54
10 INTRODUÇÃO A percepção da necessidade de execução de uma prática educativa voltada para a linguagem musical no processo de ensino aprendizagem suscitou o nascimento desta pesquisa que enfoca a necessidade de refletir sobre uma educação contextualizada através do uso da música na sala de aula. Uma proposta que visa à construção do saber mediante a interatividade e a utilização de letras, melodias, ritmos e expressões típicos contidos nas músicas que contemplam a região Nordeste no cotidiano escolar, proporcionando a contribuição na aprendizagem significativa, resultando no desenvolvimento cognitivo. Busca-se ainda o efeito psicológico na vida dos educandos no que se refere às suas atitudes e a valorização da cultura regional ritma presente nas diversas canções que apresentam em suas letras uma variedade de expressões referentes à realidade do nordeste brasileiro. O tema proposto para esta pesquisa justifica-se por dois aspectos relevantes: a experiência musical adquirida desde a infância motivada pelas influências familiares principalmente paterna, cujo gosto e afinidade pela música nordestina especificamente o forró são expressivos, que não é apenas ouvida como tocada em casa, nas festas juninas e em outros eventos por alguns dos instrumentos mais conhecidos típicos: a sanfona, o zabumba, o triângulo, o banjo e o violão e pela experiência profissional em sala de aula fundamentada no Programa de Educação no Campo que trabalha com o projeto CAT (Conhecer, Analisar e Transformar) projeto este, desenvolvido pelo MOC (Movimento das Organizações Comunitárias) em parceria com a UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), com as Prefeituras Municipais e Movimentos Sociais, proporcionando ao professor da escola rural formação adequada para trabalhar com as especificidades do campo e ao mesmo tempo despertando o interesse dos alunos para a valorização da cultura local de cada um, discutindo também a idéia de sustentabilidade e ao mesmo tempo apresentando estratégias de convivência com a Caatinga e a seca características de nossa realidade.

Monografia Nubeane Pedagogia 2010

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Pedagogia 2010

Citation preview

Page 1: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

10

INTRODUÇÃO

A percepção da necessidade de execução de uma prática educativa voltada para a

linguagem musical no processo de ensino aprendizagem suscitou o nascimento desta

pesquisa que enfoca a necessidade de refletir sobre uma educação contextualizada

através do uso da música na sala de aula. Uma proposta que visa à construção do

saber mediante a interatividade e a utilização de letras, melodias, ritmos e expressões

típicos contidos nas músicas que contemplam a região Nordeste no cotidiano escolar,

proporcionando a contribuição na aprendizagem significativa, resultando no

desenvolvimento cognitivo. Busca-se ainda o efeito psicológico na vida dos educandos

no que se refere às suas atitudes e a valorização da cultura regional ritma presente nas

diversas canções que apresentam em suas letras uma variedade de expressões

referentes à realidade do nordeste brasileiro.

O tema proposto para esta pesquisa justifica-se por dois aspectos relevantes: a

experiência musical adquirida desde a infância motivada pelas influências familiares

principalmente paterna, cujo gosto e afinidade pela música nordestina especificamente

o forró são expressivos, que não é apenas ouvida como tocada em casa, nas festas

juninas e em outros eventos por alguns dos instrumentos mais conhecidos típicos: a

sanfona, o zabumba, o triângulo, o banjo e o violão e pela experiência profissional em

sala de aula fundamentada no Programa de Educação no Campo que trabalha com o

projeto CAT (Conhecer, Analisar e Transformar) projeto este, desenvolvido pelo MOC

(Movimento das Organizações Comunitárias) em parceria com a UEFS (Universidade

Estadual de Feira de Santana), com as Prefeituras Municipais e Movimentos Sociais,

proporcionando ao professor da escola rural formação adequada para trabalhar com as

especificidades do campo e ao mesmo tempo despertando o interesse dos alunos para

a valorização da cultura local de cada um, discutindo também a idéia de

sustentabilidade e ao mesmo tempo apresentando estratégias de convivência com a

Caatinga e a seca características de nossa realidade.

Page 2: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

11

Observa-se que no contexto do semiárido, inclusive no espaço escolar, o currículo

estabelecido apresenta-se distorcido da realidade, das vivências desse lugar, portanto

torna-se descontextualizado. Essa disparidade reflete na formação do educando porque

este não aprende a valorizar o seu próprio lugar devido a uma falsa ideologia

impregnada em sua mente que o impede de conhecer e valorizar o seu próprio lugar,

aprender a conviver e ser um agente transformador e sentindo-se parte integrante do

universo a que pertence.

Como forma de superação e resgate a escola representada na figura do professor

precisa discutir, refletir, trabalhar junto ao aluno uma nova perspectiva de mudança

enaltecendo as riquezas da região, sua cultura, raízes, belezas naturais, sua história

utilizando as músicas que façam parte do dia-a-dia do mesmo e que estejam dentro dos

padrões de sua cultura e da realidade que vive, conscientizando a valorizar o seu

espaço e buscando novas formas de idéias, conhecimentos e de convivência. É nesta

perspectiva que a música nordestina expressa por autênticos e tradicionais artistas do

forró nordestino, destaca-se mostrando seu potencial valor dando suporte a uma

educação contextualizada que poderá ser promovida na escola. Ao mesmo tempo em

que dinamiza e enriquece, conscientiza, amplia o conhecimento, valoriza, enfim educa.

Portanto, partindo da perspectiva de repensar uma nova perspectiva na educação

desenvolvida no semiárido, é que reforça-se a pretensão de analisar as compreensões

que os professores têm sobre a música nordestina na educação no contexto do

semiárido brasileiro.

Este trabalho está estruturado em quatro capítulos assim esquematizados:

No capítulo I é apresentado o contexto histórico da arte e da música enquanto

expressão artística enfocando a discussão da música nordestina e sua importância na

educação do semiárido, a problemática e questão de pesquisa.

Page 3: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

12

No capítulo II, apresentam-se os teóricos que nortearam esta produção, a

fundamentação das palavras-chave escolhidas para desenvoltura da pesquisa, a cerca

da música nordestina na educação no contexto do semiárido.

No capítulo III, são apresentados e caracterizados os procedimentos metodológicos, os

instrumentos utilizados para recolhimento de dados e elaboração deste estudo.

No capítulo IV são apresentados de forma ordenada os dados coletados, analisados e

interpretados, desvelando-se como resultado de pesquisa, encerrando com as

considerações finais.

Page 4: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

13

CAPÍTULO I

PROBLEMATIZAÇÃO

A arte abarca uma grande dimensão no campo do conhecimento humano

proporcionando -lhe prazer e reconforto. Através de sua existência o ser humano

descobriu e aprendeu diversas formas de expressar-se usando sentimentos e emoções,

os quais representavam o que via ou imaginava. A arte é consideravelmente como um

dos mais misteriosos e encantadores de todos os campos de conhecimento que o

homem já adquiriu. Não seria tão fácil defini-la, por isso, usamos nossos sentidos para

maravilharmos com suas manifestações.

Podemos afirmar que a arte esteve sempre presente em praticamente todas as

culturas, desde as mais primitivas. Cada época de uma civilização cria uma arte que lhe

é própria e que jamais se verá renascer (KANDINSK, p.32, 1996). Diz-nos a história, que

o homem na pré-história usava-a como forma de transmitir suas idéias. Assim, o

ensino-aprendizagem da arte faz parte das normas e valores estabelecidos, em cada

ambiente cultural, desde as formas mais simples às complexas evidenciando-a nas

formas de vestir, pintar-se ou cantar. “A arte evidencia sempre o momento histórico do

homem, em cada época, com suas características, contando o seu momento de vida,

com um percurso próprio na representação, como questão de sobrevivência (ibidem,

p.32)”.

A arte constitui-se, nas mais diversas manifestações da atividade criativa dos seres

humanos, na sua interação com o diversificado e complexo meio do qual fazem parte.

Aprendemos a demonstrar nosso gosto e prazer pelas coisas da vida desde a infância.

Logo ao nascer interagimos com as manifestações culturais de nosso ambiente, além

de vermos a natureza como fonte de nossa imaginação e criatividade. Este contato com

o meio onde se insere o homem o permitiu que desenvolvesse a habilidade de fazer

arte. Através da pintura das cavernas pôde comunicar-se e expressar o que sente. O

uso da visibilidade pela captação de formas e luzes representadas em massas de cores

Page 5: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

14

permitiu ao homem representar sua imaginação considerando que para ter essa

evolução, ele precisou dos vários recursos existentes na natureza: pedacinhos de

carvão, folhas, frutinhas, pétalas de flores, água para obter a partir das misturas cores

belíssimas e pedras. De acordo com Deheinzelin (1993) estas e outras manifestações

são objetos de conhecimentos frutos na arte da história da humanidade.

Dentre as diversas manifestações artísticas, destaca-se a música, considerada a

primeira tanto na cronologia da história humana quanto nas nossas preferências

(DEHEINZELIN, 1993) isto é, o gosto por esta manifestação artística destaca-se muito

nas pessoas e envolve-nas.

As primeiras manifestações musicais tiveram objetivos, sendo o que mais se destaca:

promover a paz no coração dos homens por temor à natureza e, e na própria natureza,

quando tornava-se ameaçadora. Deheinzelin (1993) salienta claramente esta

afirmação:

Os ruídos naturais como o trovão e o barulho das feras, prenunciavam um mundo caótico; em contraposição ao caos, os sons organizados configuravam um cosmo composto de ordem, correspondência, beleza. Os sons organizados (música) tiveram então um poder apaziguador de domínio na natureza (p. 95).

A música como qualquer outra arte acompanha historicamente o desenvolvimento da

humanidade, podendo ser encontrada no estudo de todas as épocas, inclusive na pré-

história. Pôde-se constatar que o homem só começou a manifestar-se artisticamente a

partir do momento em que começou a identificar os sons provenientes da própria

natureza como ruídos, sons, urros, que dizer do harmonioso canto dos pássaros ou

mesmo do som produzido pelo vento. Mediante a descoberta desse universo artístico, o

ser humano começou a experimentá-lo envolvendo-se de diversas formas evoluindo

constantemente. Então a música ganha seu espaço e mergulha nas emoções

humanas. Acredita-se que os primitivos tiveram muitas influências da natureza,

descobriram os sons que os cercavam no ambiente, dando-lhe vontade de imitar o

Page 6: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

15

sopro do vento, o ruído das águas, o canto dos pássaros. Também aprenderam a

distinguir os timbres característicos da canção das ondas se quebrando na praia, da

tempestade se aproximando... e encantou-se com seu próprio instrumento musical – a

voz, de modo que estranhos sons tirados da garganta devem ter constituído uma forma

rudimentar de canto, que junto com o ritmo, resultou na mistura de palmas e roncos,

pulos, e uivos, batidas e berros. Para aquela época, era o que estava ao alcance para o

homem primitivo e terá sido um estilo que perpetuou por séculos. Como afirma Rosa

(s/d):

De início, o ser humano descobre os sons e o ritmo em seu próprio corpo e na natureza ao redor. Desenha nas pedras, de forma rudimentar, a presença da música em seu cotidiano. Registra na pedra o uso de instrumentos de percussão, como os tambores, e de sopro, como a flauta de bambu. Em sua evolução, o ser humano foi aperfeiçoando a linguagem musical, passando a utilizar instrumentos musicais mais complexos, formas mais adequadas de registros das músicas, o próprio como meio de expressão musical. Cria canções, desde a mais simples até a mais sofisticada harmonia. Na história humana, verifica-se que o progresso na música acompanhou o desenvolvimento de outros campos, beneficiando-se sempre dos avanços tecnológicos (p.18).

Mas, além de tudo isto, está o valor da música como uma arte, como a expressão de

sons ordenados da experiência, pensamento, imaginação e instinto criativo no homem.

Através da música o homem tem expressado algumas de suas mais profundas

experiências e entendimento do significado da vida. Como em toda arte, isto pode ser

traduzido em palavras ou algum outro meio de manifesto. Isto nos reporta o que diz

Duarte Junior (1998, p. 53), quando afirma:

O fato de que a música é uma inestimável fonte de estímulos de equilíbrio e de felicidade da criança é revelado de maneira aumentada pela sua utilização psicoterapêutica (o que não quer que a pedagogia musical possa ser reduzida à psicoterapia).

Page 7: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

16

Como expressão da arte, a influência da música na educação pode ser percebida

desde os tempos em que se começou a escrever a Bíblia, a exemplo das antigas

escolas dos profetas. Nessas escolas, “a música tinha destacado lugar, juntamente com

a Lei de Deus, a história sacra e poesia. (WHITE, 1997, p. 47)”. Assim, vemos

claramente que a música tem uma grande importância na vida humana. Ela desperta

para um mundo prazeroso e satisfatório para a mente e para o corpo que facilita a

aprendizagem e também a socialização entre os homens e as culturas. De acordo com

Faria (2001): “a música passa uma mensagem e revela a forma mais nobre, a qual, a

humanidade almeja, ela demonstra emoção, não ocorrendo apenas no inconsciente,

mas toma conta das pessoas, envolvendo-as trazendo lucidez à consciência” (p.4).

Há registros que revelam que essa manifestação artística foi utilizada em vários

momentos da história da educação tanto de crianças quanto de adultos, com traços

característicos de cada sociedade. Na Grécia o ensino da música começava desde a

infância e era considerado fator fundamental igualmente ao ensino de filosofia e

matemática para a formação dos cidadãos. Foi a primeira das civilizações antigas a

enfatizar a importância da música na educação de seus filhos. Afirma Riboulet (s/d):

Os Gregos consideravam a música um dos melhores meios de educação. Os filósofos espalhavam essa idéia entre o povo dizendo que o ritmo e a harmonia agem sobre a alma, a despojam da sua rudeza, lhe comunicavam o tato e a moderação; a torna acessível às idéias do belo e do justo (p. 62).

Assim também se deu na Europa medieval onde este instrumento encontrava-se restrito

aos mosteiros, mas somente com a Reforma Protestante, no século XVI, o uso da

música fica cada vez mais acessível às crianças e aos jovens.

No Brasil o uso da música também teve uma forte influência no período colonial com a

vinda dos jesuítas, mas, é importante salientar que a implantação dessa forma de arte

no campo educacional deu-se com maior facilidade devido à sensibilidade

Page 8: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

17

desenvolvida, aguçada para a arte que os índios tinham, principalmente o povo Mbyá

Guaranis. A importância do uso da música e outras formas de arte na educação

jesuítica foi tão grande que faz com que ela mereça um capítulo especial na história da

arte. Azevedo (1943) enfatiza bem esses momentos propagados.

Com sua política de instrução – uma escola, uma igreja - edificaram templos e colégios nas diversas religiões da colônia, constituindo um sistema de educação e expandindo sua pedagogia através do uso do teatro, da música e das danças multiplicando seus recursos para atingir à inteligência das crianças e encontrar-lhes o caminho do coração (p. 240).

Com a cultura impregnada pelos portugueses, ao longo da história, o Brasil recebeu

muitas influências culturais oriundas de outros países o que a tornou diversificada,

mista. Por isso, o Brasil tornou-se um país culturalmente rico, além de considerar-se

sua extensão territorial, pode-se perceber em cada região uma cultura que se expressa

através do ritmo, da dança e da música sem destacar iguarias e festas religiosas. Na

região Nordeste, dentre várias manifestações artísticas destaca-se o forró, em cuja

constituição traz diversos ritmos tradicionais tocados e cantados por cantores

autênticos, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos entre outros. São canções que podem

enriquecer uma aula por conterem letras que contemplam variados conteúdos que

necessitam constar nos currículos escolares, podendo abranger conteúdos de outras

disciplinas, como as variações lingüísticas, ortografia e interpretação em Português,

medidas de capacidade, as quatro operações em Matemática, clima, vegetação,

hidrografia em Geografia, entre outras.

Percebe-se que o repertório desses cantores da música nordestina é significativo e

apresenta uma gama de riquezas que pode ser traduzida em muitos aspectos culturais,

sociais, lingüísticos, regionais, dentre outros, inclusive educacionais, pois apresentam o

Nordeste como uma região que precisa ser reconhecida e respeitada pela sociedade

brasileira partindo dos próprios nordestinos que trazem em suas mentes uma falsa

ideologia impregnada de que a região é castigada pela seca, que tem sol “escaldante”

Page 9: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

18

habitada por homens banguelas e ignorantes, crianças desnutridas e famintas, os

chamados matutos. Como forma de amenizar/ enganar e “combater” representantes

políticos lidam com a realidade oferecendo cestas básicas, abastecimento de água em

carros pipas, aproveitando o baixo nível de conhecimento como estratégia política e

adotam uma falsa ideologia corrompida nas realizações de imensas obras.

Considerando essa realidade, vimos na educação a ponte que vislumbra novas

perspectivas promovendo uma convivência harmônica entre o homem e o meio em que

vive somado ao uso da música nordestina trabalhada neste contexto. Nesse sentido

Braga (2007) ressalta:

Um grande e rico potencial educativo precisa ser conhecido, considerado e valorizado pelo Estado e pela sociedade, porque são portadoras de novos sentidos e significados, que apontam para uma nova relação com meio ambiente e um novo modelo de desenvolvimento, sustentado na solidariedade, na compaixão e no cuidado com as pessoas e com a natureza (p.31).

A educação constitui-se como um elemento fundamental para a construção do

conhecimento que estimula o aluno a refletir sobre a realidade de contexto em que vive

e as possibilidades de transformação considerando suas restrições e potencialidades

aprendendo a lidar com esse ambiente. Contudo ainda é comum no contexto

educacional o discurso sobre o semiárido como local onde existe miséria, pobreza e

muita seca. Como afirma Matos (2004) apud Lima (2006):

A educação desenvolvida no semiárido é construída sobre valores e concepções equivocadas sobre a realidade da região. Uma educação que reproduz em seu currículo uma ideologia preconceituosa estereotipada que reforçam a representação do semiárido como espaço de pobreza, miséria e improdutividade, negando todo potencial dessa região e do seu povo (p.38).

Page 10: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

19

Por efeito dessa observação percebe-se que nossos alunos estão sendo formados para

atuarem em outros contextos e não no nosso. Os livros didáticos são exemplos dessa

realidade, encontram-se distantes do mundo real da criança contemplando muito os

habitantes da cidade ou de regiões mais avançadas no desenvolvimento tecnológico. A

educação desenvolvida continua sendo homogeneizadora difundindo assim, a exclusão

social.

Por esse motivo ressalta-se aqui, a importância de trabalhar a música nordestina,

principalmente o forró, nos espaços educativos, com a finalidade de tornar a educação

desenvolvida no semiárido contextualizada, isso torna-se possível trabalhando músicas

que apresentem letras condizentes com a realidade, que tenha em sua essência os

valores e sentimentos perdidos na memória. Nesse sentido, torna-se fundamental a

obra de Luiz Gonzaga e de outros artistas já citados como um subsídio metodológico na

prática em sala de aula levando a uma aprendizagem significativa os alunos das séries

iniciais do ensino fundamental com o objetivo de conhecer a realidade social e local e

aprender a lidar e conviver com o semiárido, além de formar educandos conscientes,

críticos e, principalmente, ativos socialmente tendo como recurso a arte expressa pela

música. Se estivermos trabalhando com a música como expressão artística, então

convém refletirmos a prática da arte no meio educacional, pois a mesma não pode ser

subentendida apenas como distração, lazer. Pelo contrário, pode significar na

aprendizagem do educando, envolvendo-o sentimentalmente.

Criada por Hebert Read em 1943, a expressão arte-educação através da arte ganhou

espaço e hoje é conhecida pela abreviação arte-educação. O objetivo primordial é

contribuir com o desenvolvimento intelectual, moral e social do ser humano, uma vez

que a escola sempre considerou as emoções em segundo plano na aprendizagem do

educando enaltecendo o lado racional. De acordo com o que diz Duarte Junior (1996):

“as emoções devem ficar fora das quatro paredes das salas de aula, a fim de não

atrapalharem nosso desenvolvimento intelectual (p.13)”. A escola não oferece

oportunidade ao educando de expressar o que sente, criando seu próprio conhecimento

a partir de seu ponto de vista, de sua situação existencial, seu próprio eu. A escola não

Page 11: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

20

ensina ao educando a formar perguntas e, sim, respostas e que muitas vezes ficam

distantes da realidade do mesmo. Isso compromete na sua formação por a escola não

estabelecer vínculos entre o que é vivido pelo educando e a proposta curricular que a

mesma constrói, pois a educação por meio da arte é trabalhada sem nenhuma

perspectiva, intencionalidade.

Portanto educar através da arte significa lidar com emoções e não tão somente com a

razão, não com a finalidade de formar um artista, mas criando oportunidades de o

educando expressar o que se sente, esta é uma tendência necessária e inovadora, uma

vez que a escola precisa lidar com todas as manifestações artísticas. Como menciona

Duarte Junior (1996):

É preciso dirimir dúvidas desde já: arte-educação não significa o treino para alguém se tornar um artista, não significa a aprendizagem de uma técnica, num dado ramo das artes. Antes, quer significar uma educação que tenha a arte como uma das suas principais aliadas. Uma educação que permita uma maior sensibilidade para com o mundo em volta de cada um de nós (p.14).

A presente pesquisa situa-se na reflexão de uma educação por meio da música

promovendo a contextualização nos espaços educativos tendo como objetivos: analisar

as compreensões que os professores das séries iniciais do Ensino Fundamental da

escola Elysio Ferreira Barros da rede municipal de Itiúba-BA têm sobre a música

nordestina na educação no contexto do semiárido.

A partir dos esclarecimentos feitos até então, espera-se que os resultados da pesquisa

apresentem elementos que desafiem os professores da rede municipal de Itiúba a

refletirem sobre o papel do educador no processo de construção de uma proposta de

educação por meio da música nordestina, uma vez que o referido município está

inserido no contexto do semiárido.

Page 12: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

21

CAPÍTULO II

REFERENCIAL TEÓRICO

Partindo do pressuposto que a música enquanto instrumento lúdico tem por finalidade

contribuir na formação e desenvolvimento integral, física e intelectual do educando, na

formação de sua personalidade, diante disso, busca-se identificar e analisar as

compreensões que os professores das séries iniciais do Ensino Fundamental da Elysio

Ferreira Barros da rede municipal de Itiúba-BA têm sobre a música nordestina na

educação no contexto do semiárido brasileiro. Entende-se que as palavras-chave:

Música Nordestina, Professor, Compreensão e Educação Contextualizada, que

norteiam essa discussão, têm forte relação entre essa compreensão e o processo

educativo, uma vez que refletem na construção de uma educação de qualidade.

Palavras-chave: Música Nordestina, Professor, Compreensão, Educação

Contextualizada.

2.1 MÚSICA NORDESTINA

Mantendo o foco em meio à discussão sobre a música nordestina na educação no

contexto do semiárido, os conceitos embrionários sobre a teoria musical tiveram suas

origens na antiga filosofia grega por terem estabelecido as bases para a cultura musical

do Ocidente. A própria palavra música nasceu na Grécia, onde “mousikê” significa “a

arte das musas”, abrangendo também a poesia e a dança. No Dicionário Aurélio (2001)

tem-se o seguinte conceito de música: Arte e ciência de combinar os sons de modo

agradável ao ouvido (p. 511).

A música no Brasil teve seu momento histórico vivenciado por pessoas da alta

sociedade às classes menos favorecidas que com seus estilos, costumes e gostos

Page 13: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

22

musicais, resultantes de influências marcadas por uma mistura de culturas, revelavam o

jeito e a forma vividos na época. Caldas (1985) diz que: “No Brasil, a música marcou

sua presença, registrando fatos da maior importância sociológica, destacando

tendências e transformações quanto aos ritmos e estilos musicais, permitindo-nos,

inclusive, conhecer melhor a sociedade da época”. Percebendo o resultado destas

transformações ocorridas das influências de diversas culturas em todo o Brasil destaca-

se a região Nordeste que com seus costumes e tradições tem a música, inclusive o

forró, em que também sofreu variações até hoje, que valoriza em suas letras e canções

os aspectos vividos pelo seu povo, a realidade e seu jeito peculiar de ser.

Por toda sua história, o forró tipicamente pronunciado, mas conhecido também pelo

famoso arrasta-pé é um baile popular formado pela junção de diversos tipos de danças

diferentes, entre os quais tem-se os principais: o xote, baião e a marcha. Segundo

Rocha (2004) etimologicamente conceitua:

A primeira, talvez a mais conhecida, é a que diz que o termo surgiu no final do século XIX, nas construções das estradas de ferro no Nordeste pelos ingleses. Estes realizavam festas freqüentemente, mas nem sempre abertas à população. Quando a festa era aberta a todos, escrevia-se na entrada "For All" (isto é, "para todos") (p. 62-71).

Ainda por ser uma manifestação cultural facilmente reconhecida quando executada, o

forró tem em sua origem uma acentuada dificuldade de identificar todos os gêneros

musicais que compõe, pois o forró destaca-se como sendo um fenômeno muito

abrangente. Mesmo assim, concentrando-se no conceito de Rocha (2004), quando

afirma: no Forró há “[...] o xote, o baião e o xaxado, além de outras” expressões

musicais. Para outros autores a exemplo de Jacinto (2001), conceitua: há xaxado, o

côco de roda, marcha de roda, baião (p. 63). Porém nem sempre em todas as relações

de gêneros que animam o forró estão presentes o Xote e o Baião. Ainda citando Jacinto

(2001), o mesmo confirma: Forró é simplicidade, é poeira, sanfona, zabumba,

triângulo... uma seqüência de ritmos nordestinos: xaxado, côco, de roda, marcha de

Page 14: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

23

roda, baião, xote... esses ritmos que agora no momento eu não lembro... isso é que

significa forró (faixa 4).

Evidencia-se a versatilidade que apresenta a dança e variações rítmicas repercutindo

do extremo sul ao extremo norte do Brasil Atualmente o xote e o baião são

considerados como os ritmos muito tocados em todo o Brasil e sendo as danças mais

populares do Nordeste.

Acompanhando o xote nos bailes populares, o baião se apresenta trazendo melodias

entoadas ao som de instrumentos expressivos como a sanfona, o zabumba e o

triângulo. Segundo informa Câmara Cascudo (1998), que foi gênero de dança popular

bastante comum durante o século XIX. O baião é de origem mista é um ritmo musical

nordestino, acompanhado de dança muito popular na região nordeste e norte do Brasil.

Recebeu na sua origem, influências das modas de viola, música caipira e também de

danças indígenas.

Foi na década de 1940 que o baião tornou-se popular, através dos músicos Luiz

Gonzaga (conhecido como o “rei do baião”) e Humberto Teixeira (“o doutor do baião”).

Em suas canções refletem a cultura de uma grande parte da população brasileira,

situada na região Nordeste.

Luiz Gonzaga dedicou-se desde cedo a apreciar a cultura nordestina tocando e

cantando músicas tradicionais do seu povo. Iniciando sua carreira artística em 1941, a

partir de um programa de calouros promovido por Ari Barroso e de sua primeira

gravação, compôs muitas melodias nas quais se revelam todo o jeito de ser e da vida

dos sertanejos nordestinos, um grande intérprete dos sofrimentos, das alegrias, das

tradições existentes nas famílias como as festas populares, o comportamento, as

variações lingüísticas, enfim, muitos dos aspectos culturais vividos pelo povo. Suas

produções musicais permanecem na memória de muitos e nos festejos tradicionais em

grande parte do nordeste, além de ser homenageado por outros artistas de renome que

têm Luiz Gonzaga como referência em suas carreiras artísticas a exemplo do cantor,

compositor e sanfoneiro Dominguinhos seu conterrâneo, companheiro de gravações e

Page 15: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

24

palco, Flávio José paraibano, sanfoneiro e cantor, Adelmário Coelho baiano e cantor

entre outros. Todos esses artistas citados inspiram-se na carreira de um outro artista

que traduziu na sua música e na sua voz todo o sentimento e anseios do povo de sua

nação.

Dessa forma, podemos perceber que a música não somente é uma associação de sons

e palavras, mas sim, um rico instrumento que pode fazer a diferença nas instituições de

ensino. A educação deve ser vista como um processo global, progressivo e

permanente, que necessita de diversas formas de estudos para seu aperfeiçoamento,

pois em qualquer meio sempre haverá diferenças individuais, diversidade das

condições ambientais que são originários dos alunos e que necessitam de um

tratamento diferenciado. É lamentável perceber que a realidade educacional apresente

instituições educacionais que pouco exploram a música, e, mesmo quando são

praticadas não lhes é dado o valor que merecem.

A música vinculada aos diferentes grupos étnicos e as composições regionais típicas é

uma manifestação cultural que as crianças e os adolescentes podem conhecer e

vivenciar, desenvolvendo o seu potencial, enriquecendo seus conhecimentos sobre as

diversidades presente no Brasil. Segundo os PCNS (1997):

A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações (...) Faz parte da educação desde há muito tempo (...) A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes da expressão humana (p.45).

Portanto, a educação tem como meta desenvolver em cada indivíduo a habilidades de

que é capaz para viver em sociedade praticando a cidadania e, a música, pode

contribuir tornando possível atingir a esta meta por atingir a motricidade e a

Page 16: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

25

sensorialidade por meio do ritmo e do som, e por meio da melodia, atinge a afetividade.

“Por isso deve-se expor a criança à linguagem musical e dialogar com ela sobre e por

meio da música (SANTOS, 1997, p.55)”.

2.2 PROFESSOR

Compreende-se professor como um agente de extrema relevância no desenvolvimento

dos processos educativos, com a incumbência de mediar o conhecimento, capaz de

transformar e desmistificar conceitos prévios, possibilitando a construção de cidadãos

críticos, reflexivos e elucidados. Segundo o Dicionário Aurélio (2001): professor é

“aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina;

mestre; homem perito ou adestrado”.

Professor é quem professa algo verdadeiro, necessário e útil para seus semelhantes e

para a sociedade, ele por sua vez, precisa se reconhecer como agente transformador

da realidade principalmente dentro da sala de aula. Além de contribuir para a

aprendizagem do aluno mediante determinadas relações interativas professor/aluno. É

o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas próprias características

de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos,

fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez

reflete valor e padrões da sociedade (ABREU & MASETTO, 1990).

Desta maneira o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente

competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo

prazer não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma

tarefa que cumprem com satisfação, sendo em alguns casos encarada como obrigação.

Para que isso possa ser melhor cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos

alunos acompanhando suas ações no desenvolvimento das atividades inclusive

artísticas. É preciso desmistificar o conceito de que ensinar por meio da música é

insignificante, não traz aprendizagem. Esse tipo de pensamento está impregnado na

Page 17: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

26

mente de professores que desconhecem o real significado de trabalhar com música de

forma contextualizada ou por não ter sensibilidade e conhecimento para perceber a sua

importância no contexto escolar. Quando há motivação e reconhecimento, as aulas

tornam-se interativas, dinâmicas e participativas tornando a aprendizagem dos

educandos satisfatória, pois estes entendem e valorizam o que conhecem e o trabalho

do professor. Torna-se importante o professor ter transparência no seu papel, ser firme

quanto à postura, seus objetivos e o que planeja para então executar. O professor

precisa conquistar a confiança e o respeito de turma para se tornar o seu legítimo

organizador. Como denota Freire (1996):

O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a atividade do movimento do seu pensamento. Sem aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas (p. 96).

Ainda na percepção sobre o papel do professor na (re) construção do conhecimento e

sua prática, tem em suas mãos um grande potencial que, usado com equidade e um

olhar sensível provocarão mudanças significativas no contexto social e cultural dos

sujeitos envolvidos nos preceitos educacionais e conseqüentemente comunitários.

2.3 COMPREENSÃO

Mediante a complexidade que permeia o contexto educacional, direcionando a

discussão para o enfoque da compreensão do professor a respeito da música

nordestina na educação contextualizada no processo de ensino-aprendizagem que

propicia o desenvolvimento integral do educando, apresenta-se compreensão com o

sentido de refletir sobre suas expressões, anseios, sobretudo no cotidiano escolar.

Page 18: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

27

Para Cunha (1986), compreensão conceitua-se da seguinte forma: “conter em si,

constar de, entender, abranger, perceber” (p.201). Nesse sentido a “compreensão é o

conjunto dos caracteres que permitem sua definição” (JAPIASSU e MARCONDES,

1990, p. 52). Nesse sentido faz-se necessário procurar compreender melhor o que se

passa na sociedade, inclusive no modelo educacional brasileiro, onde encontra-se

diversos professores sem formação qualificada trabalhando de forma desvinculada o

que torna a realidade de muitos educandos crítica , pois os discursos teóricos

construídos nesse modelo, precisam formar/ estabelecer vínculos com a prática

docente no cotidiano escolar e que estejam condizentes com a realidade. É preciso

também por parte dos professores que atuam em espaços educacionais, inclusive no

semi-árido desempenharem conscientemente sua prática, como diz Sacristam (1998).

Sem compreender o que faz, a prática pedagógica é mera reprodução de hábitos

existentes, ou respostas que os docentes devem fornecer as demandas e ordens

externas (p.9).

Percebe-se compreensão como ato ou ação de assimilação de significados e conceitos

viáveis e flexíveis que podem sofrer mudanças e melhoramentos no decorrer do

cotidiano vivenciado pelo ser humano. Buscando subsídios em Sacristan (1998 p. 103):

“Para compreender a complexidade real dos fenômenos educativos como fenômenos

sociais, é imprescindível chegar aos significados, ter acesso ao mundo conceitual dos

indivíduos e as redes de significados pelos grupos, comunidades e cultural”.

Ainda na perspectiva de legitimação de compreensão como ponto de articulação entre

o ser humano e o meio, no intuito ou possibilidade de compreender, aprender e

reaprender incessantemente com o outro e consigo mesmo objetivando assim a

plenitude humana, encontramos subsídios em Morin (1921) quando ele afirma:

A compreensão é ao mesmo tempo meio e fim da comunicação humana. O planeta necessita, em todos os sentidos de compreensão mútua. Dada a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão necessita da reforma plenária das mentalidades esta deve ser a tarefa do educador do futuro (p. 104).

Page 19: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

28

A compreensão deve abranger todos os campos que permeiam o cotidiano do ser

humano, inclusive do professor, este precisa reconhecer a realidade onde está inserida

a escola. Para compreendermos o local precisamos compreender o global. As

complexidades que permeiam todo o processo pedagógico necessitam de uma visão

ampla e aberta para que contemple o amplo.

Abordando ainda o conceito compreensão, Piaget (1973) apud Burke (2003), diz que:

“compreender é inventar ou reconstruir através da reinvenção e será preciso curvar-se

ante tais necessidades se o que pretende, para o futuro, é moldar indivíduos capazes

de produzir ou criar e não apenas de repetir” (p. 48).

Dessa forma a ação do educador não se resume apenas na transferência de saberes,

mas de estimular a formular perguntas possibilitando a aprendizagem, ou seja, torna-se

mediador do educando.

2.4. EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA

Diante da realidade do ensino brasileiro em que se apresenta distorcida e desvinculada

do modo de vida do educando, pautado num modelo econômico capitalista que forma

cidadãos para atuação do mercado de trabalho e pouco explora valores e conscientiza,

sobretudo realidade do ensino do semiárido, convém salientar a importância de

promover uma educação contextualizada em sala de aula, acima de tudo, respeitando

os valores, aspectos culturais, sociais construídos na convivência do mesmo. Nota-se

que a promoção de uma educação contextualizada já é uma discussão que há muito

persiste, não só contempla os discursos acadêmicos como as diretrizes educacionais

presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que apresentam propostas

fundamentadas numa educação contextualizada, pois estão pautadas na assimilação

de conteúdos em consonância com o cotidiano do educando:

Contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assim que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e

Page 20: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

29

objeto (...). O tratamento contextualizado do conhecimento e o recurso que a escola tem para retirar da condição de expectador passivo (PCNs, BRASIL,1998).

Para instituir e sistematizar uma proposta de educação contextualizada, é preciso

repensar o currículo da escola bem como a formação docente, a implementação de

políticas educacionais voltadas para a integração e socialização e refletir sobre as

práticas pedagógicas exercidas atualmente.

Segundo Martins (2006) “A educação contextualizada evidencia a idéia de que as

pessoas não estão soltas no espaço, mas inseridas numa cultura no modo de vida

dotado de sentido prático (p.43)”. Levando em consideração seu significado na vida do

educando, pode-se reconhecer a importância e a necessidade da construção de uma

proposta de educação contextualizada no Semi-árido Baiano por ser uma região pouco

reconhecida e valorizada e assim possa contribuir para a afirmação da identidade de

sujeito. É realidade constatar que os próprios moradores se neguem a reconhecer o

seu lugar por compreender ser uma região pobre sem crescimento econômico e

excluída da sociedade, porque a própria escola apresenta em seu currículo conteúdos

muito distantes da realidade, isto é, demasiadamente descontextualizados onde na

verdade são destacadas cidades pertencentes a regiões mais evoluídas

economicamente, inclusive. Freire (1996), coloca que:

Não podemos admitir jamais que a escola atue numa perspectiva elitista ou trabalhe a favor das classes dominantes, historicamente opressoras, seja no aspecto local ou regional, seja no aspecto nacional. Não estamos a serviço destas classes, mas a serviço das gentes sofridas, que ao longo do tempo, tiveram os seus direitos negados e usurpados; que tiveram suas histórias negadas e silenciadas especialmente nos currículos escolares (p. 21).

Por outro lado, quando a escola se compromete a trabalhar com novas perspectivas de

mudanças, promovendo discussões, buscando resgatar importantes acontecimentos e

outros estímulos, o próprio educando terá uma nova visão se conscientizará da

Page 21: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

30

necessidade de valorizar o que lhe pertence e construirá um novo conhecimento no

qual é possível permanecer no seu próprio lugar descobrindo novas formas de

convivência. Vale salientar que um dos planos para superar essa realidade arraigada

nas pessoas é o investimento na educação, pois facilitará nas relações estabelecidas

entre os educandos e o seu espaço de vivência, em que resgata o estímulo e

perspectiva de vida, ameniza o sofrimento e o preconceito, ainda presente/ o principal

vilão dos embates sobre os nordestinos. Como afirma Matos (2004):

A educação contextualizada tem um papel fundamental, sobretudo, porque sua prática procura alterar a visão de mundo e a representação social sobre o semi-árido, transformando a ideia de lócus de miséria, chão rachado e de seca em uma outra, que representa o semi-árido como lócus de possibilidades através do seu projeto educativo, associado a um projeto de sociedade que contempla uma relação mais saudável, equilibrada e sustentável entre o mundo do eu, o mundo das coisas e dos homens (p.22).

Sabe-se que no processo educativo há uma gama de fenômenos envolvidos e que

contribuem para sua complexidade. A proposta da educação contextualizada vislumbra

o reconhecimento de se conviver com o semiárido na busca de uma qualidade de vida

para seus habitantes.

Page 22: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

31

CAPÍTULO III

O PERCURSO DA DESCOBERTA

Entende-se por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na

abordagem da realidade. Nesse sentido, a metodologia ocupa um lugar central no

interior das teorias e está sempre referida a elas. Dizia Lênin (1965 p.148): “[...] que o

método é a alma da teoria’’, distinguindo a forma exterior com que muitas vezes é

abordado tal tema (com técnicas e instrumentos), do sentido generoso de pensar a

metodologia como a articulação entre conteúdos, pensamentos e existência. Para essa

pesquisa utilizou-se cunho descritivo para evidenciar detalhes da realidade, dentro do

contexto da música como recurso lúdico, possibilitando a análise sobre seu uso numa

perspectiva metodológica, para o alcance da finalidade que é o desenvolvimento

intelectual, corporal e social.

3.1 Tipo de Pesquisa

Diante do exposto, optou-se pela abordagem qualitativa, por envolver o contato direto

com o local, com a situação que está sendo investigada, a troca de informações e a

integração entre pesquisador e pesquisado, na busca do conhecimento e da reflexão,

pois segundo Bogdan e Biklen (1982, p. 110), “a pesquisa qualitativa supõe o contato

prolongado com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra,

através do trabalho intensivo de campo”.

Segundo Matos (1993), são impostas relativamente poucas limitações pelo

pesquisador, embora seja claro, algum tipo de modelo prévio básico seja em geral

usado como quadro de referência para a pesquisa.

Page 23: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

32

A pesquisa qualitativa preza o estudo do sujeito em sua individualidade, não pressupõe

uma uniformidade entre os sujeitos e/ou objetos pesquisados; mas, valoriza a

experiência pessoal e a significação dela para o sujeito. Afirma Borba (2004):

Ela depende da relação observador-observado e, como não é de se estranhar, surge na transição do século XIX para o século XX. A sua metodologia por excelência repousa sobre a interpretação e várias técnicas de análise de discurso (p. 12-13).

O sujeito quando pesquisado em sua individualidade, permite ao pesquisador identificar

melhor as informações através do envolvimento, das relações que são estabelecidas no

decorrer do processo de investigação. Ela atende melhor às necessidades deste projeto

além de estimular a interpretação e o entendimento sobre determinada questão.

Evidencia-se a necessidade de se realizar uma pesquisa que se preocupa com a

compreensão dos fatos sociais, levando em consideração os elementos que compõem

a situação investigada.sendo assim, buscou-se a abordagem qualitativa por ser a

melhor forma para encontrarmos as repostas que nos levarão a compreensão do

objetivo proposto: identificar e analisar as compreensões que os professores das séries

iniciais do Ensino Fundamental da escola Elysio Ferreira Barros da rede municipal de

Itiúba têm sobre a música nordestina na educação no contexto do semiárido brasileiro.

3.2 Lócus Para o desenvolvimento dessa pesquisa, teve como lócus da pesquisa a Escola Elysio

Ferreira Barros, localizada na rua Hamilton Pitanga SIN, Projeto Sertanejo na sede do

município de Itiúba-BA. A mesma foi escolhida por se tratar de uma escola pública da

rede municipal, por ter todo um aparato tecnológico que contribui na formação de

valores, permitindo que os alunos tenham contato, acesso ao mesmo e por o quadro

Page 24: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

33

docente desenvolver mini oficinas e projetos cujo foco é o semiárido nordestino e

utilizam a música nas aulas como meio de estabelecer socialização e entretenimento.

Tem espaço físico estruturado, com 12 compartimentos: 8 salas de aula, 1 cantina, 1

pátios e 2 banheiros. Possui corpo discente de 447, corpo docente 18; possui recursos

como: TV, computador, aparelho de som, armário. Oferece Educação Infantil I e II (1º

ano, 2º ano, 3º ano, 4º ano e 5º ano).

O lócus de pesquisa propicia ao pesquisador uma vivência que traz interações entre

pesquisador e sujeito, propiciando ao pesquisador uma abertura para investigar,

dialogar, para que consiga identificar e analisar as compreensões que os professores

das séries iniciais do Ensino Fundamental da escola Elysio Ferreira Barros da rede

municipal de Itiúba-BA têm sobre a música nordestina na educação no contexto do

semiárido.

3.3 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos participantes desta pesquisa foi constituída num universo de 06 professores

que atuam nas séries iniciais do Ensino FundamentaI. Do universo de 18 professores,

definiu-se uma amostra de 06 professores, para responderem ao questionário fechado

e entrevista aberta contribuindo para o desenvolvimento do trabalho.

Os sujeitos da pesquisa permitem ao pesquisador ter uma resposta mais aproximada

da realidade além de serem uma fonte de informações, pois através de ações e

discursos, é que o pesquisador terá respaldos para poder pesquisar. Trivinos (1987)

aborda: “Os sujeitos individualmente poderão ser submetidos a várias entrevistas, não

só com o intuito de obter o máximo de informações, mas também para avaliar as

variações das respostas em diferentes momentos (p.146)”.

Page 25: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

34

A contribuição dos professores para esta pesquisa é de suma importância por

informarem sobre a prática educativa de cada um e demonstrarem o comportamento,

as reações diversas durante as entrevistas, todo o envolvimento do pesquisador com os

sujeitos, pois utiliza-se os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade

necessários para análise e interpretação.

3.4 Instrumentos de Coleta de Dados

O referencial metodológico para esta pesquisa situou-se na abordagem qualitativa a fim

de obter informações que permitam desenvolver a análise e a compreensão sobre uma

nova forma de conceber a música nordestina na educação contextualizada no

semiárido. Mediante a proposta apresentada, foram feitos um questionário fechado e a

entrevista aberta às professoras do lócus escolhido;

3.5 Questionário

O questionário foi do tipo fechado, uma vez que, tal instrumento nos permite traçar o

perfil de cada sujeito pesquisado, buscando na coleta de dados do sujeito, elementos

que revelassem suas compreensões a cerca do tema indicado. Sendo um dos

principais instrumentos de trabalho utilizado no campo da pesquisa, afirma Gressler

(1989):

Questionário fechado é constituído por uma série de perguntas organizadas, com o objetivo de levantar dados para uma pesquisa, cujas respostas são formuladas pelo informante ou pesquisadas sem assistência direta ou orientação do investigador. Todas as questões do questionário são pré-elaboradas e as respostas são dadas por escrito

(p. 58).

Page 26: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

35

Ainda referindo-se ao mesmo autor, um questionário deve ser simples, direto e rápido

de responder, devendo assegurar aos utilizadores que os dados recolhidos serão

preservados e não serão cedidos a terceiros.

3.6 Entrevista

Por sua vez, a entrevista foi aberta, composta de questões pertinentes ao estudo

proposto possibilitou obter-se respostas que permitem avançar nas investigações.

Acredita-se também que este instrumento permitiu maior acesso às informações de

relevância à pesquisa. Como bem salienta Trivinos (1987 p. 146): “Devemos lembrar

que a entrevista é um dos recursos que emprega o pesquisador qualitativo num estudo

de um fenômeno social”. A entrevista foi concedida a uma amostra de seis professoras

da instituição pública escolhida, particularmente, propiciando um ambiente agradável

que as deixassem.

Page 27: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

36

CAPÍTULO IV

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

A análise e interpretação de dados foram possíveis através do questionário fechado

apoiado pela entrevista aberta, por acreditar ser um instrumento de coleta de dados

que melhor se adequou às inquietações, visto que, através desse tipo de pesquisa

pode-se participar e analisar a situação vivida pelos sujeitos envolvidos, dentro da

realidade, sem a necessidade de se envolver diretamente com a situação. Diante disso

recorre-se a Ludke e André (1986, p. 19), “o pesquisador procura revelar a

multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação ou problema,

focalizando-o como um todo”.

Os dados e informações foram coletados na escola Elísio Ferreira Barros, escola da

rede púbica municipal de Itiúba-BA, escolhida como lócus da pesquisa. Aqui serão

apresentadas as perguntas feitas e a síntese das respostas das educadoras, relatando

as considerações mais pertinentes.

4.1 PERFIL DOS SUJEITOS A PARTIR DOS DADOS DO QUESTIONÁRIO

FECHADO

4.1.1 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO FECHADO

Na figura abaixo está uma amostra dos dados referentes à escolaridade dos docentes

informantes:

Figura 1 – Formação das professoras:

Page 28: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

37

Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

A figura acima nos mostra que 50% das professoras informantes estão cursando o nível

superior (através da UNEB 2000), enquanto a outra metade, ou seja, 50%, concluíram o

magistério. Estes dados demonstram que parte das professoras está procurando

ampliar o seu conhecimento por meio de um curso de nível superior o que torna

importante para sua carreira profissional além de reconhecer que professor também

precisa de formação. Como diz Freire (1996):

A segurança com que a autoridade docente se move implica uma outra, a que se funda na sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta competência. O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe (p.91).

A formação na área docente contribuirá para sua valorização enquanto docente,

ampliará os conhecimentos pedagógicos, epistemológicos educacionais.

A próxima questão apresenta-nos a forma de inclusão no quadro docente de cada

professora:

Figura 2 – Inclusão no quadro docente

0%

50%50%

0%

SUPERIOR COMPLETO

SUPERIOR INCOMPLETO

MAGISTÉRIO

OUTROS CURSOS

Page 29: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

38

Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

Observa-se que o resultado da pergunta sobre a forma de inclusão no quadro docente

destinadas às professoras foi positivo, todas se apresentam como concursadas. O

resultado é importante pelas vantagens, pelos direitos e benefícios que são oferecidos

ao funcionário público mediante o concurso.

Na próxima questão procurou-se obter informações sobre o gênero, destacado assim

na figura abaixo:

Figura 3 – Quanto ao sexo

Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

100%

0%

CONCURSADA

CONTRATADA

100%

0%

FEMININO

MASCULINO

Page 30: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

39

Vale ressaltar a presença feminina com exclusividade atuantes na escola escolhida.

Como fato histórico sempre ocorreu no magistério. A carreira profissional nesta área

sempre foi representada pelo sexo feminino. Não por preferirem, mas por lhe darem

preferência, dos pais ou da sociedade com características machistas. O magistério era

uma das raras profissões que caberia às mulheres exercê-la.

Nesta próxima questão, trata-se da idade de cada uma, apresentada na figura abaixo:

Figura 4 – Faixa etária

Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

Nota-se que de uma amostra de seis professoras, 50% afirmaram ter entre 31 e 35

anos de idade e mais 50% das professoras confirmaram ter idade acima de 36 anos.

Foi como forma de traçar melhor o perfil de cada uma que foi elaborada as questões e,

não, com o intuito de medir a capacidade, maturidade de lidar com os educandos,

assim como denota Freire (1996): “Não importa com que faixa etária trabalhe o

educador ou a educadora. O nosso é um trabalho realizado com gente, miúda, jovem

ou adulta, mas gente em permanente processo de busca (p.144)”.

Sobre a habilitação na área foi questionada às professoras que contribuíram com suas

respostas:

0%

0%

50%50%

ANOS - 20-25

ANOS-26-30

ANOS-31-35

ACIMA DE 36

Page 31: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

40

Figura 5 – Habilidade na prática

Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

Na figura acima apresentada tem-se o resultado das seis professoras questionadas,

onde 83% afirmam ter habilidades na área referindo-se a capacidade de lidar com

situações cotidianas na sala de aula e apenas 17% tê-la em parte. Estes dados

implicarão na formação docente e conseqüentemente na formação do próprio

educando, pois não há avanço na educação nem tampouco desempenho do educando

sem o educador não ter habilitação na área. Ainda citando Freire (1996):

É nesta concepção do homem e da mulher como seres “programados, mas para aprender” e, portanto, para ensinar, para conhecer, para intervir, que me faz intervir, que me faz entender a prática educativa como exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e de educandos (p. 145).

Portanto, todo educador e educadora precisam ser conscientes de seu próprio papel,

buscando aprimorar mais a sua prática educativa. Para ser educador é preciso ter

capacidade e formação.

A sétima questão diz respeito à quantidade de anos que as professoras exercem

função, analisou-se os seguintes resultados:

83%

0%

17% SIM

NÃO

EM PARTE

Page 32: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

41

0%

0%

17%

83%

1 ANO

2 A 3 ANOS

4 A 5 ANOS

MAIS ANOS

67%

0%

0%

33%

CANTIGA DE RODA

FORRO TRADICIONAL

AXÉ

CANÇOES

Figura 6 – Tempos de serviço Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

Entre as professoras questionadas nesta amostragem, apresentam-se 17% tem entre 4

a 5 anos que ensinam e 83% com mais de cinco anos que atuam na área. Conclui-se

que o resultado denota experiência profissional adquirida pelas professoras a qual

torna-se importante para a prática educativa, facilitando compreender cada educando,

sua realidade.

Figura 7– Diversidade musical na prática docente

Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

Page 33: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

42

50%50%

0%

DIARIAMENTE

SEMANALMENTE

ÀS VEZES

O resultado desta questão sobre a diversidade musical na sala de aula teve como

resposta, 67% dão preferência a cantigas de roda estilo também integrante da cultura

nordestina, mas quanto ao uso do forró nordestino tradicional que em sua maioria

evidencia na letra a realidade do semiárido, ficou evidente que não é levado em conta.

Sabendo que a música nordestina vai contribuir no reconhecimento que o educando

precisa ter sobre seu espaço natural bem como aprender a conviver com ele. Ainda

33% revelaram trabalhar com canções.

Por conseguinte, procurou-se saber sobre a freqüência da atividade musical praticada

em sala de aula, apresentando a seguir o resultado:

Figura 8 – Freqüência da atividade musical Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

Percebe-se que as professoras utilizam a música com frequência diariamente e

semanalmente na sala de aula, isto é valorizam –na como um instrumento que contribui

em muitos aspectos cognitivos psicológicos dos educandos. Vale ressaltar que esta

informação não diz respeito ao uso da música nordestina e, sim, aos estilos musicais

usados com mais freqüência, resultado já apresentado no gráfico anterior. É importante

refletir sobre a música nordestina no contexto na educação do semiárido, sobretudo na

formação dos educandos habitantes da região semiárida e implicará no reconhecimento

Page 34: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

43

50%50%

SIM NÃO

de seu lugar, na possibilidade de contribuir para a melhoria da região seca na sua

realidade sócioambiental.

A próxima questão referiu-se à formação continuada das profissionais. Obteve-se o

seguinte resultado:

Figura 9– Formação paralela à prática Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

Percebe-se na figura que 50% dos professores participam de cursos de capacitação a

exemplo de pró-letramento, jornadas pedagógicas, oficinas que enfatizam o uso da

música nordestina, enquanto que 50% declara resposta negativa. O profissional da

educação consiste em ampliar o conhecimento, buscando-se na formação continuada.

... a formação continuada de professores deve visar o desenvolvimento das potencialidades profissionais de cada um, a que não é alheio o desenvolvimento de si próprio como pessoa. Ocorrendo na continuidade da formação inicial, deve desenrolar-se em estreita ligação com o desempenho da prática pedagógica (ALARCÃO 1992, P. 106).

Por fim, foi questionado a respeito de uma prática educativa por meio da educação

contextualizada. Os resultados foram:

Page 35: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

44

100%

0%

SIM NÃO

Figura 11 – Prática na perspectiva da educação contextualizada

Fonte: Questionário fechado aplicado às entrevistadas.

As respostas foram unânimes por cada professora ao afirmar ter a prática educativa na

perspectiva de uma educação contextualizada, ou seja, todas admitem trabalhar tendo

uma nova visão sobre a educação contextualizada reconhecendo sua importância. Isso

conta bastante para uma possível transformação na realidade educacional da região

por apresentar um currículo ainda distorcido deste universo que não leva em conta os

saberes já então construídos por os educandos. Por essa razão, fica claro que:

O papel do educador, dessa forma, não seria apenas de ficar passando informações, mas de provocar no outro a abertura para aprendizagem e de colocar meios que possibilitem e direcionem esta aprendizagem. A provocação para aprendizagem tem a ver com a sensibilidade para com as pessoas a quem se dirige, com o significado que aquilo tem para ele, bem como a correlação que tem com a existência (VASCONCELOS, 2000, p.61).

A partir desses levantamentos, cabe refletir sobre o papel do educador na construção

de uma nova proposta de educação para a convivência no semiárido, partindo das

compreensões que os mesmos têm sobre a música nordestina na educação no

contexto desse espaço.

Page 36: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

45

4.1.2 ANÁLISE DA ENTREVISTA ABERTA No sentido de identificar e analisar as compreensões que as professoras da Educação

Infantil da escola Elysio Ferreira Barros do município de Itiúba-BA têm sobre a música

nordestina na educação no contexto do semiárido, conseguiu-se através da coleta de

dados elementos que contribuíram para sistematizar a análise proposta, uma vez que, o

objetivo é encontrar respostas para tais inquietações. Observa-se que no decorrer da

apresentação dos resultados utiliza-se a palavra P1 para professora nº 1; P2 para

professora nº 2 e, assim, sucessivamente.

A entrevista aberta deu-se com as professoras convidadas de forma espontânea. As

perguntas dirigidas às mesmas seguem a ordem e para cada pergunta obtém-se mais

de uma resposta.

4.1.2.1 A música nordestina na sala de aula

Ao serem questionadas foi percebido na resposta de algumas professoras que

costumam trabalhar com música na sala de aula, porém a música nordestina,

raramente. Constata-se contradição com a resposta obtida no questionário fechado.

Veja algumas respostas:

P.1 De toda uma vida eu trabalho com música na escola, agora, voltada para o conteúdo faz três anos. É tanto que nas aulas de Geografia, quando eu esquecia, eles: a professora, a música, vamos cantar? Trabalho detalhadamente a letra da música voltada para o semiárido.

P.2 Eu costumo trabalhar músicas infantis, tem aquelas de Luiz Gonzaga que pouco trabalho, mas eu sinto que cantar é muito importante, ajudar na aprendizagem eles aprendem a ler cantando. Sempre a gente canta o Hino Nacional a gente sempre trabalhou eles gostam mesmo. E aí eles desenvolvem mesmo a leitura assim.

P.3 Não. Nós incluímos num projeto que fizemos com a água nas atividades, na festinha. Trabalhamos com outros estilos musicais. Percebo que eles

Page 37: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

46

gostam, aprendem escrevemos a letra num papel madeira, ler com eles, trabalho parte a parte com eles, trabalho oralmente incluindo nos conteúdos.

P.5 Desde quando iniciei meu trabalho com Educação Infantil, a Música Nordestina nunca foi totalmente trabalhada a mais trabalhada a que fala mais sobre o sertão de Luiz Gonzaga sobre a questão do meio ambiente foi bom demais. Sobre questões sociais Cidadão. Muito por serem alunos da Educação Infantil ainda não tem aquele conhecimento prévio,

mas curtiram, participaram mais.

A fala da P6 chamou atenção por não destacar nenhuma vantagem ou efeito da música

nordestina nos educandos ou mesmo na sala de aula. Veja:

P.6

Não tenho muito tempo. De acordo com o tempo. Desculpe.

Com essa realidade, falta refletir e repensar um pouco mais sobre o tema escolhido

para este trabalho, sua contribuição na formação do educando, pois o mesmo precisa

sentir-se inserido no real contexto em que vive através principalmente da expressão do

professor, ou seja, da sua prática pedagógica. É preciso que este também esteja

consciente disso. Percebe-se que a música em seu estilo nordestino não é envolvida o

bastante na prática em sala de aula das professoras. É o que acontece em muitos

espaços educacionais inclusive nordestinos onde deveria abarcar tal método.

Ainda que esses procedimentos venham sendo repensados, muitas instituições encontram dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional. Constata-se uma defasagem entre o trabalho realizado na área da música e nas demais áreas do conhecimento, evidenciada pela realização de atividades voltadas à criação e à elaboração musical. Nesses contextos,a música é tratada como se fosse um produto pronto, que se aprende a reproduzir, e não uma linguagem cujo conhecimento constrói ( BRASIL,1998, p. 47).

Page 38: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

47

Com relação às outras respostas obtidas, percebe-se que a maioria das professoras

reconhece a importância da música nordestina ao ser trabalhada na sala de aula, mas

não fazem o uso com freqüência.

4.1.2.2 Importância da música nordestina na prática pedagógica

Essa resposta foi condizente por as educadoras valorizarem a música nordestina como

integrante da cultura do semiárido brasileiro. Assim sendo, torna-se necessária na

prática também. Ao serem indagadas, as professoras se posicionaram da seguinte

forma:

P.1 Eu acho a questão do interesse do aluno ele se interessa mais, a forma de interpretar também entender o próprio conteúdo. Sempre mais na aula e para iniciar em cada disciplina. É importante por isso. Eu acho que o aluno aprende a interpretar, a entender melhor o assunto, o conteúdo. Vai influenciar no relacionamento com as pessoas...

P.2 A letra vai contribuir para que ele possa... Até para o dia-a-dia dele. Quem sabe, vai que ele fale com o pai que o Nordeste é a nossa realidade, meu pai vivenciava isto, ta na letra, minha família.

P.3 É de muita importância. Também acho, não há dúvidas. O lado afetivo em tudo por tudo. A interação deles mesmos. Não utilizo a música só nas datas comemorativas, também diariamente. Em parlendas. É o que a gente vem trabalhando mais assim.

P.6 Conscientização, valorização. Muito aprender a diferenciar a Música Nordestina dos outros tipos de música.

As respostas foram unânimes e ficou claro o significado da música nordestina na prática

pedagógica que cada entrevistada reconhece. Ao ser trabalhada em sala de aula,

correspondida pelo aluno, sem dúvida refletirá na prática do educador. Esta é uma

reflexão necessária sobre o estilo musical e sua contribuição na aprendizagem, no

Page 39: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

48

desempenho e gosto musical bem como a influência no relacionamento entre os

educandos. Nas respostas das educadoras denotaram esta realidade. Este

reconhecimento abre espaço para se repensar o uso da música no seu estilo

nordestino, vinculada a educação contextualizada uma vez que ambas tratam sobre a

realidade de um povo que tem muitas experiências de viver numa região seca, porém

rica de cultura. Portanto deve-se compreender que a educação contextualizada para a

convivência com o semiárido não pode ser um espaço de aprisionamento do saber (...),

mas como aquela que se constrói no cruzamento cultura-escola-sociedade (REIS 2004,

p.13).

4.1.2.3 Importância da Música Nordestina na formação do educando Outro elemento indagado as professoras referindo a importância da música nordestina

na formação do educando comentado por elas:

P.1

Eu acho que assim melhora muito, a questão do aluno pra entender pra interpretar mesmo. Meus alunos mesmos têm facilidade de expressão, eles vem para frente aprendem a fazer seminário porque eles tinham dificuldade, vergonha e, através da música também.

P.2 Eu costumo trabalhar músicas infantis, tem aquelas de Luiz Gonzaga que pouco trabalho, mas eu sinto que cantar é muito importante, ajudar na aprendizagem eles aprendem a ler cantando. Sempre a gente canta o Hino Nacional a gente sempre trabalhou eles gostam mesmo. E aí eles desenvolvem mesmo a leitura assim.

P.3 A música é muito é importante porque ajuda na assimilação do conteúdo eles assimilam com mais facilidade o conteúdo quando é trabalhado com música aquela aula seca quando é com a música eles gostam mais. Na aprendizagem, com ser social também ajuda o relacionamento com as pessoas.Compreendo com certeza.

P.4 A música é muito é importante porque ajuda na assimilação do conteúdo eles assimilam com mais facilidade o conteúdo quando é trabalhado com música aquela aula seca quando é com a música eles gostam

Page 40: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

49

mais.Na aprendizagem, com ser social também ajuda o relacionamento com as pessoas.Compreendo com certeza.

P.6

Com certeza, melhora a relação com as pessoas.

Compreende-se que as educadoras dão valor total à música nordestina na educação, a

facilidade na assimilação dos conteúdos dentre outros aspectos. Sem dúvida, a

intervenção educativa precisa apoiar-se no conhecimento teórico e prático, oferecido

em parte pelas disciplinas e pela proposta da contextualização. É considerado na

escola que os processos de ensino-aprendizagem são o centro da investigação e da

prática didática e isto torna este mesmo processo mais fluente para o conhecimento.

Portanto verifica-se a importancia da música n como facilitadora da socialização e da

motivação nas aulas. Rosa (s/d), diz:

Sabemos que o educador consciente apresenta aos alunos as mais variadas situações de aprendizagem, e entre elas as que envolvem a linguagem musical. É importante lembrar que a atividade com linguagem musical não é uma simples oportunidade para o professor fazer recreação. Em muitas circunstâncias bem planejadas, ela é uma forma de representação de vida da criança. Nessas condições, pode-se dizer que a música contribui sistemática e significantemente com o processo integral do desenvolvimento do ser humano (p.20).

No ensino-aprendizagem, a música, assim como diversas atividades lúdicas, deve

ajudar a construir uma práxis emancipadora e íntegra, ao se tornar um instrumento de

aprendizagem que favorece a aquisição do conhecimento em perspectivas e dimensões

que perpassam o desenvolvimento do educando.

4.1.2.4 Costuma trabalhar o contexto dos alunos

Outro elemento importante indagado às professoras refere-se ao costume de trabalhar

o contexto do aluno, assim definido por elas:

Page 41: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

50

P.1: Eu trabalho com a realidade e agora nesta unidade foi toda voltada para nossa realidade, a questão do semiárido, a seca, a oficina que nós fizemos aqui, foi toda voltada para o semiárido. P.2 Eu estou aprendendo a trabalhar com o contexto deles e estou aprendendo a gostar agora por causa do curso da UNEB2000 e já estou trazendo para sala de aula. Funciona como tema gerador porque ta trabalhando todas as disciplinas. P.3 É o que a gente vem trabalhando mais assim. Tem 2 anos e pouco que fazemos a UNEB2000 e até a gente vê que é totalmente diferente, a gente trabalha aquela coisa medíocre: Português é só Português, Matemática é só Matemática e hoje tem mais é que está sempre contextualizada no global, trabalhar na área, nas disciplinas com eles cobram tanto. E a gente vê a partir que a gente passou a ter essa nova visão, o negócio flui e flui de uma maneira bem satisfatória para eles. Trabalha com a contextualização é muito bom. P.4 A música é muito é importante porque ajuda na assimilação do conteúdo eles assimilam com mais facilidade o conteúdo quando é trabalhado com música aquela aula seca quando é com a música eles gostam mais.Na aprendizagem, com ser social também ajuda o relacionamento com as pessoas. Compreendo com certeza. P.5 Eu focalizo a Música Nordestina porque eles são nordestinos, nosso contexto é o semiárido seria interessante.(...) na faculdade tem uma colega que fala muito em contextualização. Você trabalhar a realidade do aluno. Com é que eu posso falar de São Paulo para meu aluno que nunca saiu daqui? Então a gente deve trabalhar a realidade deles, o nosso município.

Dessa forma percebe-se que as professoras atentam-se ao fato de que trabalhar o

contexto do educando produzirá resultados significativos, uma vez que, permite-o

sentir-se protagonista da sua própria história construindo seu conhecimento a partir das

suas vivências, desfazendo com o paradigma da educação homogeneizadora.

Uma proposta de educação contextualizada que assume o compromisso de ser crítica e transformadora, construída de forma democrática e participativa, precisa trabalhar com novos instrumentos pedagógicos que favoreçam a problematização da realidade e a inquietude dos sujeitos

Page 42: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

51

sociais, possibilitando que as pessoas envolvidas com as práticas educativas possam tomar novas atitudes enquanto protagonistas na luta pela construção de novos sonhos para a região (LIMA 2007, p.27).

4.1.2.5 Educação contextualizada

Eis outra questão que merece destaque no que se refere ao conceito de educação

contextualizada.

P.2 Eu estou aprendendo a trabalhar com o contexto deles e estou aprendendo a gostar agora por causa da UNEB e já estou trazendo para sala de aula. Funciona como tema gerador porque ta trabalhando todas as disciplinas. P.3 Tem 2 anos e pouco que fazemos a UNEB e até a gente vê que é totalmente diferente, a gente trabalha aquela coisa medíocre: Português é só Português, Matemática é só Matemática e hoje tem mais é que está sempre contextualizada no global, trabalhar na área, nas disciplinas com eles cobram tanto. E a gente vê a partir que a gente passou a ter essa nova visão, o negócio flui e flui de uma maneira bem satisfatória para eles. Trabalha com a contextualização é muito bom. P.4 Eu comento focalizo a música nordestina porque eles são nordestinos, nosso contexto é o semiárido seria interessante.(...) na faculdade tem uma colega que fala muito em contextualização. Você trabalhar a realidade do aluno. Com é que eu posso falar de São Paulo para meu aluno que nunca saiu daqui? Então a gente deve trabalhar a realidade deles, o nosso município. P.5 É aquela questão de você estar trabalhando abrangendo todos s níveis educacionais pegando todo o extremo, por exemplo: quando você fala de contextualizar está unindo o útil ao agradável porque você não está só passando Matemática, Português, você está unindo todas ao mesmo tempo e você vai ter um objetivo. Eu gosto de trabalhar com música.

É interessante ressaltar neste bloco de questões a resposta da professora P6 que

distorce as compreensões construídas pelas outras professoras. observe:

Page 43: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

52

P.6 Levar vários tipos de texto que tenham significados para eles gostarem e eu também.

A partir de tais explanações essas professoras em parte demonstraram um certo

entendimento acerca do contexto proposto, evidenciando os elementos que configuram

a essência da educação contextualizada. Para tanto, sistematizar tal educação, faz-se

necessário partir da vivência real do educando respeitando o contexto sócio cultural do

mesmo. Assim como afirma Lins, et al (1996):

[...] se vê na proposta a educação contextualizada, a importância do menino, da menina estudarem conteúdo que tenham sentido, significado, onde eles e elas tenham possibilidade de si viver; que produzam uma reflexão sobre a localidade onde vivem com perspectivas de intervenção e mudança (p.121).

Nota –se também que as professoras P2 e P3 declararam tomar conhecimento após o

curso UNEB 2000¹. Enquanto que a professora P4 afirma já trabalhar na perspectiva da

educação contextualizada há mais tempo.

4.1.2.6 Você acha que a escola precisa repensar a sua posição sobre a educação que

ela vem repassando aos discentes? Em quais aspectos?

P1 Eu acho que precisa de modo geral. Ela continua fechada, não oferece oportunidade. A questão mesmo de uma aula de Geografia mesmo porque não da uma aula de campo, para o aluno entender melhor. P2 Eu acho que precisa. Ta bom, mas precisa melhorar. Até mesmo um projeto a secretaria organiza um projeto para a gente esperar o aluno para o ano que vem. Como é que a gente vai preparar um projeto para esperar um aluno que a gente nem sabe da realidade, não conhece a realidade do aluno fica difícil a gente já preparar sem ver o aluno.

Page 44: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

53

P3 Precisa e em vários aspectos. Um exemplo claro e objetivo é a quantidade de alunos que nós temos, alunos com problemas mentais eu não tenho formação não estou preparada para trabalhar com este tipo de aluno. P4 Precisa repensar. Mas na escola em que trabalho a coordenadora é muito empenhada e responsável e ela procura trabalhar, ela nos ajuda muito nessa parte. Precisa melhorar na questão da família na escola é a parte mais difícil de participação. A família junto à escola é que funciona. Mas ajuda muito. P5 Sim. Uma política educacional forte mesmo.Tem que repensar mesmo. Essa questão da valorização cultural como está perdendo seria bom para a secretaria de Educação está repassando porque a gente sente a necessidade, a escola de se trabalhar esse conteúdo por exemplo (na UNEB ) porque descobre coisas.

Foi percebido que, nas falas das professoras, a escola necessita de mudança no que

diz respeito à proposta pedagógica, sua postura frente aos educandos. Constatou-se

claramente um olhar crítico por parte das professoras a respeito do comportamento, da

atitude da escola frente aos problemas existentes no cotidiano escolar. Faz-se

necessário enxergar os educandos mais de perto, respeitando sua identidade, seu

lugar de origem, a família e sua participação e, por fim, o reconhecimento do educando

como um sujeito cultural. Mas para que haja tal mudança é preciso buscar apoio de

toda comunidade escolar e órgãos públicos.

Page 45: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

54

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desta pesquisa monográfica trouxe uma nova visão a respeito da

educação presente na vida da criança, sobretudo daquela que habita a região

nordestina. Foi uma oportunidade significativa, por ter possibilitado compreender melhor

a importância da música nordestina inserida na educação, os valores contidos em

muitas composições musicais de artistas consagrados da cultura deste mesmo lugar

que contemplam com orgulho sua origem e não a menosprezam.

Esta pesquisa procurou investigar as compreensões que as professoras têm sobre a

música nordestina na educação no contexto do semiárido brasileiro. Uma vez que a

proposta pedagógica construída na escola não leva em consideração os valores

construídos pelas educandas e educandos, não tomam como ponto de partida o seu

próprio espaço sobre o qual vive. O que se identifica é que a escola continua passando

conhecimentos que não condizem com a realidade do aluno, sua identidade, seu lugar,

com a relação sócioambiental. Pelo contrário, as dificuldades encontradas pelos

professores que atuam nas escolas do campo são muitas: salas de aula inadequadas,

turmas multisseriadas, alunos que chegam com problemas sociais interferem na

aprendizagem, falta de capacitação docente, dentre outras. Esta é uma

responsabilidade que não cabe apenas ao professor, também às gestores do poder

público. Em parceria torna-se mais fácil desenvolver projetos que auxiliem no alcance

de índices mais elevados da qualidade educacional.

E a música nordestina especificando o estilo forró tradicional e autêntico, é uma das

alternativas de mudança. Faz refletir sobre essa nova postura, pois traz em suas belas

canções letras que retratam toda realidade de um povo que convive com o sofrimento

da seca, do sol quente, da chuva escassa, do menosprezo e da desvalorização por

Page 46: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

55

parte de representantes políticos, da mídia e de outros que se dizem compadecidos

com tal situação e nada solucionam.

A intenção foi trazer a discussão de uma proposta voltada para a música nordestina

trabalhada na sala de aula em consonância com a proposta da educação

contextualizada que favoreça o diálogo permanente entre o que se aprende em casa,

com o mundo em que vive, a escola e a possibilidade de transformação, apontando

várias maneiras de se conviver com a seca principalmente, a que mais atinge as

pessoas tanto interior como exteriormente. Para isso buscou embasar-se em idéias e

estudos defendidos por vários teóricos, percebido em diversas passagens desse

trabalho.

Mediante o referencial metodológico – o questionário fechado e a entrevista aberta,

utilizados nesta pesquisa, constatou-se que as professoras reconhecem a importância

de trabalhar a música nordestina no cotidiano escolar através de oficinas, seminários ou

até mesmo na sala de aula com a execução de projetos de forma interdisciplinar e

revelaram trabalhar embora a práxis ainda se dê de forma superficial e com raridade.

Acreditamos que ainda se faz necessário investigar mais sobre as compreensões que

as professoras têm sobre a música nordestina no contexto no semiárido brasileiro,

analisar que práticas pedagógicas vêm sendo desenvolvidas, trazendo contribuições

para elaboração de práticas educacionais que favoreçam os interesses da comunidade

a que destina, principalmente à formação do educando. Na perspectiva de que, para

alcançar uma educação de qualidade precisa-se primeiramente de educadores aptos a

desenvolver seu papel de forma atuante, sobretudo, contribuir para a aprendizagem do

educando em seus múltiplos aspectos; que compreenda a importância de sua função

no processo de mudança de paradigma e construção de uma escola genuinamente

democrática, voltada para os anseios da comunidade como um todo, partindo do

princípio de que se faz educação com outro e para outro, e, para isso é indispensável

se pensar em políticas educacionais que brotam das reais necessidades dos sujeitos

envolvidos no processo educacional.

Page 47: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

56

Que esta seja uma pesquisa reflexiva, podendo atender os anseios de uma nova práxis.

REFERÊNCIAS ABREU, Maria C. & MASSETO, M. T. O professor universitário em aula. São Paulo: MG Editores Associados, 1990. ALARCÃO, I. Formação como instrumento de profissionalização docente. In: Veiga, I. P.A. (org). caminhos da profissionalização do Magistério – Campinas: Papirus, 1998. AZEVEDO, Fernando de. O Sentido da Educação Colonial. In: A Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1943. p. 289-320. BOGDAN, R. e BIKLEN, S. K.: in LUDKE, M. e André, M. E. D. A Pesquisa em Educação: Abordagem qualitativa, São Paulo, EPU, 1982. BORBA, M. C. A. Pesquisa qualitativa em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, pp. 12-13. BRAGA, Osmar Rufino. Educação no contexto do Semiárido. Fortaleza: Fundação Konrad Adenaur, 2004. BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF 1997 b, 164p. (Ed/com: DP & A editora 2000). BURKE, P. Uma História social do conhecimento: de Gutemberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. CALDAS, Waldenyr. Iniciação à Música Popular Brasileira. Editora Ática, 1985, São Paulo-SP.

Page 48: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

57

CASCUDO Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Ediouro, Rio de Janeiro, 10ª ed., 1998 (ISBN 85-00-80007-0).

CUNHA, V. M. A. Didática fundamentada na teoria de Piaget. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1986. DEHEINZELIN, Monique. Uma proposta curricular de educação infantil; a fome com a vontade de comer – Salvador: Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia, 1993. DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Por que arte-educação? 8ª edição. Campinas, SP: Papirus, 1996. FARIA, Márcia Nunes. A música fator importante na aprendizagem. Assis chateaubriand- Pr, 2001. 40f. Monografia (especialização em Pedagogia) Centro Técnico – Educação Superior do Oeste Paranaense. CTESOP/CAEDRHS. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz eTerra, 1996. ------------------- Pedagogia do Oprimido. 17 Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987 GAINZA, V. Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Summus, 1998. GRESSLER, L. A. Pesquisa educacional: importância, modelo, validade, vaiáveis, hipóteses, amostragem, instrumentos. São Paulo: Loyola, 1979. JACINTO, S. Puxe o fole Zé. In: PESSOA, S. Bate o mancá: o povo dos canaviais. [S.I].

natasha Recordes, 2001.

JAPIASSU, H. & Marcondes, D. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1990.

Page 49: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

58

KANDINSKY, Wassily. Do Espiritual na Arte.São Paulo:Ed. Martins Fontes, 1996. LÊNIN, W. Cahiers Philosophiques. Paris: Sociales, 1995. LIMA, Elmo Souza. Educação no Semiárido: Reconstruindo Saberes e Tecendo Sonhos. In: RESAB – Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (org). Educação e Convivência no Campo... analisando saídas e propondo direções. Caderno Multidisciplinar – Educação no Contexto do Semiárido Brasileiro: Ano 01 – nº 02 – Dezembro – Periodicidade: Semestral, Juazeiro- BA: selo editorial RESAB, 2006. LINS, Claudia Maísa; Souza, Edineuza Ferreira e PEREIRA Vanderléa Andrade.Educação para a Convivência com o Semiárido: Reflexões teórico-práticas. 2ª ed. Juazeiro, Selo Editorial Resab, 2006. LUDKE e ANDRÉ, M.E.A. Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas. São Paulo, EPU, 1986. MATOS, Beatriz Helena. Educação no Contexto do Semiárido. Fortaleza: Fundação Konrad Adenaur, 2004. MARTINS, Joselma da Silva. Educação no Contexto do Semiárido. Fortaleza: Fundação Konrad Adenaur, 2004. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeane Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 10ª Ed.São Paulo: Cortez. Brasília- DF: UNESCO, 2005. PIAGET,J. T., BRAGA, 1. Para onde vai a educação. Rio de Janeiro: José Olímpio; 1998. REIS, Emerson dos Santos. Educação do campo e desenvolvimento rural sustentável: avaliação de uma prática educativa. Juazeiro – BA. Gráfica e Editora Franciscana, 2004. ROCHA, J. M. T. Forróeletrônico, forró universitário. In: FESTIVAL DO FOLCLORE, 40, Olímpia, 2004. ROSA, Nereide Schilaro Santa. Educação Musical para 1ª a 4ª séries. Editora Ática.

Page 50: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

59

SACRISTAN, J. Gimeno e GOMES, A.I. Peres. Compreender e transformar o ensino. 4ª Ed. Artmed, 1998. SANTOS, Santa Marli Pires dos. A Ludicidade como Ciências. (Org) – Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. O Lúdico na formação do educador. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. SILVA, L. M. G. A expressão musical para crianças de pré-escola. Revista Idéias. n.10, p. 88-96, São Paulo, p. 92-93. TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em Educação. São Paulo: Atlas, 1987. VASCONCELOS, Celso dos S. Planejamento: projeto político pedagógico. Elementos metodológicos para a elaboração e realização. São Paulo, 2000. WHITE, Ellen G. Evangelismo. 3 ed. Tatuí, SP: CPB, 1997.

Page 51: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

60

Universidade do Estado da Bahia – UNEB Departamento de Educação – CAMPUS VII Senhor do Bonfim - BA

Trabalho de Conclusão de Curso Nubeane Mara do nascimento

APÊNDICE 1

QUESTIONÁRIO FECHADO Escola: ----------------------------------------------------------------------------------------------------

Série que atua: -------------------------------------------------------------------------------------------

Grau de escolaridade:

( ) médio ( ) superior ( ) superior incompleto

Você é concursado (a) ou contratado (a)?

( ) concursado (a) ( )contratado (a)

Sexo: ( ) feminino ( ) masculino

Faixa etária:

( ) 20- 25 anos ( ) 26-30 anos ( ) 31-35 anos ( ) acima de 36 anos

Você é habilitado na área em que atua?

( ) sim ( ) não ( ) em parte

Page 52: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

61

Há quanto tempo leciona?

( ) 1 ano ( ) 2 a 3 anos ( ) 4 a 5 anos ( ) mais

Diversidade musical: estilos de músicas trabalhados na escola:

( ) cantigas de roda ( ) forró tradicional ( ) axé ( ) canções

Com que freqüência a atividade musical é praticada em sua sala de aula?

( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) às vezes

Já participou de algum curso de capacitação, com jornadas pedagógicas, oficinas em

que enfatizem o uso da música nordestina na educação?

( ) sim ( ) não

Você trabalha na perspectiva da educação contextualizada?

( ) sim ( ) não

Page 53: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

62

Universidade do Estado da Bahia – UNEB Departamento de Educação – CAMPUS VII Senhor do Bonfim - BA

Trabalho de Conclusão de Curso Nubeane Mara do nascimento

APÊNDICE 2

ENTREVISTA ABERTA 1. O que você entende por educação contextualizada?

2. Você trabalha musica nordestina em suas aulas? De que forma?

3. Em sua opinião, qual é a importância da música nordestina na formação do

educando?

4. Qual a importância da música nordestina em suas práticas pedagógicas?

5. Que ponto a música Nordestina pode influenciar no desenvolvimento cognitivo da

criança do semi-árido?

6. Você acha que a escola precisa repensar a sua prática sobre a educação que ela

vem repassando aos discentes? Em quais aspectos?

Page 54: Monografia Nubeane Pedagogia 2010

63