um quarto ser-vindo exclusivamente a capital moçambi-cana, serão a partir de Junho substituídos por quatro voos semanais directos entre Lisboa e Maputo, operados em code-sha-re, dois com avião TAP e outros dois em equipamento LAM.«A decisão da LAM de voltar a ter ope-ração própria para Lisboa determinou a necessidade de reformular o enqua-dramento do acordo comercial entre as duas companhias», refere o comunicado da TAP.A empresa assegura que serão “desenvol-vidos esforços” para efectuar «eventuais voos extra de e para Joanesburgo, em de-terminados períodos do ano, e dependen-do de procura adicional».José Cesári, deputado do PSD, afirma à agência Lusa que o fim da ligação aérea Lisboa/Joanesburgo acarretará «conse-quências graves para os interesses de

Portugal». O deputado destaca, designa-damente, o facto de muitos portugueses radicados na África do Sul serem originá-rios da Região Autónoma da Madeira, e terão dificuldades acrescidas em visitar o arquipélago com o encerramento da rota. «Isto vai ter implicações económicas para a própria Madeira. Os portugueses na África do Sul são uma comunidade que contribui de forma séria para o turismo e para a economia local», frisa.

MOzAbANCO Moza Banco já tem BES na estruturaaccionista

O BES Africa é a partir de hoje accionista do Moza Banco com uma participação de 25.1%. O acordo nesse sentido foi rubrica-do nesta quinta em Maputo pelos repre-sentantes dos accionistas da Moçambique Capitais, Geocapital e BES Africa após parecer favorável dos bancos centrais de Moçambique e Portugal. Da actual estru-tura accionária do Moza Banco, a Moçam-bique Capitais, uma holding moçambica-na liderada por Prakash Ratilal, antigo Governador do Banco, continuará a deter a maioria do capital com 50,4% e as res-tantes participações em 25,1% e 24,4% e pertencerão ao BES Africa e Geocapital, respectivamente. Com a entrada do Banco Espírito Santo na estrutura accionista do Moza Banco, o capital social da instituição financeira será duplicado para 30 milhões de dólares até 30 de Junho 2011 com vista a aceleração do processo de instalação de mais balcões nas outras regiões do país. O Moza Banco terá reforçada a sua infra-estrutura tecnológica visto que o desen-volvimento da actividade internacional do BES assenta essencialmente na exporta-ção das competências do Grupo em Ban-ca de Empresas, Banca de Investimento e Private Banking. Inaete Merali, Adminis-trador Delegado do Moza Banco, falando a margem da cerimónia da assinatura de documentos referentes a entrada defini-tiva do BES no Moza Banco, disse que a sua Administração continuará a valorizar os quadros nacionais como tem sido desde a primeira hora do embarque do projecto e que reconhece que todos colaborado-res fizeram e têm feito o seu melhor para que o Moza Banco seja hoje uma grande referência no mercado financeiro nacio-nal e internacional. Acrescentou que com a entrada do BES, serão feitas algumas reformas ao nível da Administração Exe-cutiva e da marca. “Teremos mais outros Administradores executivos que irão di-rigir os diversos pelouros do banco para

incrementar mais dinamismo nas nossas operações” – disse. Refira-se que na ulti-ma edição Anual da KPMG-100 Maiores Empresas de Moçambique, o Moza Banco recebeu dois prémios distintos, sendo o primeiro “banco com maior crescimento no volume de negócios no sector financei-ro e o segundo “Maior subida de ranking 100 maiores empresas”.

EDM Avaria afecta fornecimento de energia a Chitima e Mágoè

A empresa Electricidade de Moçambique, E.P. informou que a população de Chitima e de Mágoè, na província de Tete, esteve sem energia eléctrica da Rede Nacional desde 9 de Janeiro do presente ano, como resultado de uma avaria grossa registada num dos transformadores localizados no distrito de Songo.Equipas técnicas foram deslocadas para o terreno com vista a restabelecer o funcio-namento normal do sistema, tendo sido accionados mecanismos para o forneci-mento alternativo de energia eléctrica às zonas afectadas.Entretanto, um camião foi enviado de So-fala para a localidade de Songo para que a breve trecho o problema fosse completa-mente resolvido.

45COMUNICADO

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revista capital fevereiro 2011

EMPRESAS FISCALIDADE46

Arrecadação fiscal cresce,mas persiste dependência externaSérgio Mabombo [texto]

A Autoridade Tributária de Moçambique (ATM) projecta uma arrecadação fiscal de 73.274 milhões de meticais em 2011, uma meta de 15.5 por cento acima da alcançada em 2010. Entretanto, mesmo que haja o alcance dos 73.274 milhões de meticais em receitas no presente ano, o alívio em relação à ajuda externa continuará pouco significante. O valor apenas cobre 55.4 por cento das despesas do Orçamento de 2011 que são calculadas em 132.4 mil milhões de meticais. O facto significa que, este ano, o Executivo moçambicano terá de recorrer à ajuda externa no sentido de obter os res-tantes 44.6 por cento.

A ATM, que em 2010 conseguiu arreca-dar 63.419 milhões de meticais (uma cifra recorde desde a proclamação da Inde-pendência Nacional), avança que, desde 2006, todas as metas de arrecadação fis-cal foram superadas, uma tendência que se pretende contínua para a estabilidade económica do País.

Os anos de 2002 e 2005 são os únicos cu-jas respectivas metas traçadas para a co-brança de impostos não foram cumpridas, sendo a pior realização a de 2002, que se ficou pelos 87.5 por cento.

O sector privado entende que o alarga-mento da base tributária em curso resulta da simplificação gradual dos canais de pagamento de impostos. Entretanto, ai-nda persiste o facto das taxas fiscais serem elevadas, segundo defende o sector priva-do nacional, na voz da sua confederação (CTA).

Em resposta ao posicionamento do sec-tor privado, a ATM, mesmo reconhecendo o facto dos impostos serem elevados, ad-

verte que a reforma proposta deve ser feita de forma cautelosa de modo a evitar uma erosão fiscal.

Por outro lado, o Gabinete de Planea-mento, Estudos e Cooperação Interna-cional na ATM fala de estudos em curso, de modo a simplificar o máximo possível o pagamento de impostos. A implemen-tação plena do mecanismo só poderá ter efeito dentro de dois anos, segundo as projecções.

A evolução do sistema tributário moçam-bicano é impulsionada, em larga medida, segundo a leitura da ATM, pela introdução dos impostos sobre o rendimento (IRPC e IRPS), a partir de 2003. O IRPS permitiu maiores volumes de receitas no mesmo ano calculados em 11.8 por cento para, posteriormente, alcançar os 15.2 por cento em 2008. Entretanto, o IRPC verificou ap-enas 4.6 e 14.6 por cento, em 2003 e 2008, respectivamente. Mas o menor peso do IRPC comparativamente ao IRPS é menos aconselhada pelas directrizes económicas internacionais. Estas defendem que a con-tribuição fiscal das organizações (IRPC) deve possuir maior peso na arrecadação fiscal. O cenário descrito só foi invertido no exercício fiscal de 2009 e 2010 quando o IRPC cifrou-se em 15.5 e 14.9 por cento, respectivamente, uma percentagem maior ao do IRPS que foi de 13.4 e 13.6 por cento em 2009 e 2010, respectivamente.

No desafio cada vez maior de arrecada-ção fiscal, o contributo do IVA vem gan-hando cada vez maior peso. Nas operações internas, este imposto já representa cerca de 15.6 por cento, trazendo um impacto cada vez crescente para os objectivos económicos do país. A entrada em vigor da Zona do Comércio Livre da SADC trouxe influência no comportamento de alguns impostos. Os Impostos sobre o Comércio Externo, tais como os direitos aduaneiros e sobretaxa perderam peso no âmbito do novo contexto.

Na análise do presidente da ATM, Rosário Fernandes, o combate efectivo à evasão fiscal e outras práticas fiscais ilíci-tas, assim como a aposta numa auditoria sólida nos agentes económicos poderá re-sultar num impacto vistoso nos níveis pro-gramados no Orçamento do Estado (OE) e no Plano Económico e Social (PES).c

«No desafio cada vez maior de arrecadação fiscal, o con-tributo do IVA vem ganhan-do cada vez maior peso. Nas operações internas, este im-posto já representa cerca de 15.6 por cento, trazendo um impacto cada vez crescente

para os objectivos económi-cos do país. A entrada em

vigor da Zona do Comércio Livre da SADC trouxe in-

fluência no comportamen-to de alguns impostos. Os

Impostos sobre o Comércio Externo, tais como os direi-tos aduaneiros e sobretaxa

perderam peso no âmbito do novo contexto.»

Page 47: Revista Capital 38

João Paulo Borges Coelho vence Prémio BCI de Literatura 2010

Maputo, 2 de Fevereiro (BCI) - O romance “O olho de Hertzog”, do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, com a chancela da Ndjira, é o vencedor da primeira edição do Prémio BCI de Literatura, distinguindo a melhor obra editada em Moçambique por um autor moçambicano.O Presidente do Júri justificou a distinção da obra por nela “o autor explorar o pendor multifacetado e a maleabilidade do género romanesco, sobretudo na sua capacidade de acolher e amalgamar múltiplas tendências e traços de outras formas de escrita literária e até extra-literária”.O Prémio BCI de Literatura 2010, no valor de 200.000 Meticais, foi entregue pelo Presidente da Comissão Executiva do BCI, Dr. Ibraimo Ibraimo, numa cerimónia realizada na Mediateca BCI e dirigida pelo Secretário Geral da AEMO, Dr. Jorge Oliveira, a que assistiram muitos dos mais conceituados escritores moçambicanos, assim como responsáveis pelas maiores editoras do País.

Consulte a Sala de Imprensa, em:www.bci.co.mz/Institucional/imprensa

o romance “o olho de Hertzog”, de joão Paulo

Borges coelho, é o vencedor da primeira edição do Prémio

Bci de Literatura, distinguindo a melhor obra editada em

moçambique por um autor moçambicano.

O Prémio bCI de Literatura 2010, no valor de 200.000 meticais, foi entregue pelo

Presidente da comissão executiva do Bci, dr. ibraimo

ibraimo, numa cerimónia realizada na mediateca Bci e

dirigida pelo secretário geral da Aemo, dr. jorge oliveira, a que assistiram muitos dos

mais conceituados escritores moçambicanos, assim como responsáveis pelas maiores

editoras do País.

Page 48: Revista Capital 38

revista capital fevereiro 2011

FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS48

Yasser Issá*

O Pagamento em Prestaçõese a Compensação das Dívidas TributáriasE

ntraram em vigor, no início do ano de 2011, os regula-mentos sobre o Pagamento em Prestações e de Compen-sação de Dividas Tributárias,

aprovados, respectivamente, pelos De-cretos n.º 45/2010 e 46/2010, ambos de 2 de Novembro e publicados no Boletim da República nº 43, I Série, com a mesma data.

O presente artigo visa contribuir para uma melhor compreensão e divulgação destes dois regimes, a que podem recorrer qualquer pessoa ou entidade que preencha os requisitos legalmente aplicáveis.

Os regulamentos materializam o estab-elecido na Lei n.º 2/2006, de 22 de Mar-ço, que estabelece os princípios e normas gerais do Ordenamento Jurídico Moçam-bicano, aplicáveis a todos tributos nacio-nais e autárquicos.

Com efeito, o referido diploma legal esta-belece, no seu artigo 148º, a possibilidade de o sujeito passivo requerer pagamento em prestações das suas dívidas tributárias.

Por seu turno, o artigo 44 da já citada lei prevê a compensação como uma das for-mas de extinção das dívidas tributárias.

Pagamento em Prestações

das Dívidas Tributárias

O Decreto n.º 45/2010, de 2 de Novem-bro estabelece os procedimentos relativos ao pagamento em prestações das dívidas tributárias decorrentes dos Impostos so-bre o Rendimento das Pessoas Singulares e das Pessoas Colectivas (IRPS e IRPC), sendo de destacar os seguintes aspectos:

Âmbito

Como se refere acima, o regulamento co-bre apenas os impostos sobre o rendimen-to, não se aplicando, no entanto, às dívi-das tributárias cuja liquidação é efectuada pelo mecanismo de retenção na fonte.

O pagamento em prestações (e.g. da

dívida tributária principal, multas, juros e outros encargos), pode ser efectuado no decurso do período do pagamento volun-tário e/ou na fase de execução fiscal e não suspende a contagem dos juros e outros acréscimos legais devidos, incidindo estes sobre a parte da dívida remanescente.

Requisitos

Para que possa beneficiar desta modali-dade de pagamento, o sujeito passivo deve submeter na área fiscal competente e den-tro do prazo que consta no documento de notificação, um requerimento devidam-ente fundamentado dirigido ao Ministro das Finanças, indicando (i) a natureza da dívida e (ii) o número de prestações pre-tendidas, dentro dos limites fixados.

Limite máximo de prestações mensais

Em caso de deferimento do pedido, o val-or total da dívida tributária deve ser divi-dido no número máximo de prestações au-torizadas, cujo pagamento deve ser mensal e sucessivo.

O número de prestações mensais é fixado num máximo de 12 meses, tratando-se de pagamento a ser efectuado no decurso do período de pagamento voluntário e de 24 meses, no caso de dívida em processo de execução fiscal, ou seja após o relaxe e envio da dívida ao Juízo Privativo das Ex-ecuções Fiscais.

incumprimento

A falta do pagamento de qualquer das prestações, dará lugar ao vencimento imediato das restantes e à instauração do processo de execução fiscal pelo valor em dívida. Trata-se aqui da transposição do princípio geral do Direito Civil, princípio da integralidade da prestação, nos termos do qual nas obrigações liquidáveis em prestações, o vencimento de uma delas implica necessariamente o vencimento da

Page 49: Revista Capital 38

fevereiro 2011 revista capital

49FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS

O Pagamento em Prestaçõese a Compensação das Dívidas Tributárias

totalidade das obrigações vincendas.É igualmente de sublinhar que, no caso

de incumprimento de uma autorização de pagamento em prestações voluntário, fica vedada ao sujeito passivo a possibilidade de requerer novo pagamento em presta-ções na fase de execução.

compensação de dívidas tributárias

A compensação é uma das formas de extinção recíproca das obrigações tribu-tárias. Ou seja, ocorre quando um sujeito passivo devedor seja também credor do fisco e aquele se libera da sua dívida com recurso ao seu crédito.

Trata-se, portanto, do encontro de débi-tos entre as partes, em relação a créditos reconhecidos por acto administrativo ou decisão judicial, a que tenham direito os sujeitos passivos, em razão de pagamentos indevidos dos impostos.

A compensação pode ser efectuada com qualquer dívida tributária, excepto nos casos que já existem normas especiais de compensação.

Procedimentos

Este mecanismo de extinção da dívida pode ocorrer por iniciativa da administra-ção tributária ou do sujeito passivo.

Em regra, a compensação por inicia-tiva da administração tributária acontece quando o sujeito passivo excede o efecti-vamente devido. Nesse caso, a adminis-tração tributária deve notificar o contri-buinte e, com o consentimento deste, usar esse pagamento indevido para compensar qualquer outro tipo de dívida futura deste.

Compensada a dívida e havendo rema-nescente, o sujeito passivo pode dispor do crédito para compensar dívidas futuras, fi-cando, por isso, a administração tributária obrigada a emitir uma Nota de Crédito a seu favor.

Saliente-se que, os créditos resultantes do reembolso, revisão oficiosa, reclamação

ou decisão favorável de recurso adminis-trativo e contencioso de qualquer acto ad-ministrativo são obrigatoriamente aplica-dos na compensação.

A excepção é para as situações em que se trate de recurso ou oposição à execução da dívida exequenda, ou quando esta esteja a ser paga em prestações.

A compensação por iniciativa do contri-buinte é efectuada nos mesmos termos e condições que a compensação por inicia-tiva da administração pública, dentro do prazo de pagamento até à instauração do processo de execução fiscal.

A institucionalizaçãoda Nota de Crédito

O regulamento prevê a institucionaliza-ção de uma Nota de Crédito, instrumento que reconhece a posição credora do sujeito passivo.

A nota de crédito deve ser usada para compensar dívidas dos sujeitos passivos anteriores ou posteriores à sua emissão. A requerimento dos interessados, se a im-portância da Nota de Crédito for superior ao valor da dívida a compensar, poderá ser desdobrada em tantas notas quantas forem necessárias para futuras compensa-ções de dívidas do mesmo sujeito.

O prazo de caducidade das notas de crédito é de um ano após a notificação se não forem levantadas. Por sua vez, o di-reito de uso da nota de crédito caduca no prazo de cinco anos a contar da data de emissão.

O sujeito passivo pode solicitar a resti-tuição em dinheiro do montante da Nota de Crédito, devendo esta solicitação ser requerida ao Ministro das Finanças, no prazo de 30 dias antes de findar a caduci-dade citada anteriormente.

Importa acrescentar que os créditos concedidos antes da entrada em vigor do presente regulamento, continuam a ser analisados e tratados de acordo com os procedimentos concernentes a reembolsos e anulação de pagamentos indevidos.

Hierarquia de compensação

A compensação deve ser efectuada se-gundo a seguinte ordem de preferência:

- Dívidas da mesma natureza e nestas primeiro as do mesmo período de tribu-tação;

- Dívidas provenientes de impostos reti-dos na fonte ou legalmente repercutidos a terceiros e não entregues;

- Dívidas de outros impostos.

Caso a importância do crédito seja insufi-ciente para compensar toda a dívida prin-cipal e acréscimos, o crédito é aplicado na seguinte ordem:

- Juros moratórios;- Outros encargos legais;- Multas; e- Dívida tributária incluindo juros com-

pensatórios.

Se o crédito for insuficiente para com-pensar a totalidade das dívidas na mesma hierarquia de preferência, a compensação deverá obedecer a seguinte ordem:

- Dívidas mais antigas;- Nas com mesma antiguidade, as de

maior valor; e- Em igualdade de circunstâncias, com

qualquer das dívidas.

Nota Final

Os regulamentos sobre Pagamento em Prestações e Compensação de Dívidas Tributárias vêm preencher o vazio no sistema da administração tributária e con-stituem um instrumento de incentivo de cumprimento das obrigações e regular-ização voluntária das dívidas com o fisco, criando mecanismos que não interferem de forma gravosa com as operações e pat-rimónio dos sujeitos passivos.c

*Trainee ConsultantPricewaterhouseCoopers Legal

[email protected]

Page 50: Revista Capital 38

revista capital fevereiro 2011

RESENHA JURÍDICA FERREIRA ROCHA50

Responsabilidade das Transportadoras Aéreas em questões de atrasos e perdas de bagagem

«A legislação é clara em atribuir a responsabilidade

às transportadoras, muito embora não estabeleça

limites para a mesma. Nos casos de não realização

ou interrupção do voo, ao passageiro é conferido o direito ao reembolso da

passagem aérea na medida do percurso não realizado

e ao pagamento das despesas de deslocação,

alojamento, alimentação e comunicação.»

Gonçalo Morgado Marques*

Face aos acontecimentos inter-nacionais recentes e às repeti-das situações a nível nacional, parece-nos importante abordar uma questão que a muitos con-

cerne: A responsabilidade das transporta-doras aéreas no atraso de Voos e atrasos, perdas, avarias e destruição de Bagagens e Mercadorias.Do ponto de vista internacional, existem convenções que regem esta matéria, não sendo, claro, aplicáveis a todos e quais-quer países, tornando-se aconselhável a indagação junto da companhia que efec-tuará o transporte, de quais as condições aplicáveis.As convenções internacionais, sendo as de maior relevo a de Varsóvia e a de Mon-tréal, estabelecem, entre outros deveres, a responsabilidade das transportadoras aéreas e os limites à mesma, nos casos re-feridos. Em ambas, a transportadora aé-rea é responsável pelo dano resultante de atraso no transporte aéreo de passageiros, bagagens e mercadorias, bem como pela perda, destruição e avarias destas últimas. Como limitação a esta responsabilidade, é comum encontrar disposições que referem que se a transportadora ou os seus traba-lhadores adoptaram todas as medidas que poderiam razoavelmente ser exigidas para evitar o dano ou, que lhes era impossível adoptar essas mesmas medidas, então a

transportadora ficará isenta de responsa-bilidade.Claro está, que esta limitação da respon-sabilidade se torna um pouco subjectiva e não pode ser tida em conta do ponto de vista literal, até porque adoptando to-das as medidas razoavelmente exigidas, o problema tenderia a ser resolvido. Esta é, portanto, uma área cinzenta. Torna-se necessário que a transportadora compro-ve que realmente tomou essas medidas ou que tais lhe eram impossíveis de tomar. Caso não o faça e, tendo em consideração os limites monetários atribuídos pelas convenções referidas, será da sua inteira responsabilidade o ressarcimento por da-nos provocados, seja por atrasos ou não, tanto a passageiros como a bagagens e mercadorias.Casos há, que não entram nesta área cin-zenta, sendo da inteira responsabilidade da transportadora o ressarcimento por da-nos causados. As convenções, bem como em alguns casos, as próprias condições de transporte das transportadoras, estabele-cem limites monetários a essa responsabi-lidade. No caso de atrasos de voos, o limite geralmente estabelecido, pode ascender aos USD6.000. No que concerne aos atra-sos, perdas ou destruição da bagagem ou mercadorias, os limites vão até cerca de USD1.500 por passageiro. Poderá obter mais informação junto da

Page 51: Revista Capital 38

fevereiro 2011 revista capital

51RESENHA JURÍDICA FERREIRA ROCHA

Responsabilidade das Transportadoras Aéreas em questões de atrasos e perdas de bagagem

transportadora em relação aos limites de responsabilidade aplicáveis à sua viagem. Se a viagem envolve transporte efectuado por diferentes transportadoras, deverá contactar cada uma delas para obter in-formação sobre os limites de responsabi-lidade aplicáveis. É possível beneficiar de um limite superior de responsabilidade por perda, dano ou atraso da bagagem, in-dependentemente da Convenção aplicável à sua viagem, através de uma declaração especial feita no momento de check‐in, do valor da sua bagagem e pagando quais-quer encargos suplementares aplicáveis. Em alternativa, se o valor da bagagem ex-cede os limites de responsabilidade apli-cáveis, deverá, preventivamente, ser feito um seguro da totalidade da bagagem antes da viagem.No âmbito nacional, operam as regras da Lei da Aviação Civil, adoptada para garantir, entre outras, a implementação de normas e práticas recomendadas pela Convenção Internacional de Aviação Civil. A legislação é clara em atribuir a respon-sabilidade às transportadoras, muito em-bora não estabeleça limites para a mesma. Nos casos de não realização ou interrup-ção do voo, ao passageiro é conferido o direito ao reembolso da passagem aérea na medida do percurso não realizado e ao pagamento das despesas de deslocação, alojamento, alimentação e comunicação.

Note-se que não é expressamente referido o Atraso do Voo, mas é de nosso entendi-mento que o mesmo se pode equiparar à interrupção, uma vez que também o per-curso não é efectuado, causando ainda mais transtornos ao passageiro. Quanto às bagagens e mercadorias a transporta-dora é responsável pelas mesmas, seja por destruição, perda ou avaria e compreende não só o transporte aéreo em si, mas todo o período em que as mesmas estão à res-ponsabilidade da transportadora.É prática comum, as transportadoras aé-reas descartarem-se da qualquer respon-sabilidade por atrasos, afirmando que as horas indicadas para o voo, onde quer que essa informação se encontre, não são ga-rantidas e que se reservam ao direito de al-terar os horários sem aviso prévio, embora prometendo que envidarão sempre os me-lhores esforços no sentido de transportar o passageiro e bagagem com prontidão razoável. Em tom de conselho, é crucial saber as condições conexas com as nossas viagens. Para isso, basta que se dirija ao balcão da transportadora e peça informações sobre as condições de transporte e responsabili-dade, algo a que tem direito, evitando as-sim, surpresas desagradáveis.c

*Consultor na Ferreira Rocha & Associados

«(...) a transportadora aérea é responsável pelo dano resultante de atraso no transporte aéreo de passageiros, bagagens e mercadorias, bem como pela perda, destruição e avarias destas últimas. Como limitação a esta responsabilidade, é comum encontrar disposições que referem que se a transportadora ou os seus trabalhadores adoptaram todas as medidas que poderiam razoavelmente ser exigidas para evitar o dano ou, que lhes era impossível adoptar essas mesmas medidas, então a transportadora ficará isenta de responsabilidade.»

Page 52: Revista Capital 38

Félix Sengo*

Excelência Empresarial

Um olhar sobre a Responsabilidadeda Liderança na Gestão do Pessoal

GESTÃO E CONTABILIDADE ERNST & YOUNG52

Introdução

A liderança na empresa pode ser entendida como um sistema de gestão que se apoia no compro-metimento pessoal dos gestores a todos os níveis no estabe-

lecimento, disseminação e actualização de valores e princípios organizacionais orientados à promoção duma cultura da excelência empresarial tendo em conta a satisfação das necessidades dos stakehol-ders (partes interessadas). Para alcançar a excelência empresarial a empresa deve ter uma liderança que possui elevadas com-petências para liderar com êxito superior os processos de planeamento estratégico, organização, lideranças internas, pessoas, clientes, sociedade, informações e conhe-cimento. A excelência empresarial, que é indissociável de liderança, conhecimentos técnico e de gestão envolve também uma boa direcção na condução dos aspectos culturais, na implementação de um siste-ma de aprendizagem contínua como base para a formação de competências a todos os níveis.

É obvio que quando somos subordinados nos limitamos apenas a responder pelos nossos esforços individuais o que também não é algo fácil, e podemos então imaginar quão complexas são as actuações e respon-sabilidades dos líderes que deixam de res-ponder pelos seus esforços e passam a ter o seu sucesso ou fracasso medidos pelo es-forço dos sues trabalhadores. Na verdade,

o líder na empresa é e sempre será cobra-do pelos resultados “previamente” acorda-dos e negociados com os diferentes públi-cos para os quais a sua empresa trabalha, nomeadamente (i) os sócios, accionistas e/ou proprietários, (ii) os trabalhadores, gestores e os sindicatos, (iii) os clientes, (iv) o governo e (v) a sociedade em geral e a comunidade local.

gestão do pessoal

O líder deve ter competências para a cria-ção dum sistema de motivação que enco-raje os trabalhadores a desaprender velhos hábitos e práticas consolidados e incorpo-rar novos comportamentos. O líder de ver ser uma fonte permanente de inspiração devendo indicar e mostrar claramente pelas acções/práticas e não apenas pelas palavras/discursos o que deve ser feito. Sendo a excelência uma consequência di-recta do conhecimento absorvido, a apren-dizagem contínua deve ser incentivada e valorizada na empresa. Para o alcance da excelência empresarial é importante que a liderança encare cada pessoa como um centro de excelência. Para tal, é necessá-rio assegurar o desenvolvimento eficaz do processo de criação de competências indi-viduais na aprendizagem contínua. Para obter resultados com elevados pa-drões de excelência as empresas preci-sam de congregar diferentes competên-cias para acompanhar e operar mudanças atempadas impostas pelo mercado, con-

revista capital fevereiro 2011

«O líder deve ter competências para a

criação dum sistema de motivação que encoraje

os trabalhadores a desaprender velhos

hábitos e práticas consolidados e incorporar novos comportamentos. O líder de ver ser uma fonte permanente de inspiração devendo indicar e mostrar claramente pelas acções/

práticas e não apenas pelas palavras/discursos

o que deve ser feito.»

Page 53: Revista Capital 38

53GESTÃO E CONTABILIDADE ERNST & YOUNG

Excelência Empresarial

Um olhar sobre a Responsabilidadeda Liderança na Gestão do Pessoal

corrência e avanços tecnológicos. Tudo isto requer profundas mudanças nos tra-dicionais programas de recrutamento e selecção, treinamento e desenvolvimento de carreiras profissionais, incentivos e re-compensas, e planos de sucessão. A exce-lência empresarial requer que a gestão do pessoal deixe de ser uma tarefa exclusiva dos serviços dos Recursos Humanos, e passe a ser tarefa de todas as lideranças in-ternas com a participação activa de todos os trabalhadores da empresa, e olhando a motivação na empresa como uma combi-nação harmoniosa entre os interesses dos trabalhadores e os objectivos da empresa.A gestão estratégica do pessoal deve ser também, vista como um processo de lon-go prazo que permite a criação de expe-riencias e competências alinhadas com as exigências dos novos conhecimentos necessários para a execução das acções da empresa cada vez mais complexas no fu-turo. Na gestão do pessoal o líder deve ter conta a rápida evolução do conhecimento na sociedade. Na verdade quem aprende e absorve o novo conhecimento não é a empresa como uma unidade física legal, mas sim as pessoas que nela participam, pensam, reflectem, tomam decisões, agem e avaliam os seus comportamentos em função dos resultados alcançados. Uma das responsabilidades da liderança é as-segurar que o conhecimento seja devida e rapidamente compartilhado e aplicado pe-los seus trabalhadores, pois é a partir deles que a empresa se pode transformar num modelo invejável de excelência.

considerações conclusivas

A gestão de pessoas é uma tarefa funda-mental para o alcance da excelência nas organizações. Ela tem-se tornado decisiva no desenvolvimento, retenção e avalia-ção do capital humano como um factor determinante nos desafios impostos pelo um mercado altamente competitivo. No entanto, é importante destacar o papel da liderança na condução dos processos de gestão do pessoal para assegurar em alta a motivação, o conhecimento e compro-metimento do pessoal como ingredientes fundamentais para a obtenção dos eleva-dos índices de produtividade na empresa. O líder precisa conhecer os variados mo-delos de liderança e motivação humana para atingir os objectivos tantos pessoais como organizacionais pois sem eles as di-ficuldades se ampliarão mediante a nova postura do trabalhador e dos avanços im-postos pela era do conhecimento. Liderar implica cultivar um relacionamento são com os seguidores e uma aproximação que permite conhecer as suas motivações (que normalmente variam de pessoa para pessoa) além de compreender os aspec-tos essenciais sobre a liderança (teorias, comunicação, influência, equipa, gestão, objectivos e resultados etc). O líder preci-sa de ser suficientemente competente para influenciar (e não impor) os trabalhadores a empenharem-se na obtenção dos melho-res resultados na empresara.c

(*) Audit Manager na Ernst & Young

fevereiro 2011 revista capital

«A gestão estratégica do pessoal deve ser também, vista como um processo de longo prazo que permite a criação de experiencias e competências alinhadas com as exigências dos novos conhecimentos necessários para a execução das acções da empresa cada vez mais complexas no futuro. Na gestão do pessoal o líder deve ter conta a rápida evolução do conhecimento na sociedade.»

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55EMPRESAS . TOYOTA

Há uma necessidade de se equilibrar o nú-mero de viaturas novas com as usadas nas rodovias moçambicanas, onde uma em cada oito viaturas compradas é nova.O referido equilíbrio pode vir a ser um im-portante passo rumo a um nível aceitável de segurança rodoviária no País, se incluir o retirar da circulação os automóveis em mau estado de conservação.A Toyota, detentora de 26 por cento da quota de mercado moçambicano, defende que o alcance do equilíbrio entre as viatu-ras novas e usadas depende da conjugação de esforços entre os organismos regulado-res e as restantes marcas que operam no mesmo mercado. O presidente do Conselho Administrativo da Toyota, Nuno de Sousa, defende ainda que os países da região da SADC também podem dar o seu contributo no actual ce-nário de predominância de automóveis em mau estado nas estradas moçambicanas, na medida em que muitos dos mesmos são importados a partir de fornecedores pro-venientes dos países da SADC.Durante a conferência de imprensa duran-te a qual a marca nipónica de automóveis procedeu ao balanço das actividades em Moçambique, o líder do organismo, Nuno de Sousa, considerou que o rácio desequi-librado entre viaturas novas e usadas é

Sérgio Mabombo [texto]

«...a menor qualidade de estradas em Moçambique tem condicionado uma maior procura de peças sobressalentes para viaturas, facto que abre um mercado de consumo diversificado que compreende vendedores informais (com propostas baratas, mas pouco fiáveis) e os formais, cuja procura dos seus serviços tende a aumentar nos últimos anos.»

TOYOTA é a n.º 1 e quer renovarparque automóvel no País

fevereiro 2011 revista capital

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EMPRESAS TOYOTA56

revista capital fevereiro 2011

«Há uma necessidade de se equilibrar o número de viaturas

novas com as usadas nas rodovias moçambicanas, onde

uma em cada oito viaturas compradas é nova.»

dos piores ao nível da África Austral. Para muitos analistas, a opção pela compra de automóveis usados tem a ver com o redu-zido poder de compra da maioria dos mo-çambicanos, aliado à pouca acessibilidade às linhas de crédito para automóvel dispo-níveis. A Toyota alcançou um nível de comercia-lização de 1.017 viaturas no ano de 2010. Uma quantidade que lhe conferiu o recor-de de vendas, a par do que acontece a nível mundial, uma vez que pelo terceiro ano consecutivo a marca lidera o ranking dos maiores construtores. O aumento do nível de vendas representa um crescimento de 3 por cento, conside-rando os 23 por cento de quota do merca-do alcançados em 2009 e os 26 por cen-to de 2010. Entretanto, o alto volume de vendas de viaturas novas da Toyota, assim como outras marcas comercializadas pelos

organismos concorrentes, ainda é pouco significativo para balançar a predominân-cia de viaturas em segunda mão. Por outro lado, a menor qualidade de es-tradas em Moçambique tem condiciona-do uma maior procura de peças sobres-salentes para viaturas, facto que abre um mercado de consumo diversificado que compreende vendedores informais (com propostas baratas, mas pouco fiáveis) e os formais, cuja procura dos seus serviços tende a aumentar nos últimos anos. A avalanche na procura de peças já per-mite que a Toyota de Moçambique receba cerca de 60 clientes por dia, abrindo deste modo, uma nova tendência que, gradual-mente, contraria a ida à vizinha África do Sul para solucionar os problemas mecâni-cos. Só de 2009 para 2010, a procura dos serviços de peças na Toyota de Moçambi-que representou um crescimento de 43 por

cento.Um recente estudo da Intercampus, uma empresa de estudos de mercado perten-cente ao grupo GFK, revelou que a Toyota foi eleita a melhor marca do sector auto-móvel moçambicano em 2010. No referido concurso foram avaliadas 174 marcas per-tencentes a 20 sectores de actividade, onde a Toyota se posicionou em primeiro lugar no sector de automóveis e em 30.º lugar no universo das 174 marcas, com uns ex-pressivos 95 por cento de notoriedade da marca.c

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gale

ria

Não uma, mas três exposições

revista capital fevereiro 2011

ESTILOS DE VIDA58

I nauguraram em Maputo nos passa-dos dias 27, 28 e 29, três exposições, comissariadas por João Costa. Em três espaços diferentes, em três ex-

posições individuais que poderão também ser uma colectiva, são-nos mostradas as obras de Arcanjo Madeira, Lourdes Silva e Tomo.

A exposição de Madeira, ‘Do Campo à Cidade,’ retrata em 17 obras o percurso si-nuoso de Nhassuvila Dango da saturação do campo ao refúgio esperançoso numa ci-dade que afinal, não lhe serve de refúgio. É o retrato do povo que se desloca “fazendo da cidade o espelho dos objectivos indivi-duais versados nas ambições colectivas” nas palavras de Arcanjo Madeira.

‘O Espelho’ é a segunda exposição inau-gurada no âmbito deste ciclo expositivo. 6ª exposição individual de Lourdes Silva, O Espelho aborda vários reflexos de Mo-çambique - espelhos diferentes, reflexos diferentes, obras que espelham pedaços dos diversos contornos da identidade mo-çambicana, da beleza dos seus costumes e mestiçagens.

A ultima exposição a ser inaugurada, ‘Percurso’, de Tomo, integra 16 obras que pretendem retratar um percurso de vida do próprio artista em que ele se (auto) de-clara “(…) apenas um acompanhante da vida, um “submisso” às manifestações da Natureza.”.

Madeira nasceu em Quelimane e inicia-

se na pintura em 1998 no atelier de Micas Mungo. Em 1999, aprendeu a esculpir no atelier do artista Oblino Magaia e, desde então, desenvolve as suas actividades a partir do seu atelier em Mavalane. Esta é a sua primeira exposição individual, tendo já participado em várias colectivas.

Lourdes nasceu em Maputo. Autodidac-ta, pinta desde 2000, tendo já exposto cin-co individuais em Moçambique e Portugal e participado numa exposição colectiva.

Tomo nasceu em Maputo. Pinta e expõe desde 1986. Participou em várias exposi-ções colectivas e individuais e workshops dentro e fora do país. Foi vencedor de dois prémios: Bienal TDM, em 1998 e 2000.c

• Do Campo à CidadeArcanjo MadeiraEspaço Xilembene (Av. do Bagamoyo, 333. Maputo)

• O EspelhoLourdes SilvaAssociaçãoMoçambicanadeFotografia.(Av.JuliusNyerere,618.Maputo)

• PercursoTomoCasa da Cultura. (Av. Albert Lithuli 1719. Maputo)

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revista capital fevereiro 2011

60 ESTILOS DE VIDA

“O Olho de Hertzog“ soma e segue

leit

uras

cap

itai

s

O escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, depois de ganhar o Prémio Leya, no valor de 100.000 euros, recebe desta

feita o Prémio BCI de Literatura no valor de 200.000 meticais.

O romance “O olho de Hertzog”, com a chancela da Ndjira, é o claro vencedor da primeira edição do Prémio BCI que procu-ra assim distinguir a melhor obra editada em Moçambique por um autor moçambi-cano.

O prémio foi atribuído ao romance “O Olho de Hertzog“, uma narrativa aventu-rosa decorrida no final da I Guerra Mun-dial entre Moçambique e a África do Sul, concertando a fantástica epopeia do Gene-ral von Lettow-Vorbeck.

Borges Coelho assina de facto um grande romance da I Guerra, em português, com uma fabulosa e minuciosa construção da Lourenço Marques de então, onde avultam personagens como o vulto Albasini (figura lendária das letras locais), cuja múltipla origem transforma a cidade no centro do mundo. Sendo uma demanda até policial,

o livro é um manifesto da grandiosidade do local.

O também escritor Manuel Alegre, aquando da distinção da Leya, referiu-se à obra como “um romance de grande intensidade, em que se conjugam a com-plexidade das personagens, a densidade da trama narrativa e a busca do olho de Hertzog, que é, de certo modo, uma metá-fora da demanda do destino individual e colectivo”.

João Paulo Borges Coelho é uma gran-de figura da prosa ficcional em português e possui uma obra muito cuidada, tecida com saber e imaginação, e muito inter-pretável. Acima de tudo, é um historiador. Ensina História Contemporânea de Mo-çambique e África Austral na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, e, como professor convidado, no Mestrado em His-tória de África da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tem-se dedicado à investigação das guerras colonial e civil em Moçambique, tendo publicado vários textos académicos em Moçambique, Por-tugal, Reino Unido, Espanha e Canadá.

Como escritor, estreou-se na ficção com ‘As Duas Sombras do Rio’ em 2003. Foi o vencedor do Prémio José Craveirinha, de 2005, atribuído em 28 de Março de 2006, com o seu livro ‘As Visitas do Dr. Valdez‘. Moçambique é o principal pano de fundo de todo o seu trabalho de ficção.c

U m dos maiores nomes de Mo-çambique, Malangatana, mor-reu em Janeiro de 2011. Para trás ficou uma inegável ligação

à identidade de um país e até mesmo de um continente. Todo o mundo sentiu a sua partida, mas todos sabemos que o mes-mo vai permanecer gravado na cultura de muitos países. Em todos os meios de co-municação social, desde a rádio aos blogs na Internet, recordaram a vida deste ícone da cultura moçambicana e acompanharam a tristeza sentida e as diversas homena-gens que se seguiram ao dia 5 de Janeiro.Igualmente grande, outro nome moçam-

bicano foi recentemente homenageado, Eusébio. No dia 25 de Janeiro, numa gala transmitida em directo para vários paí-ses através de vários canais da RTP e pela TDM, celebrava-se o 69.º aniversário de um dos maiores ídolos do mundo do fu-tebol. Foram recordados os momentos de alegria que o "pantera negra" proporcio-nou a todos os adeptos do jogo.Dois nomes ficam assim gravados para sempre na galeria dos ilustres, exemplos únicos que inspiram várias gerações pelo mundo fora.c

Rui Batista

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revista capital fevereiro 2011

VISÃO62

Distribuição de renda: Melhor fazer pelo mercadoou pela acção do Estado? (II)Paulo Roberto de Almeida* [texto]

O s mecanismos de distribuição no liberalismo clássico dão-se através do pagamento dos factores: lucros e juros para o

capital, salários para o trabalho, alugue-res para as propriedades, royalties ou direitos de autor para a propriedade inte-lectual, e assim por diante. A democrati-zação social e os avanços da representação política, com o alargamento das franquias democráticas e a ampliação das obriga-ções do Estado desde o início do século XX, redundaram na introdução de novos mecanismos fiscais – tributos directos e indirectos, taxas sobre o património, etc. – que todos caminharam no sentido da pro-gressividade (ainda que alguns países se-jam conhecidos pela nítida regressividade dos impostos, como o próprio Brasil, por exemplo). O welfare state aprofundaria essas tendências e as legitimaria, alegando que políticas sociais são importantes in-clusive por razões de eficiência económica, já que a redistribuição de renda aumenta o consumo e, portanto, pode contribuir para o crescimento do PIB.Fabianos e outros socialistas converte-ram-se nos campeões do distributivo à outrance, o que se, por um lado, diminuiu as disparidades mais gritantes nessas so-ciedades (especialmente nórdicas e da Europa ocidental, inclusive os EUA), tam-bém actuou, por outro lado, no sentido de favorecer a deslocalização de empresas e a busca de novas residências fiscais, menos intrusivas e pesadas (o que já constitui um dos efeitos negativos da "justiça social" via carga impositiva). Governos liberais, por sua vez, procuravam reduzir os desincen-tivos ao investimento produtivo pela via da redução de impostos, como fizeram vários governos republicanos nos EUA. Outros mecanismos foram sendo conce-bidos para redistribuir renda, inclusive alocações directas, seguro de desemprego, reconversão laboral, subsídios habitacio-nais, políticas regionais com incentivos

fiscais e uma infinidade de programas que surgiram da iniciativa de políticos e da imaginação criadora de tecnocratas bem-intencionados.A verdade é que a parafernália de progra-mas sociais criados pelo Estado de bem-estar agrava a crise fiscal; os governos au-mentam a punção fiscal, não mais para fins de redistribuição, mas para o seu próprio equilíbrio orçamental. Países com maior carga fiscal, sobre o trabalho e sobre os lu-cros, são os que menos crescem e apresen-tam as menores taxas de empregabilidade (cf. James Gwartney et alii, “The Scope of Government and the Wealth of Nations”, Cato Journal, vol. 18, n. 2, 1998, p. 163-190). Essa evidência não impede aqueles que ignoram princípios elementares de economia e que desconhecem, por exem-plo, a "curva de Laffer" (que prevê queda na arrecadação com o aumento dos im-postos), de continuar propondo extorsão tributária – como o imposto sobre as gran-des fortunas –, cujas consequências mais evidentes são o aumento da elisão fiscal e a fuga de capitais, entre outros efeitos.A experiência prática e algumas equações económicas ensinam que a melhor forma de se obter redistribuição de renda é atra-vés dos mercados – eventualmente por meio de alguma indução estatal, mas de preferência não directamente pelo Estado – e que é sempre melhor actuar sobre os fluxos de renda do que sobre os stocks de riqueza. Governos muito empreendedores na área fiscal acabam gerando efeitos in-versos aos esperados, quando não uma di-minuição significativa das oportunidades futuras de crescimento. Em todo o caso, o mito da redistribuição de renda parece irremediavelmente entranhado nas de-mocracias modernas, mesmo ao preço da diminuição da eficiência económica. O de-bate não vai parar por aqui....c

* Sociólogo e diplomata,Fonte/Publicado no www.ordemLivre.org.

«A experiência prática e algumas equações económicas ensinam que a melhor forma de se obter redistribuição de renda é através dos mercados – eventualmente por meio de alguma indução estatal, mas de preferência não directamente pelo Estado – e que é sempre melhor actuar sobre os fluxos de renda do que sobre os stocks de riqueza. Governos muito empreendedores na área fiscal acabam gerando efeitos inversos aos esperados, quando não uma diminuição significativa das oportunidades futuras de crescimento. Em todo o caso, o mito da redistribuição de renda parece irremediavelmente entranhado nas democracias modernas, mesmo ao preço da diminuição da eficiência económica.»

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