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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA FACULDADE DE CIENCIAS SOCIAlS APLICADAS CURSO DE RELA<;:OES INTERNACIONAIS HEGEMONIA NORTE-AMERICANA NO paS-GUERRA FRIA: RENOVAC;Ao, DECLiNIO OU FIM CURITIBA 2005

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANAFACULDADE DE CIENCIAS SOCIAlS APLICADAS

CURSO DE RELA<;:OES INTERNACIONAIS

HEGEMONIA NORTE-AMERICANA NO paS-GUERRA FRIA:RENOVAC;Ao, DECLiNIO OU FIM

CURITIBA2005

SERGIO TENORIO DOS SANTOS

HEGEMONIA NORTE-AMERICANA NO paS-GUERRA FRIA:RENOVA<;AO, DECLiNIO OU FIM

Monografia apresentada como pre-requisitode conclusao do curso de RelagoesInternacionais da Universidade Tuiuti doParana.

Orientador: Prof. Jose Renate Teixeira da Silva.

A todos os homens e mulheres que a sua maneira determinam 0

rumo da histaria da humanidade, indistintamente

A Lucia, Emilly e Willian que a cada dia me fortalecem, meencorajam, me ap6iam e me impulsionam a escrever minhahistaria no livro em branco recebido de Deus, pois eles sao aminha razao.

A estrada da ignortmcia e muito curta, no inverso, quanto maispercorremos a estrada do conhecimento, mais percebemos 0

quaa langa ela e. A diferenqa fundamental Ii que enquanta aprimeira Ii caberta pelas trevas, a segunda e servida de luz.

Sergio Tenorio dos Santos

iii

SUMARIO

RESUMO v

ABSTRACT vi

RESUMEN vii

INTRODUCAO 1

1. Conceito de HegemoniaJ Imperio e Imperialismo 4

1.1 Origem do conceito de Hegemonia 4

1.1.1 Lenin, Gramsci e 0 conceito de Hegemonia 5

1.2 Co nee ito de Imperio 7

1.2.1 Imper;os atraves da hist6ria 8

1.3 Conceito de Imperialismo 11

1.3.1 Imperialismo na visao Liberalista e Marxista 12

2. Os Estados Unidos e a Ordem Mundial do P6s-Guerra Fria 15

3. Debate sabre a Hegemonia Norte-Americana no Pas-Guerra Fria 24

3.1 Renova~ao da Hegemonia 25

3.2 Oeclinio da Hegemonia 28

3.3 Fim da Hegemonia 31

CONCLUSAO 35

REFERENCIAS BIBLlOGRA.FlCAS 38

iv

RESUMO

Durante aproximadamente 25 anos do p6s-segunda guerra, os Estados Unidos daAmerica detiveram a hegemonia do sistema internacional atraves de seu podermilitar, economico, politico e cultural. A partir dos anos de 1970 pela perda dodomInic global da economia e par derrotas militares, iniciou-se seu processo dedectinio hegemonico. Ap6s 0 fim da ordem bipolar pela dissotu,ao da UniaoSovietica em 1991. reabriram-se as debates entre declinistas e renovacionistassabre 0 futuro da hegemonia norte-americana na nova ordem em formac;ao nosistema internacional, onde 0 jogo do poder S8 constitui de novas regras e de urnnovo concerto de for~s, onde a competiyao no sistema S8 mostra amplamenteeconomica. Este trabalho tem 0 objetivo de contemplar 0 debate sobre estasinvestigac;oes, a partir das opini6es centrais de Joseph S. Nye Jr., ImmanuelWallerstein e Michael Hardt & Antonio Negri, enriquecido petas opini6es de CristinaSoreanu Pecequilo, dentre Quiros, com vistas a resposta da questao: urenov898o,declinio ou tim da hegemonia norte-americana no p6s-guerra tria", aposcontextualizar os Estados Unidos da America que buscam a reatirmaC;80 de suahegemonia na ordem mundial do pos-guerra tria, fortemente marcada pela revoluc;aotecnologica e pelos processos de globalizac;ao, e apos conceituar os termosHegernonia, Imperio e Imperialismo enquanto formas de dominac;ao de urn Estadosobre outros no sistema intemacional para atender seus interesses.

ABSTRACT

During approximately 25 years from the post-World War II, the United States ofAmerica had the hegemony of the international system by their military, economic,politic and cultural power. Since the 1970·s by the loss of the economy global domainand by the military defeats, their hegemonic decline process started. After the end ofthe bipolar order by the Soviet Union collapse in 1991, were reopened the debatesbetween decliners and renewers about the future of American hegemony in theforming order in the international system, where the power game is made of a newset of rules and of a new concert of powers, where the competition in the systembecomes largely economic. This work has the objective to contemplate the debateabout these investigations, from the central opinions of Joseph S. Nye Jr., ImmanuelWallerstein and Michael Hardt & Antonio Negri, enriched by the opinion of CristinaSoreanu Pecequilo, among others, in order to answer the question: "renovation,decline or end of U.S. hegemony in the post-cold war", after contextualizing theUnited States of America that are searching the reaffirmation of their hegemony inthe post-cold war world order, strongly marked by the technological revolution and bythe globalization processes, and after to concept the terms hegemony, empire andimperialism as domination forms of one State over others in the international systemto attend their interests.

vi

RESUMEN

Durante aproximadamente 25 arios de post-segunda guerra, los Estados Unidos deAmerica, detuvieron la hegemonia del Sistema Internacional a traves de su podermilitar, economico, politico e cultural. A partir de los anos de 1970, por la perdida deldominic global de la economfa y par derrotas militares, comienza su proceso dedeclino hegemonico. Despues del fin de la orden bipolar par la disoluci6n de la Uni6nSovietica en 1991, S8 reabren los debates entre declinistas y renovacionistas sabreel futuro de la hegemonia norte-americana en la nueva orden en formaci6n en 10sistema internacional, donde el juego del poder S8 constituye de nuevas rsglas y deun nuevo concierto de fuerzas, donde la competicion en el sistema S8 muestraampliamente econ6mica. Este trabajo tiene el abjetivo de contemplar el debate sabreestas investigaciones, partiendo de las opiniones centrales de Joseph S. Nve Jr,Immanuel Wallerstein y Michael Hardt & Antonio Negri, enriquecido par las opinionesde Cristina Soreanu Pecequil0 entre otros, objetivando respuesta a la cuesti6n"renovaci6n, declino a fin de la hegemonla norte-americana en el post-guerra tria",despues de ensefiar los Estados Unidos de America que buscan la reafirmacion desu hegemonia ella orden mundial del pas-guerra frla, tuertemente marcada par larevoluci6n tecnol6gica y par los procesos de globalizaci6n, y despues de conceptuarlos term in as hegemonia, imperio e imperialismo en cuanto formas de dominaci6n deun Estado sabre otres en el sistema internacional para atender sus intereses.

vii

INTRODU9AO

Durante a guerra fria (1945 a 1991), as superpotencias - Estados Unidos da

America (EUA) e Uniao das Republicas Socialistas Sovieticas (URSS) - controlaram

o poder decis6rio global e 0 contexto ideol6gico mundial. Com seu tim em 25 de

dezembro de 1991, pel a dissolu\'iio da URSS e conseqOentemente 0 do Pacto de

Varsovia, da-se 0 debate acerca da natureza da ordem mundial que S8 estabelec8.

Para Boutros-Ghali, 0 sistema internacional bipolar da guerra fria, que envolvera

politicamente, economicamente e estrategicamente cada paiS no mundo,

desapareceu praticamente da noile para 0 dial.

Para alguns aumenta a demanda internacional pela lideran<;8 e pel a

afirmal;8o dos valores universais no mundo. para Qutros e justamente esla

possibilidade de urna ordem unipolar que tara crescer as a<;6es de resistencia ahegemonia. Para Pecequilo, esla nova ordem em forma<;8o no sistema internacional

se apresenta ainda mais complexa que a antiga ordem moldada pela bipolaridade,

pois presencia as mais variadas disputas entre as Estados nacionais pela hierarquia

de poder, conflitos armados e a interdependencia da globalizac;:ao economica2.

Boutros-Ghali afirma que a expansao rapida do comercio internacional e a

revolu9ao tecnol6gica causaram mudanc;as sem precedentes no cenario

internacional. Ele argumenta que a explosao do conhecimento cientifico produziu

notaveis inven<;6es e a horizonte humano pareceu nao ter mais limite. Para a autor,

a revoluc;:ao das telecomunicac;:6es esta criando urn mundo incrivelmente

interconectado, onde as imagens tern tido mais influencia do que as pr6prios fatos.

Urn mundo globalizado onde as fronteiras nacionais sao men os importantes, 0 que

gera possibilidades e problemas.3

, BOUTROS-GHALI, Boulros. Global Leadership: After the Cold War, Foreign Affairs (maL/apr. 1996)Vol. 75, Number 2 (original em ingles).Soutros Boutros-Ghali foi 0 sexto Secretano Geral da ONU (1992 a 1996), sucedido por Kofi Annan.2 PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Politica Extema dos Estados Unidos: Continuidade auMudanc;a?,1 Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.Cristina Soreanu Pecequila e Mestre e Doulora em Ciencia Politica pela USP, pesquisadoraassociada do NERINT, Professora e Coordenadora do Curso de Relac;oes Internacionais do Unibero.3 BOUTROS-GHALI, Boulros. Op. Cit.

Pecequilo complementa que para a explica~ao deste processo de

mundializa~ao, aumenta-se a intensidade dos debates sabre as relac;6es

internacionais utilizando-se de enfoques analiticos que associam em doses variadas

as teerias realistas, institucionalistas e construtivistas4.

Para Huntington, 0 fim da guerra tria foj desorientador palo fato de ter

terminado com uma ordem de quase meio seculo de politicas, missoes burocraticas

e toda uma orientayao intelectuals. Freedman acrescenta que qualquer nova ordem

a ser formada paden; ser confusa e desarrumada e a papel dos Estados Unidos nela

pode nao ser tao central como as americanos e seus aliados estao acostumactos6.

Pela ordem mundial que se apresenta naD estar firmemente estabelecida e

par ser sabido, conforme afirmado par Rosecrance, que 0 sistema internacional sem

urn governo supranacional existe em formal anarquia, composto por rela90es

internacionais nao baseadas em sistemas sociais e rela.yoes domesticas7, torna-se

necessario compreender a transiyao do mundo Bipolar para a nova ordem

internacional, 0 reflexo dos val ores sociais, politicos e economicos norte-americanos

sabre a mundo globalizado e a papel que as Estados Unidos procuram

desempenhar neste "novo mundo" para atender seus interesses nacionais.

Pecequilo argumenta que:

"(...) as Relacoes Internacionais vem sendo marcadas par inumerasincertezas e transformac;oes que acentuam 0 carater transiterio do mundo dopes-Guerra fria cujo nascimento data de 1989. Apesar da supremacia dosEstados Unidos e de que afirmemos que estamos vivendo a segunda era dedominacao desta hegemonia, consolidada a partir de 1945, podemosapresentar inumeros questionamentos a respeito de sua durabilidade eeficiencia." (Pecequilo, 2003, p. 01).

4 PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Politica Extema dos Estados Unidos: Continuidade ouMudanc;a?,l Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.5 HUNTINGTON, Samuel P. The Lonely Superpower, Foreign Affairs (maL/apr. 1999) Vol. 78,Number 2 (original em ingles).Samuel P. Huntington e Diretordo "Center for International Affairs" da Universidade de Harvard.6 FREEDMAN, Lawrence D. Order and Disorder in the New World, Foreign Affairs (199111992) Vol.71, Number 1 (original em ingles).Lawrence D. Freedman e Professor de Estudos de Guerra do -King's Collegen de Londres.7 ROSECRANCE, Richard. A New Concert of Powers, Foreign Affairs (spring 1992) Vol. 71, Number 2(original em ingles).Richard Rosecrance e Professor de Ci~mciaPolilica e Direlor do Centro de Rela¢es Inlemacionaisda Universidade da Calir6rnia.

Partindo-se deste pressuposto, objetiva-se neste trabalho verificar se na visEio

de te6ricos das Rela<;:6es Internacionais, existe renova<;:Elo, declinio ou fim da

hegemonia norte-americana no p6s-guerra fria.

o primeiro capitulo trata da conceitua<;:Elo dos termos Hegemonia, Imperio e

Imperialismo enquanto formas de domina<;:8.o de um Estado sobre outros no sistema

internacional, quer seja pelo seu poder militar, economico, politico ou cultural, com

vistas a influenciar e impor seus desejos aos demais, de forma que sua supremacia

seja mantida no sistema e que seus interesses sejam atendidos. A distin<;:ao e 0

entendimento destes termos sao de importancia fundamental para a analise do

papel que os Estados Unidos da America tern ocupado no cenario global desde

1776 enquanto fonte de dominayao e influencia do sistema internacional.

o segundo capitulo contextualiza a superpotencia norte-americana,

possivelmente a (Inica, em meio as transforma<;:oes do sistema internacional na

ordem mundial do p6s-guerra fria, marcada pela transi<;:ao do comunismo para 0

capitalismo, pela revoluyao tecnologica e pel os processos de globalizayao, onde 0

jogo internacional se mostra com novas regras. com urn novo modelo de competic;ao

marcado por for<;:as de integra<;:ao e fragmenta<;:ao e por urn novo concerto de for<;:as.

Neste momenta em que a unipolaridade e a multipolaridade tern sido amplamente

discutida. os Estados Unidos buscam a reafirma<;:ao de sua hegemonia,

independente de sua natureza.

o terceiro e ultimo capitulo contempla 0 debate acirrado entre as correntes de

declinistas e renovacionistas nas investiga<;:oes do futuro da hegemonia norte-

americana na nova ordem mundial, que se encontra permeada por um vasto

processo de globalizac;ao, pela afirmac;ao de valores universais liberais, pela

interdependencia, pela democracia e pelo reordenamento das posic;6es dos

Estados, ao ter se tornado a competic;ao internacional amplamente econ6mica.

Embora este trabalho tenha sido enriquecido com a opiniao de varios autores, como

Cristina Soreanu Pecequilo, a discussao central encontra-se sedimentada nas obras

de Joseph S. Nye Jr. pela renova~e, Immanuel Wallerstein pele declinie e Michael

Hardt & Antonio Negri pelo tim da hegemonia norte-americana no pos-guerra tria.

1. Conceito de Hegemonia, Imperio e Imperialismo

Hegemonia, Imperio e Imperialismo sao as formas atraves das quais urn

Estado pode exercer a dominaC;8o sabre Qutros no sistema internacional e manter

seu poder para persuadir seus subordinados a aceitar, adotar e internalizar seus

valores e normas. A distin980 entre estes termos e 0 seu pleno entendimento nos ede fundamental importancia para a determinayao do papel que os Estados Unidos

da America tern ocupada no cenario internacional desde 1776 e principalmente 0

que tende a ocupar na ordem em formaC;8o no pas-guerra tria.

1.1 Origem do conceito de Hegemonia

o termo hegemonia teve origem na Gn;cia antiga entre 500 aC e 300 aC.

Neste period a as cidades-estado soberanas que coexistiram no mediterraneo

oriental, cada uma com sua propria cultura politica, sistema economica, re1igi80,

territ6rio e propriedade, apesar de estarem em constante intercambio social,

comercial e cultural, frequentemente se encontravam em guerra umas com as

outras. Suas relayoes eram governadas pelo balanyo de poder e por certos tipos de

alianyas, como a hegemonika symmachia ou alianga hegemonica, sob a lideranya

de uma cidade-estado dominante chamada hegemon. Outras alian<;as eram

alternativas a hegemonica, como as militares de ataque au defesa e as de

tratamento igualitario.8

Os hegemons se sucederam no tempo como Atenas, Esparta e Tebas e a

hegemonia era frequentemente 0 resultado de uma vitoria militar. Os outros estados

se subordinavam militarmente ao estado hegemonico atraves de tratados escritos.

Embora existissem alian9as bilaterais entre as membros 0 mando final era 0 do

hegemon. 0 principia basico de participa9aO na hegemonia era: "Os amigos do

hegemon sao meus amigos, seus inimigos sao meus inimiges". Os participantes da

alianc;:a mantinham suas leis, costumes e independencia econ6mica. Hegemonia nao

significava prote9aO, pOis ao contra rio do imperio Romano e Persa, nenhum tributo

ou taxa era page e a cultura, economia e religiao nao eram impostas.9

8 BLUNDEN, Andy. Hegemony and Amphictony. (May 2005) pages 3-6 (original em ingles).9 Idem

o termo grego hegemonia manteve de certa forma seu significado atraves

dos tempos. Hegemon "Iider" e hegeisthai "Iiderar", desde 0 s.kulo XIX tem sido

usado especial mente para representar a domina9ao de um Estado, regiao ou grupo

sobre urn outro ou outros que estao em sua esfera de influ€mcia, com ou sem 0 uso

da forc;a para estende-Ia. 0 termo hegemonism e usado para definir a polftica de

grandes potencias que procuram estabelecer a sua superioridade ao influenciar as

outros Estados do sistema internacional.10 De forma mais abstrata, a termo

hegemonia tambem e utilizado para descrever a "ditadura proletaria" do seculo XX.

1.1.1 Lenin, Gramsci e 0 conceito de Hegemonia

o termo hegemonia foi usado no senti do politico em 1905 par Lenin11 em

debates no Partido Trabalhista Social-Democrata Russo (RS.D.L.P.) sobre como se

obter 0 poder politico para a classe proletaria, em bora antes dele tenha sido utilizado

par outros marxistas russos ao defender a ideia de uma alianya da classe operaria e

dos camponeses contra a tirania do Tzar. Durante a revolwyao de 1905-07, Lenin

desenvolveu a ideia de hegemonia do proletariado na revoluy8.o democratico-

burguesa e trabalhou sua teoria na expansao para a revoluyao socialista. Para

Lenin, do ponto de vista marxista, a hegemonia era parte integrante da formayao de

uma classe12. Ele a via como uma estrategia revolucionaria da classe trabalhadora e

de seus representantes, para obter a suporte necessario da maioria das pessoas.13

Gramsci14 escreveu sua tearia sabre hegemania na carcere entre 1926-37

ap6s ter sida aprisianada par Mussalini15 que cansiderou seu partida palftica ilegal.

o canceito Gramsciano de hegemania transcende 0 Marxismo classico que

cansidera a econamia como a base da saciedade sabre a qual repousa uma

10CLARK, George. Hegemony and the hidden persuaders. (June 2005) (original em ingles)11 Vladimir llich Ulyanov (1870·1924), russo revolucionfuio e lider do Partido Bolshevik, foi 0 primeiropresidente do Conselho de Ministros da Uniao Sovietica. Lenin era um de seus pseudonimosrevolucionarios.12 "From the standpoint of Marxism, the class, so long as it renounces the idea of hegemony or fails toappreciate it, is not a class, or not yet a class, but a guild, or the sum total of various guilds." (Marxismand Nasha Zarya, Lenin, 1911).13 BLUNDEN.Andy. Op. Cit. FRONTLINE, Appropriating Gramsci. International Socialist Movement,16

{~~~~~~i~m6~;~:~i (1891.1937), foi teerico e lider politico italiano, membro do Partido Socialista e

P50~:~ii~~n;.~~I~cr~·f~~~~::r~~S~~I~~~1~~~~~~~),dC~i~t~l~~~~:~~.fascista na Italia atraves do uso daviolencia e repressao, da propaganda, controle total da midia e desmanche do govemo democratico.

superestrutura de cren<;as e instituigoes polfticas, civis e culturais que determina a

forma de pensar das pessoas. Apesar de concordar com a vi sao de Lenin, mas

inspirado nos escritos de Machiavelli'6 e Pareto17, para Gramsci uma classe

politicamente dominante nao se mantem somente pelo usa ou trato da for9a e pelo

poder economico, mas tambem pelo "consentirnenton das classes dominadas, obtido

por uma ulideranga intelectual e moraj» em torno de ideias e valores.18

De acordo com 0 conceito gramsciano de hegemonia que nao desearta a

importancia da forga politiea de coen;ao, podemos concluir que 0 sistema de erengas

entao aceito atravessa posic;6es de classe e produz uma nova vontade coletiva que

se mantem por meio politico e ideologico. Oesta forma, a ascensao de uma classe e

marcada nao somente pela esfera economica, mas pela esfera social, politica e

ideologica, e, pel a habilidade que esta classe dominante possui em persuadir as

outras classes a verem 0 mundo em termos favoraveis a ela.

Segundo Gramsci, para que um sistema politico obtenha sucesso entao,

torna-se necessaria a criagao de urn Blaca Historico19 unificada em torn a de urn

projeto hegemonica, no qual a ciasse daminante cria alianeyas e ganha 0

eonsentimento para suas instituigoes e ideias. E atrav8s desta rede de instituigoes,

de relag6es socia is e ideias que a hegemonia se produz e 58 reproduz, pOis projeta

sua forma particular de visao de mundo ou ideologia, farm ada por valores morais e

regras de comportamento, que e aceita como senso comum e como parte da ordem

natural das eoisas. E a "Hegemania Cultural" que assegura que as ideias da classe

dominadora pare<;arn naturais, inevitaveis e inquestionaveis, como a direito do

individuo a vida, liberdade e busea da felicidade.20

No conceito de hegemonia concebido por Gramsci como urna lideranga moral

e intelectual do Bloco Historico que comb ina consentimento e foreya para estabelecer

16 Niccolo Machiavelli (1469-1527) foi estadista Fiorentino e fil6sofo politico. Figura central da leonada politica realista, escreveu dois livros famosos: "Discourses on Livy- e -The Prince-.17 Vilfredo Pareto (1848-1923) fez importantes contribui((oes a economia, sociologia e filosofia moral.Suas teorias influenciaram Benito Mussolini e 0 desenvolvimento do fascismo na ltelia." FRONTLINE, Op. Cil. CLARK, George, Op. Cil.19 0 Bloco Hist6rico e a coalizao de interesses que compartilha da solidariedade polftica e que

~oo~~~~, ~~~e~:~~~~~it~a~~K~~;;I~~ ~~gt:~~~~ (Encyclopedia on line) em ingles.

uma ordem etica e politica em uma dada epoca, se deve levar em conta as

interesses e as tendemcias dos grupos sobre os quais a hegemonia sera exercida,

formando urn certo equilibria de cornprornisso, onde a grupo dirigente faya sacrificios

de ordern econ6mico-corporativa. E tambem indubitavel que os sacrificios e 0

compromisso nao se reJacionam com a essencial, pais se a hegemonia e etico-

politica tambem e economica, assim, nao pode deixar de se fundamentar na fungiio

decisiva que a grupo dirigente exerce no nucleo decisivo da atividade econ6mica.

A partir deste conceito de hegemonia, a conquista e obtida atraves da

persuas80 e do consenso. Ela transcende a esfera econ6mica e polftica da

sociedade ao atuar tambem sobre a forma de pensar, sobre as orientayoes

ideol6gicas e inclusive sobre 0 modo de conhecer. A concep930 de mundo das

classes dominantes e imposta as classes dominadas de forma que seus interesses,

frutos de uma ideologia que atende a sua fun~ao historica, sejam atendidos. A

concepy80 de mundo das primeiras atinge as classes subalternas de forma a se

construir a influencia ideal capaz de modelar as consciencias de toda a coletividade

e formar a pr6pria hegemonia, processo interminavel par T11'f hegemonia nunca ecompleta. ~•.•

:f?" ,(}j ..'~i,"'> " J)'\. "::':'::';''7

1.2 Conceito de Imperio

Na definiy80 convencional, existe Imperio quando um grupo de regi6es ou

Estados esta sob a autoridade de uma entidade soberana. 0 termo Imperio que

deriva do Latin "Imperium", tambem pode ser a designay80 de qualquer grande

Estado multietnico controlado de urn unico centro. Pode tambem se aplicar ahegemonias detentoras de grande poder econ6mico e militar, que influenciam

eventos ou se projetam em larga escala sabre 0 sistema internacional - urn imperio

mantem a sua estrutura politica pelo menos parcialmente pela coeryao.21 Na

concepy8o de Cohen, um Imperio e um Estado Multinacional ou Multietnico, que

estende sua influencia atraves de controle formal ou informal de outras polfticas.22

21 ECONOMIC EXPERT, Empire [Encyclopedia on line] em ingles.22 COHEN, Eliot A. History and the Hyperpower, Foreign Affairs (jul.laug. 2004) Vol. 83, Number 4.(onginal em ingles)Eliot A. Cohen e Proressor da "Robert E. Osgood- e Diretor da ~Philip Merrill Center" para Estudos

Aron complementa que "Imperio designa ou 0 poder supremo ou a entidade

hist6rica dentre da qual se exerce esse poder ou que e exercido por ela propria para

o exterior". No sentido abstrato, considera-se Imperio como sendo 0 "carater

supremoau incondicionaldo poder". No sentido politico au historico baseado na

experiencia Romana, significa a pluralidade de povos submetidos a um mesmo

poder supremo. Ele argumenta que uRaros eram os reinos que atingiam a grandeza

imperial sem ampliar suas fronteiras" e que "os patriarcas da Republica dos Estados

Unidos sonhavam com um Imperio americano ou com urn Imperio de lingua inglesa

no Novo Continente". 23 FreqOentemente utiliza-se 0 termo uimperio americano" para

descrever a influencia politica, econ6mica e cultural dos EUA em escala global, 0

qual se baseia na historia americana e na sua ideologia expansionista expressa no

ethos cultural do "Destino Manifesto,,24, chamado de "Excepcionalismo Americano,,25

1.2.1 Imperios atraves da historia

Na Roma antiga, 0 termo "imperium" era utilizado para indicar a medida do

poder que uma pessoa possuia - a sua autoridade legal. 0 termo "Imperio Romano"

(31 de), e usado normalmentepara referenciar a politica da Roma Antiga nos

securos que seguiram a sua reorganizar;:8o sob a lideranr.;a de "Caesar Augustus"

(Octavian), nele, a palavra "Imperio· significa as territorios de alem-fronteira

contrelados por Roma. Por muito tempo, utilizou-se no ocidente a palavra "Imperio"

para designar os Estados que se consideravam sucessores do Imperio Romano,

como 0 Imperio Bizantino, parte oriental do Imperio Romano que permaneceu ap6s a

queda do Imperio Romano no seculo V, como 0 Sacre Imperio Romano, uma

Estrategicos na Escola de Estudos In\emacionais Avan~dos da "Johns Hopkins University~.23 ARON, Raymond. Republica Imperial: Os Estados Unidos no Mundo do P6s-Guerra, Rio deJaneiro: Zahar Edilores, 1975, p. 284-285.Raymond Aron (1905-1983) e frances, filosofo, soci61ogoe comentador politico.24 0 Destino Manifesto e uma cren~a do seculo XIX de que os EUA tinham uma missao divina deexpansao de suas fronteiras, da America do Norte ate 0 Oceano Pacifico. 0 termo foi criado pelojornalisla John O'Sullivan em 1845 ao escrever "il was the nation's manifest destiny to overspread and10 possess the whole of the continent which Providence has given us for the development of the greatexperiment of liberty and federated self-government entrusted to us." 0 Destino Manifesto naa foi umaideologia au politica e sim uma no~ao geral que combinava elementos do excepcionalismoamericano, nacionalismo e expansionismo, embora alguns acreditam ele fundamenta parte da visaode mundo americana e sua politica. WIKIPEDIA, Manifest Destiny. (Encydopedia on line] em ingles.25 Excepcionalisma Americana e a ideia de que os Estados Unidos e a pavo Norte-Americano tem urnJugarespecial no munda por oferecer apartunidade e esperam;;apara a humanidade, derivado de umbaJan~ode interesses publicos e privados governados par ideals consillucianais que estao focadosna liberdade pessoal e econ6mica. WIKIPEDIA, American Empire. [Encydopedia on line1em ingles.

conglomerayao politica de terras na Europa Central e Ocidentai na idade media, ou,

como 0 Imperio Russo control ado por Moscow - a terceira Roma.26

Historicamente, os imperios se formaram a partir da utiliz8yao do forte poder

militar de um Estado para incorporar outros Estados a uma uniao politica maior.

Muitos imperios, como 0 antigo Egito e a Mesopotamia, mantiveram 0 poder sobre

seu povo a partir do controle dos recursos vitais, como a agua - eram os chamados

"Imperios Hidraulicos" A religiao comum foi outro fator de fortalecimento dos

imperios, como ocorreu com a adoyao do cristianismo par Constantine I, imperador

Romano em 306 dC. No Imperia Chines, foi a influencia cultural a principal fator de

sobreviv€mcia do Imperio, assim como, de sua semi-imperial esfera de influencia.27

Atraves dos tempos, as entidades que se consideravam grande em tamanho

e poder incorperavam a si 0 nome "Imperion, como a Bulgaria, independente de

serem uma monarquia ou nao. Os Europeus definiram com este nome as grandes

monarquias nao europeias, como a Imperio Chines au Mongol (Moghul Empire). No

Oriente Medio e na Africa, os arabes e tambem os turcos construiram grandes

imperios. Embora os irnperios se originaram tradicionalmente a partir de poderosas

monarquias, alguns cham ados de "Imperio" desenvolveram-se sobre as auspicios

democraticos, como os imperios de Atenas e Britanico. Urn imperio pode passar per

varias transformayoes politicas, 0 Sacro Imperio Romano por exemplo, ao procurar

reconstituir 0 Imperio Romano acabou experirnentando 0 federalismo e se

constituindo no Imperio Austriaco, diferente em natureza e territorio.28

o conceito de "Imperio" embora presente no mundo politico moderno perdeu

sua coesao semantica. 0 unico Estado governado por um imperador e a Japao e

cumpre uma monarquia constitucional com uma popuJa9ao de aproxirnadamente

99% de etnia japonesa. A Uniao Sovietica par sua vez, ernbora preenchesse rnuito

dos criterios de urn "Imperio" comparado as similaridades dos imperios do passado,

nunca clamou ser urn, alem de nao ter sido governado por urn imperador. A maior

parte dos Estados multietnicos atuais nao se veern como imperios, mas como

"ECONOMIC EXPERT, Op. Cit.271dem.28 Idem

10

federac;:6es voluntarias como a Belgica, ou como unloes, a exemplo do Reina Unido

e da Espanha. A maieria deles tern estrutura democratica e ope ram sob sistemas

que compartilham poder atraves de multiplos niveis de governo que S8 diferenciam

entre areas de jurisdi9ao federal ou provincial/estatal.29

Os Estados Unidos da America sao categorizados como uma federayao,

mesma tendo 0 Norte usado da coerc;:ao para conservar a "uniao" durante a guerra

civil americana, 0 que para alguns faz esta categoriz8t;:flo ambigua. No p6s-guerra

tria as Estados Unidos emergiram como uma superpotencia sem rivais e em bora naD

tenham se engajado na expansao formal de territorios desde a aquisiyao do Havai,

Filipinas e IIhas Virgens, para muitos 0 seu poder militar e influencia econ6mica 0

permitem exercer um tipo de hegemonia neo-imperial informal em grande parte do

mundo moderno.30

Desde os imperios antigos, os soberanos estenderam seus reinados atraves

da conquista e submissao de outros Estados. Os Imperios multinacionais existentes

na hist6ria politica madema eram limitados por outros imperios, no entanto para os

Estados Unidos da America nao existem outros poderes semelhantes capazes de

causar a sua limitac;ao. Enquanto os imperios europeus existiram em um sistema

politico permanentemente multipolar, 0 "imperio americano~ se existir, encontra-se

num mundo unipolar, a que a coloca no patamar de "Imperio Global" Para Donnelly,

a fato do "Imperio Americana" ser tao debatido atualmente e que mesmo as Estados

que 0 temem ou 0 sao opostos, definem suas politicas intemacionais quase que

inteiramente em funyao do poder norte-americana. No "Imperio da Liberdade" de

Thomas Jefferson31, nunca existiu segundo Kennedy, nada como a disparidade de

poder atual, nada32.

29 WIKIPEDIA, Empire. (Encyclopedia on line] em ingles.30 Idem.J1 Thomas Jefferson (1743-1826) foi 03° presidente dos EUA, estadista, embaixador, filesofo politico,fundador da Universidade de Virginia, adquiliu Louisiana da Franva em 1803 por US$15 milhOes.32 DONNELLY, Thomas. The Past as Prologue: An Imperial Manual, Foreign Affairs (jul.laug. 2002)Vol. 81, Number 4 (original em ingles).Thomas Donnelly e escrilor e analista de assuntos militar e defesa, seguranca nacional e politicaexterna norte Americana.

11

1.3 Conceito de Imperialismo

No sentido politico e classico, 0 Imperialismo e a dominaC;8o de uma nac;ao au

Estado sobre Qutros, para as quais sao impastos seus desejos no senti do politico,

econ6mico ou cultural, com determinada gen3ncia nos assuntos de estado das

nac;6es dominadas e com usc eventual de forc;a militar para garantir a hegemonia,

sem necessariamente contrale formal de territ6rios. Usado a partir do final do saculo

XIX para descrever a Pax Britannica33, 0 termo "Imperialismo" tern suas raizes

intelectuais em Alighieri34, influenciado par Dee3s que no sEkula XVI criou 0 termo

"Imperio Britanico" Na atualidade S8 confunde com dependencia e neocolonialismo

ao definir as rela¢es econ6micas dos paises desenvolvidos com paises pobres.36

Para Aron. ~Imperialismo" e a intervenr.;:8.o de uma pot€mcia no mundo inteiro

sem visar a edificagao de um "Imperio" - uma diplomacia Imperial. Uma grande

potencia se torna mais imperial a medida que a magnitude de seu poder, da

amplidao e natureza de seus projetos e do relacionamento com as outros Estados,

se distancia de seus aliados par ser "Ievada a assumir a defesa au a

responsabilidade de extensas zonas do campo diplomatico". Em um sistema bipolar,

ambos os contend ores utilizam-se da diplomacia imperial para limitar a expansao do

rival. Para ele, toda grande paten cia tende a uma diplomacia imperial e esta ao

imperialismo, ditando para as desiguais a conduta no exterior e as vezes no

interior.37

De acordo com 0 Oxford English Dictionary, na Inglaterra do saculo XIX 0

termo imperialismo era usado para descrever as politicas inglesas, depois, foi usado

para referenciar as politicas do Imperio Romano. Para a Economic Expert, no seculo

XX 0 imperialismo foi usado para descrever as politicas da Uniao Sovietica e dos

Estados Unidos, mesmo diferenciando-se entre si e do imperialismo do seculo XIX.

Posteriormente, a termo passou a se aplicar a qualquer alargamento de uma grande

33 Pax Britannica (a exemplo da Pax Romana) se rerere ao periodo do imperialismo Britanico apos abalalha de Waterloo e a guerra de 1812, que conduziu ao periodo de expansao alem-mar ingh~s.34 Dante Alighieri (1265-1321) foi urn poeta italiano, autor de "La Divina CommediaH

35 John Dee roi um matemalicobotanico, astronomo, astr610go, ge6graro e consultor de Elizabeth I.36 Encyclopaedia Britannica do Brasil Publica'Yoes Ltda., Imperialismo. ECONOMIC EXPERT,Imperialism [Encyclopedia on line] em ingles.37 ARON, Raymond. Op. Cit. p. 286-288.

12

patencia sabre potencias men ores. Desde a final da segunda guerra e

particularmente apos 0 colapso da Uniao Sovietica, a invocar.;;aodo imperialismo tern

side feita quase que exclusivamente pela superpotencia restante. os Estados Unidos.

1.3.1 Imperialismo na visao liberalista e Marxista

Se par urn lado os imperialistas acreditam que a aquisig8.o e a manutenry8.o de

imperios e positiv~, combinado com a concepc;8.o da superioridade cultural ou da

propria superioridade do poder imperial, par Dutro, muitos consideram 0 imperialismo

uma forma de explorac;ao mah~fica. No pensamento economico contemporaneo, sao

o Liberalismo e 0 Marxismo as grandes correntes que abordam 0 fen6meno do

imperialismo. Enquanto que para a Liberalismo 0 imperialismo e uma opyao das

grandes potencias industriais para se seguir 0 caminho do desenvolvimento

economico, para 0 pensamento marxista-Ienista 0 imperialismo a a mais alto estagio

do capitalismo, condiyao de sobrevivencia do sistema. Segundo Lenin em sua obra

imperializm, kak vixaia stadia kapitaiisma (1917; Imperialismo, elapa superior do

capitalismo), 0 imperialismo a a culminay80 necessaria do capitalismo.38

Para Lenin, a primeira guerra fol uma simples conseqOencia da expans80 do

capitalismo monopolista que tem substituido 0 capitalismo competitivo. Nesta fase

que causa grandes mudanyas sociais e politicas, pelo capital dominar a sociedade,

a concorrencia ocorre entre gigantescos conglomerados capazes de controlar

setores inteiros da economia nacional e intemacional, foryam os imparios a competir

entre si para controlar as recursos e os mercados por todo 0 mundo. Para os

marxistas, este controle pode se apresentar em forma de maquinayoes geopoliticas,

aventuras militares au manobras financeiras, e, a globalizayao e as praticas dos

Bancos Mundiais sao exemplos de interesses imperiais, pOis os casos classicos de

poder imperialista advem dos Estados mais ricos.39

Para muitos, ata a Uni€lo Sovietica se tomou social-imperialista - socialista

em palavras, mas imperialista ao usar sua infiuencia para dominar 0 bloco do leste e

varios oulros Eslados, como a China. Enquanlo que para 0 liberalismo sao

3e Encydopaedia Britannica do Brasil Publica¢es Uda. Op. Cit.39 Encydopaedia Britannica do Brasil Publica~oes Uda. Op. Cit. ECONOMIC EXPERT. Op. Cit.

1 3

econ6micas as raizes do imperialismo pela necessidade de S8 exportar 0 capital

excedente e S8 expandir na busca de novas fantes de matarias-primas e mercados,

para as marxistas naD S8 justifica 0 expansionism a imperialista pala necessidade de

exportayao de capital excedente, pois dos paises da Europa que dividiram entre si 0

mundo naD colonizado, apenas 0 Reina Unido e a FranC;8 investiam fora de suas

fronteiras e preferiam ao inves de suas colonias, as paises europeus eo oCidente.40

o investimento estrangeiro e atar fundamental da teoria leninista do

imperialismo. Atravas da sua utiliz8C;80 na instalac;ao de empresas de urn Estado em

Qutro, na participa9Sio de empresas ja existentes au na forma de em presti mas e

financiamentos, faz estender al8m de suas fronteiras 0 controle econ6mico e politico

do Estado investidor, alem de possibilitar 0 controle das fontes de materias-primas e

de mercados perifericos do Estado no qual 0 investimento esta sendo realizado.41

Muitos dos Estados menos desenvolvidos afirmam que 0 seu desenvolvimento

econ6mico e amplamente control ado e seriamente retardado pelos Estados

desenvolvidos, atraves de praticas desleais de comercio e pela falta de controle

sobre corporac;oes de negocios internacionais.42

Outra forma de imperialismo e 0 "Imperialismo Cultural" - a pratica de uma

nayao promover sua cultura ou idioma em uma outra. Normalmente e praticado por

um Estado grande, economjcamente e militarmente forte, sabre outro Estado men or

e menos fluente. Este tipo de imperialismo pode ser parte de uma atitude politica

ativa e formal. Nos imperios existentes atraves da historia, as populac;oes tendiam

fortemente a serem absorvidas pela cultura dominante e a adquirir seus atributos de

forma indireta. Um dos exemplos classicos de imperialismo cultural foj a extinc;ao da

cultura e lingua etrusca causada pel a influencia do Imperio Romano.43 Assim sendo,

a pressao de uma cultura alienigena, com diferentes valares e credos, impoe novas

form as de organizac;aa social e pode quebrar a forma tradicional de vida da

civilizac;aa nativa44, naa ficando duvidas entao de que 0 imperjalismo, como 0

Eurapeu, faj a principal respansavel par espalhar influencias atraves de todo 0

40 Idem.~1 Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicacoes Ltda. Op. Cit. ~0 ...42 The Columbia Encyclopedia, Sixth Edition. 2001·05, Imperialism. (Encyclopedia on line) em'!.f.!.P~s. II Ii '\43 WIKIPEDIA, Cultural Imperialism. (Encyclopedia on line) em ingles. ~~ c,~~'"\44 The Columbia Encyclopedia. Op. Cit. fJj ~«)l"~ '_~j\ ~r~'~',J;

14

mundo e por provocar profundos impactos nos Estados sujeitos a ele.

Segundo 0 economista Joseph Schumpeter em sua obra uCapitalism,

Socialism and Democracy" (1942), surgir,; alguma forma de controle centralizado da

economia global baseada no expansionismo ao esgotar-se 0 capitalismo pacifista.45

Atualmente, a visa.o nec-imperialista norte-americana passada aD mundo ao rogar

para si 0 papel global na defini980 de regras, na determina980 de tratamentos e no

usa da for98, objetivando a juStiC;8 e bern comum, podera causar transformac;6es ao

sistema internacional que 0 proprio tim da guerra fria nao causou. Baseado na

hist6ria imperialista, antagonismos e resistemcias a politica norte-americana poderao

entao levar as Estados Unidos a urn mundo mais hostil e muito mais dividido.

Enquanto a hegemonia representa a domina980 de um Estado sobre outros

que estao sob sua area de infiuencia - regional ou global - no sistema internacional,

pela sua supremacia militar, seu poder economica, seu poder de coer9fio ou

persuasao politica e cultural, pela sua lideran9a intelectual e moral, ou, atraves do

conjunto ou sub-conjunto destes atributos para estabelecer sua politica externa e

atingir seus objetivos, um Imperio representa a autoridade soberana emanada de urn

unico centro sobre grupo de regioes ou Estados, com ou sem 0 alargamento de

territorios, que possui influencia suprema ou incondicional nos eventos do sistema

internacional, mantida ao menos parcialmente pela coer9ao de seu poder econ6rnico

e militar. No imperialismo urn Estado para garantir sua hegemonia no sistema,

imp6e os seus desejos politicos, econ6micos e culturais aos demais com au sem 0

uso for9a, sem a pretensao de edificar de urn imperio, mas a possuir gerencia nos

assuntos de estado das na90es dependentes.

Embora os termos apresentados S9 confundam e ate se camplementem, sao

as bases necessarias para 0 entendimento do papel dos Estados Unidos na ordem

mundial, onde atraves de sua superioridade militar, econ6mica e cultural no munda

capitalista, procuram influenciar os outros Estados do sistema a aceitar sua visao de

mundo, intemalizar e seguir as suas regras, no processo de globalizayao que se

alarga na ordem do p6s-guerra fria.

45 Encydopaedia Britannica do Brasil PublicacOes Uda. Op. Cit.

1 5

2. Os Estados Unidos e a Ordem Mundial do P6s-Guerra Fria

Para Pfaff, a categoria de grande patencia foi associada no passado com a

capacidade de invulnerabilidade. 0 surgimento das arm as nucleares retirou qualquer

possibilidade de invulnerabilidade existente e fez nascer uma categoria diferente de

potemcia - a superpotencia, caracterizada pela posse de urn arsenal nuclear capaz

de render as demais, motivada pelo clamor de representar a modelo do futuro da

hurnanidade. 0 colapso do comunismo produziu urn resultado inesperado na ordem

internacional fazendo-s8 repensar 0 conceito de superpotencia. Ao ser removida a

rivalidade, a categoria pode ter S8 extinguido. Atualmente alguns argumentam existir

samente uma superpotencia - as Estado Unidos, para outros, nao existe nenhuma.46

De acordo com a autor, para as Estados Unidos nao foi suficiente ser uma

fon;a nuclear ou a maior for~ economica, foi necessaria uma ideologia. A lnglaterra

tinha armas nucleares em 1952, a Fran~a em 1960 e ambas eram for~as

economicas maiores que a Unia.o Sovietica. No final dos anos de 1960, 0 Japao se

apresentou como potencia economica que se confirmou nos anos de 1970 e 1980,

no momento em que a comunidade europeia estava emergindo como urn potencial

ator economico. Nenhuma delas foi superpotencia, fez reivindica90es por ideologias

ou por alguma rnissao global. Alem da falencia economica, 0 colapso do sistema

Sovietico fo; fundamental mente um produto da exaustao ideologica e moral.47

De acordo com Pecequilo, de 1776 a 1945 os EUA consolidaram 0 seu poder

domestico e se projetaram internacionalmente. De 1947 ao periodo contemporaneo,

se caracterizaram pela ascensa.o e expansao de sua hegemonia. Atualmente,

estariam passando por um processo de renovaC;8a ampla.48 Adiciona Pfaff que as

EUA foram destituidos do papel provido pela sua missao quase que divina e de

autajustifica9aO, que durou par aproximadamente meio seculo. As diretrizes que

canduziam suas relayoes internacionais parecem estar pobremente adaptadas as

46 PFAFF, William. Redefining Wor1dPower, Foreign Affairs (199011991)Vol. 70, Number 1 (originalem ingles).William Pfaff e comentador politico e escritorde RI, atualmente em Hist6ria e Politica dos EUA.47 Idem.48 PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Politiea Extema dos Estados Unidos: Continuidade ouMudanc;:a?,1Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.

16

novas condityoes da vida internacional e aparenta certa desorientaty8o. Os EUA

estao sendo obrigados a reconsiderar 0 que e como devem fazer,49 e no

entendimento de Huntington, ocorrera atraves do redescobrimento de sua propria

identidade.50

Mesma que as EUA sejam a unica superpotemcia, nao significa que 0 mundo

seja unipolar. Para Huntington, em urn sistema unipolar existe uma superpotencia,

nenhuma outra patencia significativa, e, inumeras pequenas potencias. Neste

cenerio, a superpotencia paderia efetivamente resolver sDzinha, importantes

quest6es internacionais e nenhuma coalizao de Estados seria forte a suficiente para

impedir que assim ocorress8, como foi no passado com Roma sabre 0 rnundo

classico e com a China sabre a leste aSiatico.51

No Sistema Bipolar da guerra fria, as rela90es entre as duas superpotencias

centravam a polftica internacional. De acordo com 0 autor, cada superpotencia

dominava uma coaliz8o de Estados aliados e competia com a outra superpotencia

pel a influencia entre os Estados nao alinhados. Urn Sistema Multipolar tern varias

potencias principais de camparavel fanya que caoperam e campetem urnas com as

outras, sendo efetivamente necessaria uma coaliz8o de Estados principais para

solucionar importantes questoes do cenario internacional.52

U( ••) a politica internacional atual nao cabe em nenhum destes tres modelos. Euma especie hibrida de sistema un i-multipolar com uma superpotencia evarias potencias principals. As quest6es principais requerem a arrao da unicasuperpotencia sempre associ ada com alguma combinatyao dos outrosprincipais Estados. Os Estados Unidos de fato sao urn Estado unico comproeminencia em todos os dominios de fortya - economica, militar,diplomatica, ideologica, tecnologica e cultural - com 0 alcance e ascapacidades de promover seus interesses virtualmente em cada parte domundo. Em segundo plano estao as foryas regionais que sao praeminentesem areas do mundo sem ser capaz de estender seus interesses ecapacidades globalmente, sendo Alemanha e Frantya na Europa, Russia naEurasia, China e Japao no leste asiatica, India na Asia do Sui, Iran noSudoeste da Asia, Brasil na America Latina, Africa do Sui e Nigeria na Africa.Em terceiro plano estao as foryas regionais secundarias cujos interesses

49 PFAFF, William. Redefining World Power, Foreign Affairs (1990/1991) Vol. 70, Number 1 (originalem ingles).50 HUNTINGTON, Samuel P. The Lonely Superpower, Foreign Affairs (mar.fapr. 1999) Vol. 78,Number 2 (original em ingles).51 Idem.52 Idem

17

sempre se conflitam com as mais poderosos Estados regionais. Estes incluema Inglaterra em relayao a Alemanha e Franr;:a, Ucrania em relayao it Russia,Japao em relayao a China, Coreia do Sui em relaryao ao Japao, Paquistao emrelayao a india, Arabia Saudita em relayao ao Iran e Argentina em relac;ao aoBrasil." 5J

No inicio da decada de 90 surge nos EUA um sentimento de declinio de sua

hegemonia e a vontade de continuar a liderar 0 mundo. Apesar da poHtica extern a

de George Bush ter side capaz de garantir uma SOlUy80 pacifica para a transi~o do

comunismo ao capitalismo, de acordo com Pecequilo54, reabriram-se as tradicionais

discuss6es entre isolacionistas e internacionalistas, realistas e idealistas, permeadas

pelo debate deciinio/renoval'ao.

Em 1993 assume a presidencia dos Estados Unidos 0 democrata Bill Clinton,

que enfatizou uma economia liberal mundial para um desenvolvimento econ6mico

interno, fazendo da politica extern a um complemento e auxilio a politica interna. A

plataforma de Clinton era domestica, pais possufa um Congresso contrario aos

assuntos internacionais. A Doutrina Clinton baseava-se na defesa dos direitos

humanos e consistia-se na prevengao de emergencias de guerras e conflitos que

desrespeitassem as direitos dos povos. Clinton exercia 0 poder indireto, buscando

um multilateralismo que facilitasse os intercambios e que prevenisse coalizoes ant;-

hegemonicas, ocultando astuciosamente a dominaC;80 norte-americana, estrategia

esta considerada pel as republicanos como uma fraqueza democrata. Era uma

hegemonia que cooperava, mas que tambem dividia (engagement and

enlargement).55

Em 2001 assume a Casa Branca 0 republicano George W. Bush, utilizando-se

do poder bruto (hard power) em detrimento do brando (soft power). 0 protocolo de

Kyoto e rejeitado por ser considerado prejudicial aos paises desenvolvidos, a

construc;:ao do sistema de defesa antimissil (TMD) e anunciada e a inten<;§.o de rever

unilaleralmenle 0 tratado antimisseis balisticos de 1972 (ABM Treaty) e apresenlado

por considera-Io urn acordo remanescente da guerra fria. Russia e China passarn a

53 Idem.54 PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Politica Extema dos Estados Unidos: Continuidade auMudanya?,1 Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.55 Idem. FLOR, Daniel Cruz de Andrade. A politica extema norte-americana ap6s os Atentados de 11de set. de 2001, 2004.

18

ser vistas como competidores e nao mais como parceiros estrategicos e a sunshine

policy" foi congelada. 0 "multilateralismo afirmativo" de seus discursos e substituido

pelo unilateralismo da politica externa norte-americana - e a "preventive action,67 da

doutrina Bush.58

Em 11 de setembro de 2001 a America e pela primeira vez atacada em seu

territ6rio continental. Os atentados ao "World Trade Center', simbolo camerdal

norte-america no, e aD Pentagona, sfmbolo de poder militar, poem tim a

inviolabilidade norte-americana, que nao 56 chaca a populayao mundial, mas

tambem a administra980 Bush, que desvia sua politica externa para 0

Multilateralismo, mesma que de forma transitoria, pais verifica a necessidade da

cooperac;:ao e das entidades internacionais no auxflio aD combate ao terrorismo

(parceiros na "Guerra contra 0 Terror"), mais especificamente a rede terrorista AI-

Qaeda, apontada como responsavel pelos ataques.59

UOs terroristas atacaram um simbolo da prosperi dade da America.Contudo, eles nao tocaram a sua fonte. A America e bem sucedida pelo

trabalho arduo, criatividade e empreendimento de nossa gente.'.60

President BushWashington, D.C. (Joint Session of Congress)

September 20, 2001

A Estrategia de Seguran9a Nacional (The National Security Strategy of The

United States of America - NSS) de 20 de setembro de 2002 preve a90es militares

preventivas, a constru9ao de um poder militar forte 0 bastante para nfiO ser

desafiado, urn compromisso multilateral (quando convier) deixando clara a

unilateralidade 5e assim a na9ao aehar necessario e 0 objetivo de espalhar a

demoeraeia e as direitos humanos par todo a mundo.

56 Polilica de aproximac;ao entre as duas Con~ias iniciada por Bill Clinton.57 Refere-se a medidas lamadas para prevenir 0 surgimento de disputas, para resolve-las antes queelas cheguem a se tamar canflitos au a limitar a propagayao do conflito quando ele ocorre.56 FLOR, Daniel Cruz de Andrade. Gp. Cit.s9ldem.

60 The National Security Strategy of the United States of America - September 2002 , Washington,D.C. : The White House, p. 29 (original em ingles).

19

gHoje, 05 Estados Unidos gozam uma posic;:ao de incomparavel poder militar,uma grande economia e influencia polltica. Ao conservar nos sa herancya eprincipios, nos naD usamos nossa for~a para pressionar por vantagemunilateral. Ao inv9s dista, nos procuramos criar urn balanyo de poder quefavore~a a liberdade humana: condiyoes nas quais todas as nayoes e todasas sociedades possam escolher POl' elas proprias as recompensas e asaesaiios da iiuerdade poiiiica e economica. E.m urn muncio segura, aspessoas serao capazes de fazer 0 melhor em suas proprias vidas. Nosdefenderemos a paz ao lutar contra as terroristas e as tiran05. Nospreservaremos a paz atraves da constrw;ao de boas relac;:6es entre asgrandes potencias. Nos estenderemos a paz atraves do encorajamento desociedades livres e abertas em cada continente.',sl

"Finalmente, os Estados Unidos usarao a oportunidade do momento paraestender os beneficios de liberdade por todo 0 globo. Nos trabalharemosativamente para trazer a esperanya de democracia, desenvolvimento,mercados livres, e comercio livre para todos os cantos do mundo. Os eventosde 'j 1 de setembro de 200'j nos ensinaram que Estados fracos, como 0Afeganistao, podem posar como um grande perigo para nossos interessesnacionais como Estados fortes. A pobreza nao transforma as pessoas emterroristas e assassinos, Ainda pobreza, institui~6es fracas, e corrup~aopod em fazer Estados fracas vulneraveis as redes terroristas e carteis dedraga dentro de suas fronteiras ...62

o fim da guerra fria fez ruir a grande imperio Sovietico. Com 0 fim da ordem

Bipolar surgem inumeros questionamentos acerca da consagra98o definitiva da

lideran9a norte-americana no mundo e da suficiemcia de suas foryas para prover 0

sensa necessaria de dire<;ao e dos prop6sitos politicos para encorajar a reorientayao

do mundo, baseando-se no dever e na missao quase divina que acreditam possuir.

As a90es e as pensamentos norte-americanos se elaboram com 0 intuito de atingir a

lideran<;a hegemoniea no mundo pes-guerra fria, independente de que sua natureza

seja unipolar ou multipolar. Para os EUA os valores sociais, politiCOS e eeonomieos

norte-americanos sao bans para a humanidade e de acordo com Hamb""3, "America" e

"Made in the U.SA" representam liberdade individual e prosperi dade, mesmo em

tempos de globaliza.,ao.

: Idem p. 01.Idem p. 02.

53 HAM, Peter van. The Rise of the Brand State, Foreign Affairs (setJoct. 2001) Vol. 80, Number 5(original em ingles).Peter van Ham e pesquisador do Instituto Netherlands de Relayoes Intemacionais "Clingendael"

20

Nao se pode negar que desde 0 colapso do Imperio Sovietico 0 mundo atual

encontra-se marcado par urn grande grau da primazia e Iideran<;8 norte-americana.

Motivado pelos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, oeorre um

endurecimento da Pax Americana no sentido de S8 manter sua hegemonia. Quanta

ao futuro do poder americana, S8 aS EUA sao uma nagaD normal au excepcional, S8

que rem ser uma Republica au urn Imperio, S8 iraQ utilizar do poder brute au do poder

branda para desempenhar as papeis que que rem no mundo em transformay8o para

atender seus interesses nacionais, pade tornar-S9 valida qualquer previsao, 0 que

realmente importa e que, par serem a n8gaO mais global de todas, 0 desenlace do

debate hegem6nico podera afetar-nos a todos case estejam em decadencia

hegemonica, diante do paradoxo "Domina.ao ou lideran.a Global",

Para as Estados Unidos em termos de hegemonia, pode nfiO ser suficiente

possuir poderes sem precedente pelo alcance das suas fon;as armadas, a cavalaria

global, quando nos remetemos as questoes da globaliza!y8o economica, que pass a a

ser empregada para definir 0 quadro geral das relayoes internacionais, Esta

globaliza.ao emergente tem propiciado vigorosos debates sobre 0 papel dos

Estados Unidos no jogo das rela!yoes exteriores. Para lIgen64, alguns argumentam

que os EUA devem assumir seu papel de superpotencia e exercer grande influencia

economica, politica e militar em todas as partes do mundo. Qutros dizem que 0 custo

de um papel global e muito alto, que 0 retorno e incerto e que se deveria abolir 0

globalismo, dedicar-se ao isolacionismo e direcionar-se aos problemas internos.

Qutros ainda querem a continuidade da lideran!ya global norte-americana e 0

envolvimento direto nas quest6es globais, mas somente apas readequa!y80 de seus

objetivos e instrumentos de politica externa, porque os interesses americanos

mudaram, assim como, os caminhos para alcan!y8-los. Para Pfaff, os

internacionalistas liberais querem estender a influencia americana as democracias

do mundo e os unilateralistas neoconservadores acreditam na lideran!ya agressiva

dos norte-americanos para 0 proprio bern do mundo65. ligen afirma que os politicos

64 ILGEN, Thomas. Globalization and American Foreign Policy: Political Studies 196. Spring 2003(original em ingles).Thomas ligen e professor de Ciencia Politica no MPitzer College" na California.65 PFAFF, William. The Question of Hegemony, Foreign Affairs (jan./feb. 2001) Vol. 80, Number 1(original em ingles).

21

americanos devem resistir as tenta90es de urna superpotencia e permitir que as

Qutros cuidem de seus proprios problemas, pois as interven90es de Washington no

Sistema Internacional tern produzido resultados, mas em detrimento dos proprios

norte-americanos66

Para Mathews, 0 fim da guerra fria nao trouxe urn mera ajuste entre Estados,

mas urna nova redistribuic;ao de poder entre as Estados, mercados e sociedade civil.

Os governos nacionais estao perdendo autonomia na economia globalizada e

dividindo poderes politicos, sociais e papeis de seguran98 com empresarios,

organiz890es internacionais e nao governamentais. Enquanto afirma que a poder

dos Estados que come,ou em 1648 com a Paz de Westfalia estaria se acabando na

nova ordem mundialo7, Bergsten argumenta que mesmo que as EUA sejam a unica

superpotiincia militar, tal posi,iio pode ser de pouca utilidade uma vez que as

tensoes militares globais tern sido reduzidas e a competi9ao internacional se tornado

amplamente economica68.

Segundo 0 discurso de George W. Bush em 20 de janeiro de 2004 sobre 0

Estado da Uniao, as Estados Unidos da America acreditam ser uma na9aO com uma

missao e que ela provem de suas cren9as mais basicas. Para os norte-americanos,

nao se deseja dominar e nem tampouco se tern ambi90es de imperio. Dizem ser

seus objetivos a paz e a democracia, baseados na dignidade enos direitos de cada

hom em e mulher. Para muitos este discurso revela as bases e os principios sob os

quais os Estados Unidos buscam sua hegemonia atraves de sua politica externa.

Por esta na,iio ter nascido livre e ter definido em 1776 com a Declarac;;iio de

Independencia seus principios basicos, se apoia neste pensamento para disseminar

seus ideais de democracia e liberdade, que ao longo de sua hist6ria vern justificar

suas iniciativas expansionistas, imperialistas e intervencionistas - urn dever e urn

direito divino.69

66 ILGEN, Thomas. Op. Cit.67 MATHEWS, Jessica T. Power Shift, Foreign Affairs (jan.lfeb. 1997) Vol. 76, Number 1 (original emingles).Jessica T. Mathews eo membra do Conselho de Relac;6es Extemas Americanas.68 BERGSTEN, Fred C. The Wor1d Economy After the Cold War, Foreign Affairs (summeJ,....1TW~

Vo1.69, Number 3 (Original em ingles). I~'>'t liJ;C. Fred Bergsten e Diretor do Instituto de Economia Intemacional dos Estados Unidos. ~ ~ ~69 FLOR, Daniel Cruz de Andrade. Op. Cit. ~ .fl~)if'-s--;

~

~ ~:-,f-"¢ ---:t. "'.,..•......" •..P •.•....~ <0"0

22

Para Gaddis, as eventos p6s 1989 invalidaram a divisao do mundo em

campos democraticos e totalitarios, as quais formaram a base da Doutrina Truman

de conten,ao em 1947 - a ideia de que existiam no mundo dois inimigos, a URSS e

o Comunismo, e que a tarefa da politica externa americana era a de combate-los.7o

Na visao de Huntington, sem urn inimigo para definir-se contra, a identidade dos

EUA S8 desintegrou, pois as interesses da nayao derivam de sua identidade71

Para Rice, Secretaria de Estado Americana na Administray80 Bush,

W(. .. ) a colapso da Uniao Sovietica coincidiu com (...) outra grande revoluyao.Oramaticas mudanyas na tecnologia da informayao e 0 crescimento industrialalteraram a base do dinamismo economico. (...) 0$ Estados Unidos ternenfrentado dificeis escolhas em relayao a sua economia interna, politica eestruturas sociais". A politica externa da administra~o republicana serainternacionalista, mas baseada no interesse nacional e nao no interesse deUIfICI iiu::;oriC:l c;orrruniuClue inierrrClciuflCli. "( ... J iJev~ a::;~egurClr que u ext!r!;ituamericana possa na defesa de seus interesses deter a guerra, promover 0crescimento economico e abertura politica atraves da expansao do comercioe de urn ::;i::;ierrrCl mUfletariu iniernaciuflai, renuvar reia~6e::; cOm aiiacios e comaqueles que apreciam os valores americanos (...) promover a paz,prosperidade e liberdade, focar energia em relacionamentos com as grandespot€mcias como Russia e China para moldar 0 sistema politico internacional,(...) e, negociar de forma decisiva com regimes e fortyas hostis ... ,,72

Nesta ordem mundial que tern trazido novas regras para 0 jogo do sistema

internacional, outra forma de competic;ao muito rna is complexa se faz presente, e de

acordo com Gaddis, se apresenta em for,as de "integra,ao" como a quebra de

barreiras entre nagoes, a revoluc;ao das comunicac;6es, 0 crescimento economico, a

interdependencia e a seguranC;a coletiva, e, em fon;as de "fragmentac;ao" que

conduzem it guerra como nacionalismos, algumas religi6es e desigualdades

econ6micas diversas. Ainda nao se tornou claro que as for98s de integragao sao

benignas e que as fon;as de fragmentac;ao sao malignas73 Como 0 interesse

nacional dos EUA se apoiou no passado no balan,o de for,as desfragmentadas,

tern side diffcil para definir seu "interesse nacional" na ausencia do poder Sovietico.

70 GADDIS, John Lewis. Toward the Post-Cold War World, Foreign Affairs (spring 1991) Vol. 70,Number 2 (original em ingles).John Lewis Gaddis e Professor e Diretor do Instituto de Hist6ria da Universidade de Ohio.71 HUNTINGTON, Samuel P. The Erosion of American National Interests, Foreign Affairs (seUoet.1997) Vol. 76, Number 5 (original em ingles).72 RICE, Condoleezza. Campaign 2000: Promoting the National Interest, Foreign Affairs Oan.lfeb.2000) Vol. 79, Number 1. (original em ingles).73 GADDIS, John Lewis. Op. Cit.

23

Esta ordem mundial defrnida como 0 lim da historia bipolar e 0 inicio de uma

era de integrac;ao e fragmentaC;80 ende as interesses nacionais derivam da

identidade nacional e 0 jog a internacional e revestido de novas regras e de urn novo

concerto de lor9as, muito se referencia a unipolaridade e a multipolaridade. Para

Haass, estas sao simplesmente descriyoes de como 0 poder esta distribuido no

mundo e nao sabre 0 carater au a qualidade das relac;oes internacionais. Urn mundo

multipolar poderia ser aquele em que varios Estados hostis, mas equiparados em

poder poderiam confrontar-se, au, urn mundo no qual urn numero de Estados, cada

urn com significativo poder, trabalharia junto em comum74

De acordo com Rosecranc8, nos ultimos 200 anos existiram somente tres

metodos atraves dos quais a sistema anarquico pode ser regulado: Balanyo de

Poder, Dissuasao Nuclear e Regras de uma Coaliz8o Central75. Segundo Berger,

por 50 anos os EUA delenderam sua lideran9a mundial em termos do que era

contra enos primeiros an os da vitoria sabre a comunismo definiram sua pol [tica em

termos do que se estava acabando. Na administra~o Clinton, iniciou-se um

processo de renova~o e restaura<;8o da vitalidade domestica americana, e na

administra~o de Bush, questiona-se como e a que tazer da primazia Americana76

No modelo a ser criado au adotado na ordem mundial do pas-guerra tria, torna-se

alva de intensos debates a papel que virao desempenhar as EUA, na sua propria

construc;ao e na construc;ao e manutenc;ao da ordem internacional.

7A HAASS, Richard N. Wl1at to Do Wrth American Primacy, Foreign Affairs (sepJoct. 1999) Vol. 78,Number 5 (original em inges).Richard N. Haass e presidente do Conselho de Relacoes Extemas Americanas e ex-diretor dePlanejamento de Politica do Departamento de Estado.75 ROSECRANCE, Richard. Op. Cit.76 BERGER, Samuel R. A Foreign Policy for the Global Age, Foreign Affairs (nov.ldec. 2000) Vol. 79,Number 6 (original em ingles).Samuel R. Berger e Assistente do Presidente para assuntos de Seguran9a Nacional dos EUA.

24

3. Debate sobre a Hegemonia Norte-Americana no P6s-Guerra Fria

A partir do inicio dos anos de 1990 come.you-se a debater 0 declinio

economica, desgaste social e crescimento de adversarios dos Estados Unidos da

America. Algumas correntes S8 formaram e partiram para urn debate acirrado que

envolveu alguns dos principais academicos e estrategistas americanos, investigando

a futuro da hegemonia dos EUA. Na visao de Pecequilo. enquanto as declinistas

afirmaram a decadencia da lideran~ e a sua substituigao par urn equilibria

multipolar, as renovacionistas indicavam a existencia de urn processo real de

desgaste que podia ser revertido atraves de polfticas adequadas, com revisao dos

prop6sitos e dos interesses77.

Se par urn lado as Estados Unidos foram chamados a desempenhar urn novo

papel no mundo sob a prisma de "na98o indispensavel" par ter se exaurido a Uniao

Sovietica, par outro lado pode ser verificada a ascens80 de grandes potencias no

po [0 europeu e asiatica, com a consequente aumento brutal na concorremcia global.

Para Pecequilo. a doutrina Bush ao reafirmar 0 poder da hegemonia norte-

americana "( ... ) tern conseguido causar mal-estar generalizado no sistema e

motivag80 para a construc;:ao de coalizoes antiamericanas no media prazo,,78. Para

ela, um dos maiores desafios neste novo milenio no campo das Relagoes

Internacionais e "( ... ) compreender as transformagoes que foram e vern sendo

produzidas desde 1989 pelo fim da Guerra Fria" ".

Haass afirma que "Vivemos numa era de cantradigoes: g[obaliza980 e

fragmentayao, paz e conftito, prosperi dade e pobreza" 80 e da mesma forma, existem

hipoteses contradit6rias e ao mesmo tempo complementares sabre a renovag8a, a

declinio au a tim da hegemonia norte-americana no pas-guerra tria, numa nova

ardem marcada pe[o tim da canfrontagao [este/oeste, pela afirmagao das valores

universais do liberalisma e da democracia sabre a mundo, pela interdependencia e

pela globalizayao. Pecequilo observa que "Desde 1989. a ideia da transiyao

interminave[ domina as discussoes, sugerindo urn sentida homagenea e sequencia[

77 PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Pol1tica Extema dos Estados Unidas: Continuidade auMudan98?,1 Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003 ..78PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Transir;:ao do p6s-Guerra Fria, (mar.l2004), p. 09.79 Idem p. 01.eo HAASS, Richard N. Op. Cit.

25

para explicar as rela90es internacionais. Como no termino de todas as guerras fcram

gerados vacuos de poder e instabilidades, observando-se urn processo de

reordenamento de posi90es a partir da defini~o de ganhadores e perdedores"sl.

3.1 Renova~aoda Hegemonla

Nye" analisa profundamente as fontes do extraordinario poder que as

Estados Unidos da America possuem na arena internacional em seu livro "The

Paradox of American Power: Why the World's Only Superpower Can't Go It Alone ,,',

de 2002. Ele esta convencido que desde Roma, nenhuma Dutra nat;80 esteve tao

aeirna das Qutras e nenhuma outra obteve esta posic;ao sabre a mundo todo.

Argumenta que embora 0 poder militar norte-americana permane98 inestimavel,

outro importante componente do seu poder sempre foi a "soft power" (poder brando),

uma forma indireta de S9 exercer 0 poder.

o "soft power' e a habilidade de S8 conseguir que as Qutros fac;am 0 que voce

quer, atraves da cooptal'ao de aliados e nao pela coer\'iio de oponentes. A fonte do

poder brando fai sempre a atratividade dos valores americanos e a imagem positiva

que a resto do mundo tem da America, como forte detentora de liberdade e

democracia. Estas sao suas fon;as ideol6gicas e institucionais, atraves das quais

pode-se fazer com que as outras pessoas do mundo possam querer as mesmas

coisas que a America quer. Os Estadas Unidos podem entao obter os resultados que

quiserem na polftica mundial porque os outros Estados querem segui-Io, admirar

seus valores, emular seu exemplos e aspirar seu nivel de prosperi dade e abertura.

Ao inves do "hard power" (poder duro) que utiliza instrumentos militares e

econ6micos para coagir outros atores politicos, econ6micos ou sociais a fazer 0 que

eles nao querem, 0 "soft power" baseado na influencia, persuasao, seduryao e

atrayao, consegue dos outros 0 que se quer, principalmente nesta era de informagao

81 PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Transicao do p6s-Guerra Fria, (mar.l2004), p. 06.32 Joseph S. Nye Jr. e doulor em ciencia polilica e reitor da ~Kennedy School of Government" daUniversidade Harvard (Massachusetts). Foi consultor do Departamento de Estado dos EUA de 1977 a1979 durante 0 govemo do ex-presidente Jimmy Carter, presidente do Conselho Nacional deInteligencia e vice-secretano de defesa no governo Clinton.o ° Paradoxo do PQder AmericanO: Por que a unica superpotencia do mundo nao pode seguirsozinha (original em ingles).

26

global. Segundo Nye, a seduc;aoe sempre mais efetiva do que a coeryao e valores

como democracia, direitos humanos e oportunidades individuais sao profundamente

sedutores, 0 que nos remete a "sedu9ao e convencimento" dos postulados de

Machiavelli interconectados a "Hegemonia Cultural" de Gramsci.

Partindo-se deste principia, as valores de democracia, liberdade pessoal,

mobilidade, abertura, educ8980 e politica externa, expressos na cultura americana,

contribuirao posit iva mente para que as Estados Unidos alcancem seus abjetivos na

sua politica global. Os Estados Unidos obterao sucesso no sistema internacional

empregando cuidadosamente 0 seu poder branda para persuadir Qutros Estados a

trabalharem com eles em importantes empreitadas, nao punindo ou humilhande

aqueles que sao diferentes dele. 0 Paradoxo do poder americano e que 0 maior

poder mundial desde Roma nao pode atingir seus objetivos unilateral mente na era

da informayiio global. Desta forma, os Estados Unidos devem engajar-se

construtivamente com a ordem institucional internacional, trabalhar nela e perseguir

seus interesses nacionais, 0 que e melhor do que faze-Ie de forma unilateral.

Para Nye, no mundo atual 0 poder esta distribuido entre os Estados de

acordo com um modelo que se assemelha a urn complexo jogo de xadrez de tres

dimens6es: 0 militar, 0 econ6mico e 0 transnacional. No tabuleiro do topo - militar-

os Estados Unidos de forma unipolar possuem primazia e hegemonia. No tabuleiro

do meio - econ6mico - ha um balanyo de poder em um mundo multipolar (Estados

Unidos, Europa e Japao), com crescente interdependencia. No tabuleiro da base -

de rela90es transnacionais que 0 governo nao tern controle - 0 poder esta

largamente disperso e compreende uma enormidade de atores nao estatais.

Os Estados Unidos devem entao trabalhar com muitos outros Estados nas

quest6es transnacionais para obter progresso, 0 que aumenta a interdependencia

americana com 0 resto do mundo e diminui 0 seu dominio. De acordo com Nye, os

aspectos economicos, ambientais, militares, sociais, intelectuais, politicos,

ideologicos e religiosos da globalizac;ao sao influenciados pelo progresso

tecnologico e pelas politicas de governo, as quais causam grandes impactos nas

barreiras do comercio internacional. Embora 05 Estados Unidos tenham sido 0 maior

investidor e beneficiario da globaliz89aO, eles nao pod em controla-Ia.

27

Diferentemente de Kennedy em WAscensao e Queda das Grandes Potencias"

de 1989 que afirmou que os EUA eram uma pot€mcia em declinio e que seria

ultrapassada pelo Japao ou pela Alemanha como ocorreu com Qutros grandes

imperios, Nye argumenta em "Bound to Lead: The Changing Nature of American

Power'",q de 1990 que as EUA em fum;ao de sua "capacidade intrinseca" de

renovac;ao, sao capazes de S8 moldar as transformac;6es do mundo atual e continuar

sua lideranc;a. Para ele, os Estados Unidos permanecem como poder dominante,

mesma passando par urn processo de mudanc;a na natureza de seu poder, em urn

mundo anda predomina a interdependencia e a distribuic;ao do poder as pequenas

nac;6es e atores privados.

Para Nye, os EUA sao a (mica superpotencia restante, embora a globaliza9ao

e a revolu9ao tecnolagica da informa9ao tenham descentralizado 0 "poder". 0 ponto

principal e que os EUA devem usar ambos, tanto 0 "hare!' quanto 0 "soff' para

obterem os melhores resultados, pois nao somente e preponderante militarmente,

mas possui grande poder institucional, ideologico e cultural, que fornecem ahegemonia uma base salida e diversa na projeyao de seu poder. Segundo Nye, as

discussoes sobre a postura externa dos EUA possuem dois eixos, isolacionismo e

internacionalismo. Dentro do internacionalismo, multilateralismo e unilateralismo.

Atrav9s do multilateralismo se preservara a cooperayao como forma de exercicio

"soft" da hegemonia.

o maior desafio americana nao esta em seus adversarios, mas na sua

capacidade de comandar e administrar a "Terceira Revolu9aO Industrial" baseada na

ciencia e na tecnologia. De acordo com Nye, as EUA sao muito poderosos para

serem desafiados por outros, mas nao poderosos 0 suficiente para alcanvarem as

seus objetivos seguindo sozinhos. A economia Americana e a sua sociedade

permanecerao robustas e nao decairao. Os Estados Unidos ao combinarem seu

poder brando ao seu poder duro em corretas propory6es, obterao os melhores

resultados com a conseqOente continuidade de sua hegemonia. A America

permanecera a numero um, mesmo constituindo-se em grande desafio ao Estado a

revolu9ao da informayao, as mudanyas tecnolagicas e a globalizayao.

84 Fadado a Liderar: A transformacao do poder americano (original em ingles).

28

3.2 Declinio da Hegemonia

Para Pecequilo, no pas-guerra fria estaria haven do um processo simultaneo

de endurecimento e declfnio da liderany8 norte-americana dada a sua

superextensao e 0 consumo de seus recursas politicos e economicoso5 Haass

complementa que as vantagens econ6micas e militares do EUA enquanto grandes

nao sao desqualificadas au permanentes. Sua superioridade nao durarc~. A medida

que 0 poder S8 difunde ao redor do mundo, a posiC;8.o norte-americana em relayao

aos Qutros inevitavelmente desgastara. 0 mundo esta S8 tornando mais multipolar e

a politica externa americana pode nao resistir a tanta multipolaridade. Ele argumenta

que as unieas certezas do mundo de hoje sao que as geopoliticas estao S8 tornando

mais multipolar e que a America nao ficara no topa para sempre86

Nesta mesma linha de raciocinio, WallersteinOf afirma que a hegemonia norte-

americana encontra-se em derradeiro declinio e embora muito se tenha feito para

restaur<3-la pouco se tern conseguido. Ao veneer 0 "Imperio do Mat' conforme

defini~o de Reagan, os Estados Unidos da America perderam sua lideranya global,

a unica razao que respaldava a sua hegemonia mundial. Para Wallerstein, os

Estados Unidos nao sao um imperio em declinio e sim urna for9a hegemonica que

declina e no caminho de sua decadencia, em fun980 das escolhas que venham a

fazer, um grande desastre poderc3 ser causado a toda a humanidade.

Seu livro "The end of the World as we Know it: Social Science for the Twenty-

First Century"'" de 1999 trata das profundas transformal'oes pel as quais 0 mundo

esta passando, como 0 colapso do comunismo, 0 crescimento do Leste Asiatico, as

rela90es entre 0 liberalismo e a democracia, as causas e efeitos da crise ambiental,

a debaie da giobaiizaryao, as desafios a ideniidade nacionai e a soberania.

Juntamente com estas transforrna90es, ocorrern profundas mudan9as na forma com

que entendemos 0 mundo atual (capitalismo e tecnologia). Eo 0 contexto do sistema

mundial que esta se transformande como urn tode, marcado pelas escolhas

B5 PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Politica Extema dos Estados Unidos: Continuidade ouMudanya?,1 Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.86 HAASS, Richard N. Op. Cit.87 Immanuel Wallerstein e professor emerita de sociologia e diretor do Centro Fernand Braudel daBinghamton University para estudos de Economia, Sistemas Hist6ricos e Civiliza90es. E pesquisadoracademico da Yale University e recenle presidente da International Sociological Association (94 a 96)sa° fim do mundo como 0 conhecemos: Ciencia Social para 0 sekulo 21 (original em ingles).

29

hist6ricas, inclusive as tomadas pelos Estados Unidos da America.

Para Wallerstein, desde 1933 os Estados Unidos assumiram 0 papel de

defensores do liberalismo centrista mundial de acordo com as quatro liberdades do

ex-presidente Franklin D. Roosevelt: "liberdade de expressao, de religiao, de

necessidades materiais e do mede". Em 1945 as Estados Unidos S9 tornaram

real mente hegem6nicosoif 0 Estado norte-americana era 0 mais forte, tinha urna

capacidade econ6mica a frente de qualquer outro Estado. as EUA tinham um poder

militar incomparavel e a habilidade de criar formidaveis alian98s, como a NATO e 0

Pacto de Defesa US-Japan. Como poder hegemonico, se tornou culturalmente 0

centro do mundo. New York S9 tornou 0 centro de alta cultura e a cultura popular

Americana foi marchando atraves do globa. 0 Estados Unidos ficararn no topa do

mundo par cerea de 25 anos e conseguiram fazer 0 que quiseram fazer.

Wallerstein afirma que desde 1970 a supremacia norte-americana esta em

declinio. No periodo da hegemonia norte-americana, entre 1945 e 1970, os EUA

possuiam tres qualidades vitais: 1) Ate 1960 era a maior poder economico no

mundo; 2) Tinha uma posi~iio cultural e politica extremamente forte; 3) Tinha uma

for9a militar extremamente poderosa. 0 motivo do declinio de sua hegemonia foi que

a partir de 1970 perdeu os dois primeiros. Desde 0 fim do dominio global na

economia e da derrota militar no Vietna, as metodos da polftica externa norte-

americana mudaram. 0 governo procurou manter e nao pode mais expandir a seu

poderio. Seu objetivo principal tornou-se impedir um decHnio acelerado do seu poder

- tanto na economia-mundo como no contexto militar. Como conseqCuancia, a

posic;:ao politica americana tambem tern estado em declinio.

o colapso da Uniao Sovietica term in au com a uniC8 razao forte que a Europa

e 0 Japao tinham para continuar seguindo a lideranc;:a dos EUA. Sob este prisma, a

dissolu980 da URSS nao foi uma vantagem geopolitica, pais significou na verdade a

colapso do liberalismo, removendo a unica justificac;:ao ideol6gica que respaldava a

hegemonia americana. Somente Ihe sobrou 0 poder militar. 0 poder militar sozinho

B9 WALLERSTEIN, Immanuel. u.S. Weakness and the Struggle for Hegemony, Monthly Review Press(jul.laug. 2003) Vol. 55, Number 3 (original em ingles).

30

naO e 5uficiente, porque quando naG S8 tern nada, mas S8 tern poder mititar, nao S9

pode usa-Io. Os Estados Unidos sao a unica superpotencia, mas naG tern poder real,

porque nao pade usar real mente seu poder - ~se usa-Io e urn tiro no pe, S8 naG usa-

10 vai parecer tolo" 90, Trata-s8 de urn lider que nao e seguido e poucos respeitam,

uma na9ao perdida no meio do caos global que Ihe e incontrolavei.

o governo americana tern procurado a todo custo frear 0 processo de declinio

de sua hegemonia que come90u em 1970. Para as linha-duras do governo norte-

americana, este processo podera ser interrompido usanda-s8 da for~a, mas S8

utilizado 0 poder militar para restaurar sua hegemonia, poderao ser causados

enormes danos ao mundo, tanto fisioos quanta politicos e culturais. 0 declinio dos

Estados Unidos como uma fon;:a decisiva nas quest6es globais e inevitavel91 0

contexto global atual em muito se dilerencia daquele de 1873 onde em plena

recessa.o mundial estando em decademcia a economia britanica, comec;ou a

controlar cada vez mais os mercados globais. Os fatores econ6micos, politicos e

militares que contribuiram para a sua hegemonia sao os mesmos fatores que agora

esta.o produzindo 0 seu declinio.

Para Wallerstein a Pax Americana acabau e foi atraves dos desafios do

Vietna e dos Balkans que os limites da supremacia loram mostrados. Agora depende

exclusivamente dos EUA percorrerem este caminho de declinio 0 mais suave mente

possivel de forma a minimizar os danos a si proprio e ao mundo. Relembra que ha

50 anos atras, a hegemonia norte-americana baseada na combina9ao de efici€mcia

prod uti va, passuia sua agenda politica firmemente endossada pelos ahados

Europeus e Asiaticos e pel a sua superioridade militar. HOje, a eficiencia produtiva

dos EUA encara urna extensiva competi9ao no cenario internacional, inclusive de

seus proprios aliados. Oesta forma, a agenda politica mundial norte-americana nao e

mais tao firmemente endossada e ao contrario, e freqQentemente contestada por

seus aliados, permanecendo somente sua superiaridade militar.

90WALLERSTEIN, Immanuel. The Powerless Superpower, Foreign Policy Magazine (aug. 2002)~?~~!~~em ingles).

31

Na visao de Wallerstein, nos ultimos 30 anos as Estados Unidos da America

procuraram afirmar fortemente sua hegemonia numa realidade ande nao mais

possuem 0 poder de decidir unilateralmente a que e born para 0 mundO, pOis naD

estao em condic;6es de decidir unilateral mente 0 que e born para eles proprios. Os

fatares respons;3veis pela hegemonia norte-americana - economicos, politicos e

militares - sao agora os mesmos que estao produzindo seu inexoravel declinio. 5e

a America esta sendo reconstruida, as opc;oes sao varias e como metafora, podem

reconstruir ou nao as Torres Gemeas92. 0 mundo par sua vez esta reconstruindo a

mundo e da mesma forma, as opc;6es sao as mais variadas. A realidade mundial que

0$ americanos poderao criar nos pr6ximos 30 anos podenfl ou nao ser melhor e nela,

as contradi¢es entre seus ideais e seus privilegios poderao ou nao ser reduzidas.

3.3 Fim da Hegemonia

Para Hardti:f'; & Negri- a hegemonia dos Estados Unidos acabou. Em seu livro

"Empire" de 2000, afirmam que a discussao em torno de Estados e Potencias nao e

mais importante no pas-guerra fria, pais a configurayao que se apresenta na nova

ordem e de um Imperio que nao mais depende do Estado como base de poder,

diferentemente do Imperialismo. Neste Imperio nenhum Estado e 0 "centro do

poder", nem mesmo os Estados Unidos da America que nele possuem espa90

privilegiado. Para eles, foi a "Revolu9ao Americana"~ e a sua propria constitui9ao

que iniciou um processo de ruptura da moderna soberania atraves do controle da

distribu;c;ao interna de poder, a que tomau passlvel 0 poder pertencer as pessoas e

nao estar somente sobre elas.

Segundo as autores, e muito importante se distinguir a imperio do

imperialismo. 0 "Imperialismo~ se compos de estruturas politicas e economicas dos

seculos XVII ao XX, atraves das quais os paises europeus estenderam seu poder

92 WALLERSTEIN, Immanuel. America and the Wond: The Twin Towers as Metaphor. Charles R.Lawrence II Memorial Lecture, Brooklyn College, 2001 (original em ingles).93 Michael Hardt e Professor no program a de Literatura e filosofia da MDuke University".94 Antonio Negri e cientista SOCial, fi16sofo e escritor italiano, conferencista em Ci€!Ocias Politicas naUniversidade de PariS, Professor na Universidade de Padua e ocupante da Prisao Rebibbia em Roma95 A Revoluyao Americana se refere aos eventos, ideias e mudant;.as resultantes da separayao das 13col6nias na America do Norte do Imperio Britanico e a criayao dos Estados Unidos da America.

32

sabre Qutras nac;6es e territorios, ocorrendo necessariamente a limita980 de urn

regime imperialista par outro. 0 ~Imperjo" atuat nao depende do Estado como base

de seu poder como dependia 0 imperialismo europeu e tambem nao existem

competidores semelhantes a ele, assim sendo, no "Imperio" nenhum Estado pode

funcionar como "centro do poder".

Afirmam que os Estados nao possuem mais controle sabre os movimentos de

capital au lutas sociais. A confrguracao politica que se apresenta para a Imperio naopassui limites e nao S8 caracteriza pelo expansionismo do Estado-nac;ao. 0 Imperio

regula as trocas economicas e culturais em urn sistema on de as soberanias S8

baseiam na construc;ao de caminhos para os noves fluxos mundiais, que criam a

vida social, e inter-relacionam a economia, a politica e a cultura. Eles descartam

total mente a ideia do imperialismo norte-americana, mas reconhecem que seus

valores materiais e seu capitalismo se espalharam pelo globo, e que alem disto, as

EUA querem controlar e impor-se sabre todas as atividades individuais e coletivasda vida humana.

Mesmo que as Estados Unidos possuam um espaco privilegiado nesta nova

ordem imperial, nao ocupam nela urn lugar central. 0 rnundo nesta nova era onde a

globalizacao econ6mica tem decrescido a poder do Estado, e regrado par uma

estrutura impessoal de poderes econ6micos e politicos que nao tern centro e que

nao pode ser identificado com nenhum Estado em particular, nem mesmo com os

Estados Unidos. Esta era apresenta uma "regra universal de capital sem um centro"

o mercado global e as circuitos globais de produyao tern gerado uma nova ordem,

uma nova 16gica e estrutura de regras. E 0 Imperio que efetivamente regula as

trocas globais - a poder soberano que governa a mundo.

Hardt & Negri afirmam que 0 Imperio ignora completamente as mais serios

conflitos e rivalidades que existem entre as Estados-nayao, como par exemplo, entre

os Estados Unidos e a China. Nao hi:! discussao de quem regula au como. Neste

Imperio e a Wmultidao" de trabalhadores que forma uma vasta massa como forya de

resistencia em todos as pontos do Imperio e tern a poder de desestabilizar 0

sistema. 0 conceito de "multidao" nao e a mesmo que a de classe de trabalhadores,

pais a proletariado se transformou. 0 Seculo XX alterou grandemente a organiza9ao

33

do trabalho ao incluir trabalhadores intelectuais (imaterialidade/intelectualidade do

trabalho vivo) no centro da valorizac;ao econ6mica e social. Por nao existir centro no

Imperio, nao existe clara mente nenhum inimigo. Nac sao inimigos a cia sse

capitalista, os empregadores ou as for<;asarmadas.

Nao existe necessidade de estrategia politica, existem somente tresdemandas: 1) Direito a cidadania global; 2) Direito a um salario social para todos,

inclusive para as desempregados; 3) Direito a redistribuic;:ao pelo controle sobre a

lingua, comUniC8c;c3.0 e produc;:ao. Esta nova fase historica e a passagem da era

maderna imperialista para a pes-maderna do Imperio S9m centr~s, periferias, limites

e fronteiras. Quanta mais declinam as 50beranias dos Estados, mais S8 fortalece 0

Imperio como nova forma de soberania, por S8r descentralizado e desterritorializante

de governa, et gerador de idenlidades hibridas, hierarquias f1exiveis e tracas plurais,

Uma forma verdadeiramente ilimitada de poder que ultrapassa a noyao de Estado,

uma nova forma de soberania baseada no poderio economico, no monopolio da

"arma final" e na ampliayao da velocidade e quantidade da troca de informa,ao em

nivel global.

Para Hardt, "( ..) 0 Imperio e ilimitado no sentido espacial, nao h<i fronteiras

para a seu dominio; nao ha nada externo a seu poder. 0 Imperio domina a

totalidade, 0 Imperio tambem e ilimitado no sentido temporal, ja que seu dominio e

posta como necessaria e eterno, em vez de temporario e transicional. Finalmente, 0

Imperio e ilimitado em um senti do social, po is busca controlar toda experiencia

social; 0 objeto do Imperia e a propria forma de vida", Ele nao tern concorrentes e

engloba toda e qualquer faceta da vida humana. Complementarmente, Negri afirma

que as bases do Imperio sao 0 poder rnilitar, a poder monetario e a comunicac;ao96,

Com 0 fim da guerra-fria os Estados Unidos foram chamados a garantir e

adicionar eficacia juridica ao complexo pracesso de formaC;ao de urn novo direito

supranacional da mesma forma que os senadores romanos pediram a Augustus

assumir poderes imperiais na administrayao para 0 bern publico. Atualmente as

organiza,oes internacionais monetarias, humanitarias e as Na,oes Unidas chamam

96 HARDT, Michael & Negri, Antonio, A Nova Soberania, Folha de S. Paulo 24/09/02.

34

as Estados Unidos a assumir urn papel central na nova ordem. E muito dificil para as

ide61ogos norte-americanos nomear urn unico inirnigo unificado, ao inves disso,

parecem existir pequenos inimigos em todos as lugares. 0 tim da guerra-tria trouxe a

inicio de crises menores e indefinidas.

Para muitos sao os Estados Unidos da America que reg ram os processos de

globaliz8y80 na nova ordem. Alguns afirmam que as Estados Unidos sao 0 lider

mundial e a unica 5uperpotencia. Qutros denunciam-nos como imperialistas

agressores. Enquanto alguns criticam as Estados Unidos par estarem repetindo as

praticas do Imperialismo Europeu, Qutros as celebram como as mais benevolentes e

eficientes lideres mundiais par estarem fazendo certa 0 que as europeus fizeram

errado. Na visao de Hardt & Negri, estas afirrna<;oes levarn a crer que as EUA

assumiram a posic;ao do mando global que as na<;oes Europeias perderam, no

entanto, a forma imperial de soberania surgida contradiz estas visoes, pais nao se

pode definir a ordem contemporanea global como um regime irnperialista norte-

america no. 0 papel privilegiado dos Estados Unidos de hoje nao basta para pensar

que eles completaram a projeto imperialista que os britanicos e franceses haviam

tentado realizar anteriormente. Nem as Estados Unidos au qualquer outra nac;ao nao

pode estar no centro do projeto imperialista, pois 0 imperialismo acabou97

97 HARDT, Michael & Negri. Antonio. A Nova Soberania, Folha de S. Paulo 24/09f02.

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CONCLusAo

Segundo Kennedy, "talvez a melhor maneira de compreender 0 que esta afrente e olharmos rapidamente para tras, para a ascensao e queda das grandes

potencias nos ultimos cinco seculos". Na sua visao a mudan~ realmente existe e e"(,',) impulsionada principal mente pelos aspectos econ6mico e tecnol6gico, que tem

entaD urn impacto sobre as estruturas sociais, as sistemas politicos, 0 poder militar e

a posic;:ao dos estados e imperios individuais~. E importante frisar que para Kennedy,

independente de quantas, quais potencias au par quanta tempo dam in am a sistema

internacional, ale continua anarquico e "(...) em cada epoca especifica, alguns

desses estados cr8scem ou declinam, no que S8 relaciona a sua fatia relativa do

poder secular","

Para ele, embora as Estados Unidos ocupem a pOSiC;:BOde "numero urn" nos

assuntos mundiais, nao podem desconsiderar os fatores que desafiam a

longevidade desta posi980, como a capacidade de preservar no setor estrategico-

militar 0 equilibrio entre as necessidades defensivas do pais e os meios que dispoe

para atende-Ias, assim como, a preservac;ao das bases tecnol6gicas e economicas

de seu poder contra a erosao relativa99, pois "ser uma grande potencia exige uma

economia florescente"'OO A complexidade e amplitude da economia norte-americana

~(... ) torn a dificil resumir 0 que esta acontecendo em todas as suas partes". Os

"meios e os fins" utilizados para a defesa dos interesses americanos globais estao

intimamente ligados aos desafros economicos que 0 pais enfrenta, e pela sua

variedade, eriam fortes pressoes sabre as decisoes em politiC8 naeional101•

Mesmo que os Estados Unidos deelinem, devido a posse de sua pareela

"naturar de riqueza e poder global, permanecerao a ter influeneia significativa no

mundo multipolar que se apresenta. Para isto e primordial que os reeursos do pais,

principalmente os economicos, sejam arganizados de maneira adequada

paralelamente ao reconhecimento das limitac;oes e das oportunidades do poder

norte-americana. Se par urn lada uma nac;so prajeta seu poder militar de acordo com

seus reeursos econ6micas, por outro, a base economica pade se enfraquecer pelo

custo de sua supremacia militar. Para Kennedy, "Apesar de todo 0 seu declinio

econ6mico e talvez mililar, os Estados Unidos continuam nas palavras de Pierre

98 KENNEDY, Paul. Ascensao e Queda das Grandes Potencias: Transformac;.aoEcon6mica e ConflitoMilitar de 1500 a 2000, Rio de Janeiro: Campus, 1969. p. 418.99 KENNEDY, Paul. Op. Cit. p. 488.100 KENNEDY, Paul. Op. Cit. p. 512.101 KENNEDY, Paul. Op. Cit. p. 497.

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Hassner, 0 agente decisive em qualquer tipo de equilibrio e problema" e "( ... ) p~r ter

tanto poder 0 que eles fazem au deixarn de fazer e muito mais importante do que as

atos decididos par quaisquer Qutras potencias,,102.

Dada a nossas limitadas habilidades de vislumbrar as horizontes da historia,

existe consideravel espa~ para debates sabre em que fase S8 encontra as Estados

Unidos da America no cicio hegemonico, mas quando se lala sobre poder das

nac;:oes, geraJmente este vern em duas formas: 0 militar e 0 econ6mico. 0 Estados

Unidos sao claramente e incontestavelmente uma superpotencia militar, urn Ifder

mundial. Lideranc;a, contudo naD e 0 mesma que hegemonia e torna-S8 necessario

lazer esta distin91io. Segundo Modelski and Thompson (1988)'0', lideran9a e

principal mente urn conceito militar que signifiea a habilidade de projetar urn poder

(imperial) e interesses par todo a mundo. Hegemonia na visao marxista tern foco

mais economico, contudo de acordo com Gramsci (1971 )104, hegemonia vai mais

al6m da fon;a e da economia, pOis repousa na persuasao e no consenso.

Todos os hegenons sao Hderes mundiais, mas nem todos os lideres mundiais

alcan~m a hegemonia. De acordo com Wallerstein (1984)'05, um Estado

hegemonico e aquele que tem predominancia sobre a economia mundial de forma

que 0 resto do mundo seja dependente do crescimento dele e cria regras universais

aplicadas a todos de maneira igualitaria de forma a atender seus proprios interesses.

Sao estas regras universais e as instituigoes internacionais que constituem a ordem

mundial. Por serem a (lnica superpotencia, em muitos aspectos os EUA tern

predominimcia na economia mundial. Seu poder militar trouxe-Ihe muilos beneficios,

principal mente no pas-guerra, periodo onde as instituigoes internacionais foram

criadas para consolidar as regras universais da ordem em constante formag8o.

Urn dos processos que causa 0 decHnio do hegemon e a propria

superextensao do seu poder rnilitar que 0 onera, pois lodos os Estados se

beneficiam sem custos da ordem provida pel a superpotencia. Quanto mais igualitaria

se torna a competiyao economica, ma;s 0 hegemon declina. Os custos de

manuteny80 da superioridade militar passam a ser altos e imensamente maiores

quando aplicados a objetivos universais associ ados com a hegemonia. Outro fator a

ser considerado, e que enquanto hegemon, a lideranya e provida as expensas de

102KENNEDY, Paul. Op. Cit. p. 507.103 Modelski and Thompson - Sea power in Global Politics, 1494 - 1993.104 Gramsci _ Seledions from the Prison Notebooks.105 Wallerstein _The Three Instances of Hegemony in the History of the Capitalist World-Economy.

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sua posiyao relativ8, mas enquanto uma forc;a neo-imperialista, a lideranc;a e providaas expensas dos Qutros Estados, na forma de poder estrutural, como 0 economica,politico e domina,ao cultural. A posi,ao de lideran,a dos Estados Unidos 0 permitetratar sobremaneira as assuntos que VaD de encontro a seus abjetivos imperialistas.

oesta forma, podemos concluir que durante as primeiros vinte e cinco anos

do pos-segunda guerra, os Estados Unidos tiveram lideranya e hegemonia. Nos

proximos vinte e cinco anos, ambas estiveram em decHnio pelo desafio constante desua lideranC;8mundial pela Uniao Sovietica na guerra fria bipolar. No pas-guerra fria,

a lideram;a norte-americana mastra-S8 incomparavel, contudo, a hegemonia do

sistema internacional que tern S8 tornado incrivelmente bipolar entre os Estados

Unidos e a Uniao Europeia, principalmente ap6s os 10 novos membros de 2004 no

total de 25 Estados, encontra-se ainda por se delinir. Em termos ideologicos e

culturais, 0 fim da guerra fria fortaleceu a posi,ao dos Estados Unidos como dilusor

cultural e como Roma no periodo do Imperio Romano, se tornaram 0 centro dos

~webs"106 de controle e comunicayao que se espalham pelo mundo, 0 que tambem

nao Ihe e suficiente para se considerar hegemonico perante 0 sistema internacional.

Considerando que os Estados Unidos sao 0 centro do capitalismo desde os

primordios do seculo XX, que possuem a predominancia militar e tecnol6gica desde

os anos de 1940 e sao 0 loco da cultura moderna desde os anos de 1980, tudo isto

combinado desde 1991, tem proporcionado aos norte-americanos fazerem 0 melhor

dos mundos possiveis no p6s-guerra fria e manterem a sua lideranya global. Embora

atualmente se encontrem em urn processo de profunda reestruturac;ao interna e de

redescobrimento de sua identidade nacional, procurando obter vantagens

competitivas sobre todos os seus potenciais rivais estrategicos e economicos,

utilizando tambem 0 "soft power' descrito por Nye, a hegemonia norte-americana

declinou conforme afirmado por Wallerstein e acabou, nao como apresentado por

Hardt & Negri com vistas a um Imperio sem centro pela nova ordem em formay8o

nao mais depender do Estado como base de poder, mas porque a hegemonia do

sistema internacional e algo que nao se pode possuir em parte e sim completamente

em uma determinada epoca.

106 Webs sao complexas redes de computadores que estao interiigados e espalhados em servidoresno mundo inleiro.

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